Olá.
Em
celebração à Semana do Quadrinho Brasileiro (neste dia 30 de janeiro é o Dia do
Quadrinho Nacional), eu costumo fazer alguma programação especial. Nessa
ocasião, eu costumo postar alguma coisa relacionada à História dos Quadrinhos,
tal como a atualização dos meus dois trabalhos, a História das Histórias em Quadrinhos (link para a parte 1) e a História dos Quadrinhos no Brasil (link para a parte 1), ou como quando postei a série
“Os 25 Maiores Momentos das Histórias em Quadrinhos Brasileiras” (link para a parte 1). Mas, para
este ano, não consegui programar nada especial. A minha cronologia das HQ do
Brasil e do Mundo necessita, percebo, de atualização, mas fica para outra
ocasião, pois tenho outras coisas em mente.
Para
esta semana, programei de postar sobre revistas de HQ, ou melhor, de algumas
publicações teóricas sobre HQ. Estas revistas falam sobre Histórias em
Quadrinhos, mas são informativas, servem como fonte teórica para quem quiser se
aventurar na teoria das HQ. Para se tornar um verdadeiro fã de HQ, é preciso
conhecer a arte, é preciso conhecer o trabalho de quem faz HQ, é preciso
conhecer a História das HQ, se inteirar do universo, escolher quais são seus
autores favoritos, não se deixar influenciar pelos preconceitos de algumas
pessoas que pregam o ódio por um determinado gênero de HQ. Acreditem, dá para
encontrar muita gente assim – principalmente fãs de HQ brasileira que pregam o
ódio pelas HQ estrangeiras. Mas falo disso outra hora.
Well. Publicações teóricas já representam um bom começo para se inteirar nesse mundo. Como os livros são caros e um pouco difíceis de encontrar, temos as revistas especiais lançadas em bancas, mais acessíveis tanto em preço quanto em linguagem. E vou trazer alguns exemplos do que já nos foi oferecido, nas bancas, de publicações teóricas. São todas edições já esgotadas, mas não é difícil encontrá-las.
Vou
começar, hoje, falando de uma das mais completas publicações sobre HQ em sua
época: a revista KABOOM!.
KABOOM!
– O UNIVERSO DAS HQ foi lançado por volta de 2005 pela editora Eclipse, sob o
selo Eclipse Quadrinhos. Um único número lançado, e que com certeza serviu de
primeira fonte teórica para muitos especialistas iniciantes de HQ – a geração
que está sucedendo a “velha turma” – Moacy Cirne, Álvaro de Moya, Sônia Bibe
Luyten, e outros. Entre esses especialistas amadores, este que escreve está
incluído.
A
KABOOM! hoje já está desatualizada. No contexto de sua época, o cinema recém
havia descoberto o potencial do universo das HQ, ainda não existia o crowdfunding para ajudar autores de HQ a
lançar suas obras, os quadrinhos brasileiros viviam uma de suas maiores crises
– muitos autores esperançosos, mas pouco espaço para encaixar seus trabalhos – o
mangá era a grande preferência dos leitores, mais até do que os já tradicionais
comics estadunidenses, e a editora Opera Graphica, a mais importante casa
publicadora de HQs clássicas, ainda existia. A Panini ainda não tinha a plena
confiança de seus leitores – ela interrompia alguns dos mangás que publicava –
e ainda não tinha comprado os direitos de publicação do portfólio dos Estúdios
Maurício de Sousa – quem publicava os quadrinhos da Turma da Mônica era a
Editora Globo. As editoras HQM (que hoje publica The Walking Dead e os quadrinhos da Valiant) e Pixel Media (que
mantém Luluzinha e Recruta Zero) ainda não haviam iniciado
suas atividades, e a Mythos, além das HQ da Bonelli Comics, publicava a revista
MAD, hoje publicada pela Panini – e esta ainda era editada pelo Ota!
Com
muitas ilustrações e letras pequenas, que era para caber bastante texto, a
revista, escrita por uma equipe de colaboradores, entre os quais se incluíam
Álvaro de Moya, Sérgio Codespoti, editor do site Universo HQ, e Henrique
Magalhães, a KABOOM! fez um apanhado histórico e geral de diversos gêneros de
HQ conhecidos. Cada tópico tem uma cor diferente de página – e são 52 páginas.
Além de, aproveitando o ensejo, fazer considerações sobre o mercado de HQ de
então. Nem todos os artigos foram assinados.
O
primeiro capítulo, O Início das HQ, fala
sobre as origens da arte, os primeiros quadrinhos de sucesso, de Yellow Kid até Capitão América, englobando Sobrinhos
do Capitão, Pafúncio e Marocas, Mickey Mouse, Tintin, Spirit, entre outros
– e falando também dos gêneros de tiras existentes (animal strip, Family strip, kids strip, etc.). O segundo capítulo, Surgem
os Super-Heróis, conta como nasceram as maiores editoras de HQ dos EUA, a
DC Comics e a Marvel Comics, quais foram os efeitos provocados pelo surgimento
do Superman em 1938, os muitos
superseres e editoras (posteriormente compradas pelas grandes) que apareceram,
os efeitos provocados pelo livro-denúncia A
Sedução do Inocente (1953) de
Fredric Wertham e a virada de jogo a partir das ações da Marvel Comics nos anos
60. No terceiro capítulo, Nem Só de Olhos
Grandes é Feito o Mangá, algumas considerações sobre os quadrinhos feitos
no Japão e na Coreia do Sul, os gêneros de mangá (shounen, shoujo, gekigá...) e alguns exemplos disponíveis das HQ
“de olhos grandes”. A Boa Nova dos
Fanzines é um pequeno tratado sobre as revistas artesanais de HQ, que
ajudaram (e ajudam) a revelar novos talentos. Sergio Bonelli Editore fala sobre a mais importante casa
publicadora das HQ italianas (fumetti), responsável
por obras como Tex, Ken Parker, Dylan
Dog, Martin Mystère e muitos outros – uma opção alternativa muito boa para
os comics e os mangás. Os Quadrinhos na
Europa vem a seguir, falando brevemente sobre o que de mais importante foi
produzido no continente que mais trata bem a nona arte, do final do século XIX até hoje. Sexo em Quadrinhos relata sobre as HQ eróticas, e a relação entre
erotismo e quadrinhos, desde os anos 30. Terror
nos Bastidores fala sobre HQ de terror – mas se concentra em como as
denúncias de Wertham, que minaram as HQ de terror norte-americanas,
beneficiaram os quadrinhistas brasileiros. Briga
de Gente Grande, a matéria com o texto mais irreverente e coloquial, discorre sobre as HQ adultas das
maiores editoras dos EUA – Marvel e DC – desde Watchmen e Cavaleiro das
Trevas, e faz o comparativo entre os selos de HQs “pesadas” de ambas as
editoras, respectivamente Marvel Max e Vertigo. Mundo Cão! faz um tratado sobre as mudanças que as HQ de
super-heróis sofreram no início do século XXI – a revista previa o surgimento
de uma tal “era de Concreto” das HQ de heróis, mas esta era hoje é conhecida
como “Era Moderna”. Os Quadrinhos
Suburbanos do Tio Sam discorre sobre as HQ underground dos EUA, os quadrinhos que, com sexo, drogas e crítica
social, mudaram aos poucos a face da indústria de HQ norte-americana, desde os
anos 60, época de Robert Crumb e amigos, até os dias correntes, com os trabalhos
dos Irmãos Hernandez, Joe Sacco, Peter Bagge e Daniel Clowes; Brincadeira de Criança fala sobre as HQ
infantis, entre clássicos e modernos. Lá
Vem o Brasil descendo a Ladeira é o capítulo sobre as HQ brasileiras, mas
não conta muita história – o artigo ouve a opinião de alguns quadrinhistas
brasileiros sobre a inquietante questão: por que não temos HQ brasileiras –
fora Turma da Mônica – nas bancas
brasileiras? Quadrinhos & Cinema é,
como diz o capítulo, sobre as adaptações de HQ para o cinema – na época, a
indústria cinematográfica já percebia o potencial das HQ baseadas em
super-heróis, mas o apanhado vai até Homem-Aranha
2 – a Marvel Comics ainda não havia começado seu grande plano de fazer
filmes de HQ, e a moderna trilogia do Batman ainda nem havia começado. As Editoras Brasileiras de Quadrinhos relata
sobre as maiores editoras da época e o que elas estavam oferecendo de bom ao
leitor. E, fechando a revista, Leitura
Recomendada traz algumas sugestões de boas HQ aos fãs iniciantes – mas,
nessa lista, só duas brasileiras, Chiclete
com Banana e Desgraçados de
Lourenço Mutarelli, o resto é tudo estrangeiro.
Pena
que só ficou em uma edição, pois a KABOOM! tinha bons textos, diagramação
diferenciada e atraente, era realmente informativa, e as informações podiam ser
atualizadas a qualquer momento. Serviria de fonte inicial de trabalho para
muitos pesquisadores novatos. Vários fatos já carecem de atualização, de
correção. Mas a KABOOM! pode ser vista como um exemplo de como uma revista de
HQ poderia, e deveria ser.
O
preço de capa, na época, era R$ 4,90. Certamente, seria muito valiosa hoje.
Quem tiver seu exemplar e bom estado, conserve! É o retrato de sua época!
Para
encerrar, hoje só temos Letícia, minha personagem. Hoje, vou adiantar o final
do arco A Princesa do Bilboquê, que
em 2014 deu o que falar. Foi o arco de tiras mais longo de minha personagem, e
um dos que eu mais sofri para encaminhar para um final coerente.
Atualmente,
está em curso um novo arco de tiras de Letícia. Confiram em http://leticiaquadrinhos.blogspot.com.br/.
Na
próxima postagem, mais algumas revistas teóricas para vocês.
Até
mais!
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