Olá.
Hoje,
falo de novo de livro. Hoje, falo de uma biografia. Hoje, falo de uma das dores
mais sentidas do ano de 2014.
Ainda,
no momento em que escrevo, não passou um ano da morte de um dos maiores
comediantes do mundo, o mexicano Roberto Gomes “Chespirito” Bolaños. Mas, para
não perder a oportunidade, hoje vou falar de livro – sobre sua vida. Eis aqui
CHAVES – A HISTÓRIA OFICIAL ILUSTRADA.
Este
livro não possui um autor exato – foi organizado pela Editorial Televisa, parte
do conglomerado Televisa de Comunicação, com sede no México. A primeira edição
do livro foi publicada em 2012, com o título original de Chespirito – Vida y Magia del Comediante Más Popular de América –
portanto, antes do falecimento de Roberto Bolaños, em novembro de 2014. A
edição brasileira do volume foi publicada pela editora Universo dos Livros, com
tradução de Maurício Tamboni.
Tendo
sido publicada pela Televisa do México, canal para o qual “Shakespearito”
trabalhou por muito tempo, e foi até acionista, é claro que esta biografia de
Roberto Bolaños tem um tom altamente elogioso ao trabalho dele. Mas não sem
motivo, afinal, Chespirito (forma pronunciada de “Shakespearito”, “Pequeno
Shakespeare”, apelido que Bolaños ganhou ainda no início da carreira) fez muito
pela televisão e pela cultura da América Latina em geral: foi escritor, redator
de programas humorísticos, ator, comediante, poeta, produtor, diretor de
cinema, ator e produtor de teatro, músico... e ainda foi malandro, super-herói,
médico, dublê de Charlie Chaplin e de Stan Laurel, garoto pobre, louco... estes
últimos epítetos se referem a seus personagens mais famosos.
Sim.
Bolaños nos fez rir. Embalou muito de nossas infâncias – e continuará
embalando, até que o SBT resolva suspender as reprises de Chaves para sempre (o que esperamos que não aconteça). Nos encantou
com as desventuras do menino Chaves e do “super-herói” Chapolin Colorado. Para
não falar também do Dr. Chapatín, do Pancada Bonaparte, do Chaveco...
Seria
dispendioso que eu entrasse em mais detalhes a respeito de Chaves e Chapolin e
Cia. Afinal, é difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar nas criações
de Roberto Bolaños, e na turma que fazia parte do programa, todos bons atores,
e todos com vida própria: Florinda Meza (Dona Florinda, Pópis e Chimoltrúfia),
Carlos Vilagrán (Quico e Quase Nada), Ramón Valdez (Seu Madruga, Tripa seca e Beterraba),
Edgar Vivar (Seu Barriga, Nhonho e Botijão), Rúben Aguirre (Professor Girafales
e Lucas Pirado), María Antonieta de las Neves (Chiquinha, Dona Neves e Bruxa
Baratuxa), Angelines Fernandez (Dona Clotilde, a “Bruxa do 71”), Horácio Gomez
(Godinez)... Difícil não dissociar todos esses nomes de Chespirito, o homem e o
programa de TV. Qualquer coisa que eu venha a dizer, possivelmente não será
original: o que eu vir a dizer, não será nada que ninguém tenha dito antes.
Bueno.
CHAVES – A HISTÓRIA OFICIAL ILUSTRADA traz então toda a história de Roberto
Bolaños e de sua carreira televisiva. Claro que não há referências à morte
dele, já que o livro é de 2012, e seu relançamento coincidiu com o seu
falecimento, mas sem as revisões. E, como o título entrega, é repleto de fotos,
algumas legendadas.
O
livro começa com uma breve mensagem do próprio Bolaños ao público brasileiro;
depois, a introdução, e a história de Bolaños, dividida em três partes, contada
de maneira não-linear, de modo a destacar várias facetas de sua vida, separar a
vida profissional da pessoal.
Na
primeira parte, Suspeitei desde o
princípio! – Os primeiros anos de vida e carreira, é contada a infância e a
adolescência humildes de Bolaños: seu nascimento, quando a mãe quase o perdeu;
a perda precoce do pai boêmio e as dificuldades enfrentadas pela mãe para
sustentar a família; o gosto por esportes; a adolescência semi-boêmia na
universidade (chegou a cursar Engenharia Mecânica e Eletrônica, mas não
concluiu o curso); suas tentativas de se consagrar nos esportes – o futebol e o
pugilismo; seus primeiros casos amorosos, até o casamento com a primeira
esposa, Graciela Fernandez, mãe de suas seis filhas; a deterioração dessa união
por conta da dificuldade de Bolaños em conciliar a vida familiar e
profissional; o longo e de início conturbado relacionamento com Florinda Meza,
que praticamente não lhe deu bola por dez anos, até ceder; mas os dois só se
casaram, formalmente, em 2004, embora tivessem vivido juntos por 27 anos. E
alguns detalhes de sua carreira profissional, inicialmente na publicidade,
depois indo para o rádio e a TV.
Depois,
vem a segunda parte: Não Contavam com
Minha Astúcia! – De adolescente curioso a sucesso absoluto na televisão. Nessa
parte, é contada como se deu a carreira de Bolaños no rádio e na televisão. Foi
meio que por acaso: ele, então experiente em publicidade, pegou uma fila menor
em um estúdio de rádio – por uma vaga como redator de programas. E foi assim
que começou sua carreira, em 1954, como escritor. Mais tarde, conheceu a dupla
cômica Viruta e Capulina (Marco Antonio Campos e Gaspar Henaine), para quem
escreveria, com muito êxito, não apenas seus programas radiofônicos e televisivos
como também os filmes. Aliás, foi em um filme de Viruta e Capulina que Bolaños
estreou como ator – e como um vilão! Foi em 1959.
Nos
anos 1960, ele, então o mais bem pago redator de programas de TV e rádio do México.
E tudo antes que a Televisa fosse criada – Bolaños trabalhava na Televisión
Independiente de México, TIM, canal 8. Foi no final dos anos 1960 que se deu o
estouro de Chespirito na televisão: começou em 1968, com algumas esquetes
cômicas para ocupar espaço em um programa de variedades: El Ciudadano Gomes e Los
Supergenios de la Mesa Cuadrada. Foi nesse último que Bolaños fez o début de dois de seus mais célebres
personagens: o Dr. Chapatín e o Professor Girafales. Ah: em Supergenios, Bolaños contracenava com os
futuros parceiros Ramón Valdez, Rúben Aguirre e Maria Antonieta de las Neves.
Mas
foi em 1970 que Bolaños, assistindo a criação do conglomerado Televisa (a
partir da fusão da TIM com o canal Telesistema Mexicano) e já com o programa
que levou seu apelido – Chespirito – deu vida ao Chapolin Colorado e, no ano
seguinte, ao Chavo del Ocho, o Chaves. E, aí sim, sua carreira estourou em toda
a América Latina. Muito embora Chaves e Chapolin tenham sido seus personagens
de maior sucesso, o personagem preferido de Bolaños era o Chómpiras (Chaveco),
o malandro da esquete Los Caquitos;
desde que seu primeiro companheiro era o irritado Beterraba (Ramon Valdez) até
quando virou homem honrado ao lado do Botijão (Edgar Vivar); mas, em ambas as
fases, Chaveco convivia com a figura da desengonçada Chimoltrúfia (Florinda
Meza).
Mas
é claro que, no livro, Chaves tem o seu maior espaço, pois há fichas e
descrições dos personagens da Vila – Chaves, Chiquinha (La Chilindrina), Quico,
Dona Florinda, Seu Madruga, Seu Barriga, Professor Girafales, Dona Clotilde,
Jaiminho, Nhonho.... Ainda há referências ao quadro Los Chifladitos, com os doidos de pedra Chaparrón Bonaparte
(Pancada, interpretado por Bolaños), e Lucas Tañeda (Lucas Pirado, interpretado
por Rúben Aguirre). Aliás, o fonema “CH” é meio que uma marca registrada de
Bolaños, visto que quase todos os seus personagens o tem como inicial.
Aí
vem a terceira parte: Sigam-me os bons! –
Cinema, Teatro, Telenovela e o legado de Chespirito. Aqui, vão suas
iniciativas fora das telas da TV – e algumas dentro. Aqui é relatada a sua
filmografia – desde os tempos de Viruta e Capulina até os filmes próprios, como
a cinessérie El Chanfle (dois filmes,
de 1978 e 1982) e seu primeiro filme
como diretor, Charrito (1980),
grandes sucessos de bilheteria. Tem
também suas aventuras no teatro, como os sucessos de bilheteria Títere e 11 y 12. Tem seu envolvimento em um ambicioso projeto da esposa, a
telenovela Milagro y Magia (1990), que Florinda Meza escreveu, produziu e
ainda atuou; e outros projetos de Bolaños na teledramaturgia. As aventuras
musicais de Bolaños também estão presentes, como a série de discos com músicas
de seus personagens. As excursões pela América Latina também. Tem ainda suas
aventuras na literatura, como os best-sellers ...Y También Poemas e Diário do Chaves. Falando em Chaves, há referências à série de animação do grande fã
de sanduíches de presunto. Ainda há a explicação detalhada sobre a origem do
lendário apelido de Bolaños. E o capítulo termina com diversas visões sobre
Chespirito: dele mesmo, e através de familiares e amigos – incluindo mensagens
das filhas.
No
final do livro, um grande caderno de fotos, de todas as fases da vida de
Chespirito, personagens seus e de seus parceiros.
Há
poucas referências sobre as polêmicas de sua vida, como os desentendimentos com
María Antonieta de las Neves pelos direitos sobre a Chiquinha. É um dos livros,
no entanto, mais detalhados sobre a vida e a carreira do “pequeno Shakespeare”,
enquanto vivo – melhor não pensar acerca de sua morte, visto que, nas telas,
ela ainda está vivo. E tem 220 páginas!
Fãs
de Chaves não podem deixar de ter na estante CHAVES – A HISTÓRIA OFICIAL
ILUSTRADA. Entendam como ele venceu e continua vencendo – com sua própria
astúcia!
Para
encerrar, resolvi fazer um diagrama de possibilidades, como ilustração de hoje.
A ideia é testar uma das maiores curiosidades sobre a vida de Bolaños: os
bastidores da criação do Chapolin Colorado. Aliás, vocês sabiam que, no início,
o Chapolin foi concebido verde? Mas que, por falta de tecido verde, foram
testadas outras opções de cores, até ser definido o popular vermelho?
Pois
é, já imaginaram uma “brigada” de Chapolins alternativos? Tipo, um Chapolin
“angelical”, branco e dourado, e um Chapolin “negativo”, todo preto, que
poderia vir a ser um grande inimigo do Chapolin vermelho? Bem, já existe uma
tira de quadrinhos alternativa com um Chapolin “negativo” circulando na
internet, mas essa é outra história.
Em
breve, mais livros para vocês enriquecerem suas culturas. Ao menos, é o que
estou planejando para os próximos dias.
Até
mais!
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