Olá.
No
momento que escrevo, está perto de fazer um mês que um novo álbum da coleção
Graphic MSP está nas bancas e livrarias. Sim, a coleção de álbuns,
reinterpretações dos clássicos personagens de Maurício de Souza por importantes
nomes da nova geração de quadrinhistas brasileiros, que está dando uma nova
cara às HQ feitas no Brasil. Para o bem e para o mal, a série Graphic MSP já
está servindo de parâmetro à atual produção de HQs.
O
mais recente fruto da iniciativa encabeçada por Maurício de Souza e Sidney
Gusman é TURMA DA MATA – MURALHA.
Como
todos os álbuns da coleção, TURMA DA MATA – MURALHA foi publicado pela editora
Panini Comics, atual lar da Turma da Mônica e de todas as criações de Maurício
de Souza.
Vamos
relembrar: em outubro de 2012, começou com Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth e Cris Peter; em maio de 2013, foi a vez de Turma da Mônica – Laços, de Vítor e Lu
Cafaggi; em agosto do mesmo ano, Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte; e, em outubro de 2013, ainda,
fechando o primeiro ciclo, Piteco – Ingá,
de Shiko. O segundo ciclo das Graphic MSP ainda não terminou. Começou com Bidu – Caminhos, de Eduardo Damasceno e
Luís Felipe Garrocho, em agosto de 2014; na sequência, Astronauta – Singularidade, continuação de Magnetar, pelos mesmos Beyruth e Peter, em dezembro de 2014; Penadinho – Vida, de Paulo Crumbim e
Cristina Eiko, veio em maio de 2015; e o penúltimo a sair, Turma da Mônica – Lições, dos irmãos Cafaggi, veio em julho de
2015. TURMA DA MATA – MURALHA é de setembro de 2015 – ou seja, cerca de dois
meses depois. E está programado, para novembro de 2015, o próximo álbum, Louco – Fuga, de Rogério Coelho. Ainda
falta definição sobre o também anunciado álbum do Papa-Capim.
OS AUTORES
TURMA
DA MATA – MURALHA é de autoria de Artur Fujita, nos roteiros, Roger Cruz nos
desenhos, e Davi Calil nas cores. Todos esses autores já tem pelo menos uma
década de atuação no mercado de HQ nacional e internacional – e, até onde pude
apurar, dois deles participaram da série MSP
50, o embrião da série Graphic MSP.
Os
três autores tem mais em comum do que se imagina: eles fazem parte do coletivo
de HQ Dead Hamster, pelo qual publicam trabalhos autorais. O coletivo foi
formado em 2008, por Fujita, Cruz, Calil, Greg Tocchini (Evandro Gregório),
Júlia Bax, Amilcar Pina, Amanda Grazini e Bruna Brito. Mas foi em 2013 que o
Dead Hamster começou a render frutos – revistas e álbuns autorais de Fujita,
Cruz, Calil, Tocchini e Bax.
Bão,
vamos por partes. Começando por Roger Cruz, o veterano do trio.
Rogério
da Cruz Kuroda, paulistano nascido em 1971, começou sua carreira nas HQ como
letrista para a Editora Abril e trabalhos autorais na editora Vidente. Cruz fez
parte da segunda grande leva de brasileiros que começaram a desenhar para as
grandes editoras dos Estados Unidos, que iniciou em 1995 e que inclui ainda
nomes como Watson Portela e Emir Ribeiro. Seu primeiro trabalho para o exterior
foi uma edição não-publicada de Armor,
para a Continuity Comics. Cruz, posteriormente, se torna o primeiro brasileiro
a desenhar para a Marvel Comics, e o primeiro brasileiro, mais precisamente, a
desenhar o título até então mais vendido dessa editora, X-Men. Sua participação mais destacada na Marvel foi na saga A Era do Apocalipse (1995). Ele ainda
desenhou HQs do Motoqueiro Fantasma,
do Hulk, Geração X e X-Factor, e ainda fez trabalhos para a
então editora top de linha Image Comics – Youngblood,
Brigada, Angela & Glory.
Pouco
depois, Roger Cruz deu um tempo às editoras norte-americanas e, entre outras
atividades, foi fundador da empresa Fábrica de Quadrinhos, participou de um
álbum coletivo publicado pela Editora Abril, Linha de Ataque: Futebol Arte (1998) e, para essa editora, também
fez capas nacionais de gibis da Marvel e da DC, além de ter trabalhado nas
capas de gibis da editora Trama/Talismã (Tsunami,
Dungeon Crawlers e Victory).
Voltou a desenhar com mais frequência para as editoras estrangeiras a partir de
2001 – ele foi responsável pela arte de 10th
Muse, da Tidal Wave Studios, com roteiro de Marv Wolfman. Em 2004, Cruz
volta a desenhar para a Marvel, desenhando títulos como Amazing Fantasy, X-Men, Homem-Aranha e Marvel Team-Up, além de ter contribuído para a série X-Men First Class.
Em
2008, ele se torna um dos sócios-fundadores – como já citado – do coletivo Dead
Hamster.
Em
2010, além de ter participado do álbum MSP
+ 50, entre outros trabalhos autorais, Cruz publica seu primeiro álbum
solo, Xampu Lovely Losers, pela
editora Devir, que teve três indicações ao prêmio HQ Mix. Xampu é o primeiro álbum de uma trilogia sobre os anos 1980 – ainda
não há previsão de quando os álbuns seguintes chegarão.
Em
2011, veio o álbum de artes eróticas Nudes
in Fury; no ano seguinte, Roger Cruz
Artbook volume 1; em 2013, Sketchbook
Experience, já estabelecido no Dead Hamster; e, em 2014, dois álbuns pelo
coletivo: o roteiro de Quaisqualingundum,
com arte de Davi Calil – uma coletânea de histórias inspiradas nas canções do
sambista paulistano Adoniran Barbosa, vencedora do prêmio HQ Mix de Melhor
Publicação Independente – e Instabook,
um novo livro de imagens.
Artur
Fujita – o seguinte por ordem de atuação – tem pelo menos uma década de mercado
como quadrinhista e colorista para as norte-americanas Marvel e DC, além de
ilustrações para livros e revistas. Ele ministra aulas na Quanta Academia de
Artes desde 2002. E seu nome ainda aparece nos créditos da série de animação Historietas Assombradas para Crianças
Malcriadas, um dos desenhos brasileiros que atualmente é sucesso nos canais
Brasil e Cartoon Network – ele fez os cenários.
Fujita
faz parte da primeira grande leva de HQs lançada pela Dead Hamster em 2013.
Naquele ano, foram lançados três gibis do coletivo: o de Artur Fujita foi Ascensão e Queda de Big Mini, biografia
fictícia do primeiro ator pornô anão. O lançamento de Big Mini foi acompanhado do de Sequence
Shot, de Greg Tocchini, e Surubotron!,
de Davi Calil. Em 2015, antes de TURMA DA MATA – MURALHA, Fujita lança seu
segundo trabalho pela Dead Hamster, o álbum Escrevendo
com o Lado Esquerdo do Fígado.
Davi
Calil é o mais novo da turma. Sua estreia nas HQ foi em 2007, na coletânea
independente Kush!, lançada na
Letônia. Por dois anos, Calil desenvolveu trabalhos para as revistas Mad Brasil e Mundo Estranho – nessa última, ele fazia as HQ do excêntrico
personagem Monstranho, uma seção
popular da revista. Ele também participou da coletânea MSP + 50.
Em
2013, pela Dead Hamster, Calil publicou Surubotron!,
e o livro de artes Artbook Pintura
Relâmpago, mesmo nome do curso de pintura que leciona na Quanta Academia de
Artes. Seu nome também consta nos créditos da animação Historietas Assombradas, como designer de personagens. E, em 2014,
Calil foi responsável pela arte de Quaisqualingundum.
Ah:
da primeira leva de HQs da Dead Hamster, ainda inclui-se o álbum Remy, de Júlia Bax.
Como
podem ver, as vidas dos autores são interligadas. Ainda mais agora, em TURMA DA
MATA – MURALHA.
OS PERSONAGENS
A
Turma da Mata, nos dias de hoje, não faz parte dos personagens mais populares
de Maurício de Sousa – o elefante Jotalhão e seus amigos aparecem em histórias
secundárias dos gibis de linha, mas periodicamente também dividem, com o
indiozinho Papa Capim, um almanaque.
O
grande destaque das histórias da Turma da Mata, que começaram nas tiras de
jornais, é a inserção de teor político em meio ao humor infantil e seu tom de
fábula.
O
personagem mais velho da Turma da Mata, legalmente, é o elefante Jotalhão,
criado por Maurício em 1962. Mas seu uso nas HQ só se deu em 1965, dentro das
tiras da Turma da Mata – e, então, o primeiro personagem da Turma da Mata
acabou sendo o Raposão – aliás, a tira, inicialmente, levava seu nome. Raposão começou em 1964, no jornal Folha
de São Paulo, já com a aparência próxima da atual – paletó quadriculado,
gravata borboleta e personalidade esperta e galanteadora. Ainda nesse ano,
estreiam os outros dois então maiores personagens da tira, o Coelho Caolho –
que, apesar do nome, não é caolho, ele tem os dois olhos atrás de óculos, uma
camiseta amarela e as orelhas cruzadas – e o cágado intelectual Tarugo – cuja
cabeça, ao contrário do normal, sai de cima de seu casco, que às vezes pode ser
convertido em um carrinho, e não dos lados! Raposão, Caolho e Tarugo, em seu
primeiro arco de tiras, passado “há muitos e muitos anos, no tempo em que os
bichos falavam como gente”, nas “matas do chapadão”, se unem para discutir a
necessidade de os animais viverem em outro tipo de moradias, ao invés de tocas.
Apesar
de ter sido criado três anos antes, Jotalhão, como já dito, teve seu uso nas HQ
apenas em 1965. Ele havia sido criado em 1962 para ser a mascote do Jornal do
Brasil (daí o “J” do nome), e, inicialmente, ele era rosa! Mas a parceria não
deu certo, e ele só saiu da gaveta em 1965, na Folha de São Paulo, um ano depois da estreia de Raposão. Em 1975, a tira passou a levar
o nome do paquiderme – mas foi preciso que o destino jogasse a seu favor.
Começou quando Maurício, em uma tira da Turma da Mônica, fez uma piada com o
extrato de tomate Elefante, da Cica, existente desde o final da década de 1950.
Nela, a Mônica levava um elefante para casa pela tromba, e o Cebolinha chamava
sua atenção, dizendo que a mãe dela se referia ao extrato de tomate Elefante.
Entusiasmada, a empresa que representava a Cica entrou em contato com Maurício,
propondo o uso do Jotalhão como garoto-propaganda do molho de tomate – e, para
contrastar melhor com o vermelho da lata, o Jotalhão passou a ser verde. Foi
assim que Jotalhão se tornou o garoto-propaganda há mais tempo em atividade no
Brasil. Além de estampar há anos as latas do citado extrato de tomate – agora
com nova fórmula – ele passou a figurar como principal personagem da Turma da
Mata, estrelou outros comerciais, passou a dividir as capas com a Mônica no
gibi dela... Nos gibis, Jotalhão é um elefante tímido, de bom coração,
inteligente, que costuma se vangloriar de ter uma boa memória – mas às vezes,
ela lhe trai.
Em
1965, na tira, estreia a formiguinha Dona Formiga, trabalhadora e com um lenço
na cabeça. Só mais tarde o nome do bichinho mudaria para Rita Najura; ela
acrescentaria ao visual um vestido; e se apaixona por Jotalhão, e faz de tudo
para conquista-lo – apesar de não ser correspondida como deveria. Maurício
brinca aqui com a clássica e lendária historinha da paixão entre formigas e
elefantes.
Mas
os outros personagens da Turma da Mata não perdem seu brilho. O mais
proeminente depois do Jotalhão é o Coelho Caolho: posteriormente, ele ganha
esposa e filhos. Nos gibis, se estabelece que Caolho tem 118 filhos! Desses, um
dos poucos que ganha nome – e importância – é o coelhinho Amadeu. Ah: Jotalhão
é padrinho de vários dos filhos de Caolho.
Em
1965, estreia o ouriço puxa-saco Luís Cacheiro – ele aparece pouco antes de seu
patrão, o Rei Leonino, o leão de juba preta e imperador da mata. O nome do
ouriço (É mesmo um ouriço? Meio difícil, na verdade saber qual a sua espécie),
posteriormente, é grafado Luís Caxeiro; e, exercendo o cargo de
primeiro-ministro do Rei Leonino, faz de tudo para agradar seu rei, mesmo que
para isso suas decisões acabem prejudicando o pessoal da Mata. Aí que reside o
viés político da tira.
Outros
personagens que às vezes aparecem são os trapaceiro Zé Fuinha e seu comparsa Zé
Furão, os guardas macacos e a formiga macho Saúvo, ex-namorado de Rita Najura.
Foi
bem difícil achar imagens decentes da Turma da Mata na internet, ainda mais da
turma reunida; tive de pegar “emprestada” uma fanart em P&B, mais próxima
do traço consagrado, como puderam ver vocês acima.
O ÁLBUM
E
agora, chegamos ao que interessa: ao álbum propriamente dito.
Artur
Fujita bolou uma trama que mistura aventura, política, steampunk e um pouco de
drama, criando uma aventura feudal, bem ao estilo das HQ brasileiras publicadas
pela editora Trama/Talismã entre o final da década de 1990 e início dos 2000 –
de fato, o mundo de TURMA DA MATA – MURALHA lembra bastante o dos populares
jogos de RPG dessa época. Roger Cruz, que trabalhou para essas editoras, dá o
toque visual, praticamente transformando os bichos fofos de Maurício em
guerreiros carrancudos; e Calil entra com as cores, digitais mas com efeito de
aquarela. Curiosidade: foi com uma HQ de Jotalhão que Calil colaborou para a
coletânea MSP + 50.
A
leitura de TURMA DA MATA – MURALHA me fez lembrar outras HQ e mídias
relacionadas, que fazem a mistura de mundo medieval com tecnologia: cito, por
exemplo, o Hakan de Mozart Couto,
publicado pela Noblet no final dos anos 1980. É mais ou menos isso que é TURMA
DA MATA – MURALHA: uma combinação de mundo medieval com a tecnologia a vapor da
Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX. Tudo adaptado ao mundo dos
personagens de Maurício de Sousa.
Para
fluir a trama, os personagens passaram por adaptações, tiveram-lhes atribuídos
novos papéis, além dos convencionais, tal como Shiko fez em Piteco – Ingá. Fujita, Cruz e Calil,
logo, criaram um novo mundo para a Turma da Mata, onde os bichos são mais
humanos, mas não deixam de ser bichos.
Mas
TURMA DA MATA – MURALHA, ainda na produção, foi responsável pelo primeiro
percalço da coleção: originalmente, o responsável pela arte deveria ser Greg
Tocchini, ao invés de Roger Cruz, mas este não conseguiu conciliar a produção
do álbum com os compromissos com as editoras estrangeiras; assim, coube a Roger
Cruz fazer os desenhos.
Well.
A trama.
O
mundo da Turma da Mata é dividido em dois: a mata, propriamente dita, onde vive
a maior parte da população, e uma grande cidade, em uma montanha, cercada por
uma grande muralha, onde reside o rei. Essa cidade foi construída por conta de
eventos iniciados antes do início da história, narrados em off nas primeiras
páginas: há muitos anos, na mata, foi descoberta uma mina de um raro e valioso
metal chamado calerium, cuja propriedade é o de aquecer em contato com a água –
só parando quando se desgasta, ou se a fonte de água tiver vaporizado toda. O
calerium abriu a era do vapor na mata, onde engenhos mecânicos movidos a vapor,
como naus movidas a balões, são comuns. A mata se torna o reino mais rico e
poderoso do mundo, mas o rei da mata, Leonino I, resolve, por ganância, deixar
a mata e construir a cidade em volta da mina de calerium. Assim, se formou a
muralha, cujo acesso se dá exclusivamente pelas naus voadoras.
O
reinado ainda é de terror: não tendo trabalhadores suficientes na muralha,
Leonino I sequestra e escraviza moradores da mata para trabalhar nas minas de
calerium. Uma resistência dos bichos da mata se forma, inicialmente liderada
pelo guerreiro Elefante Verde. Mas, em uma última investida à nau de Leonino I,
o Elefante Verde, durante a luta, assume um natural estado de fúria que o faz
ficar vermelho, e acaba se jogando da nau junto com o rei leão. O motivo dessa
investida? Tentar resgatar o filho, Jotalhão, que caíra em uma armadilha.
Duas
décadas depois, o filho de Leonino I, Leonino II, governa a muralha, em meio a
uma crise – as minas de calerium estão se esgotando. Ele, então, parte para uma
viagem ao país vizinho, para esclarecer os líderes de outras nações os reais
motivos para o aumento nos preços do metal. Ele deixa o primeiro-ministro Luís
Caxeiro no comando do reino, tendo como assessor o sinistro Fuinha. Porém, logo
que parte, a nau do rei explode.
Diante
da tragédia, Luís Caxeiro assume o trono, mas na verdade é Fuinha quem está
controlando o reino por baixo dos panos, fazendo Caxeiro assinar decretos
inúteis, tendo como principal capanga o chefe da guarda real, Furão. Todos
procuram esclarecer os motivos do atentado contra o rei Leonino, e a
desconfiança cai sobre os rebeldes da mata. Mas é claro que o autor do
atentado, na verdade, é Fuinha, que, graças aos seus espiões escondidos, está
sempre um passo à frente.
Enquanto
isso, Jotalhão, retirado das minas para trabalhar na burocracia real, vive uma
rotina frustrante – não podendo nem protestar detalhes dos papeis com Fuinha.
Apesar da inteligência e de seus conhecimentos até mesmo de horários e das
direções do vento, ele foi praticamente amansado, depois que suas presas foram
removidas, e é incapaz de se defender e defender os outros – e é alvo constante
das provocações dos guardas macacos, que tocam o terror na população da
muralha. E, naqueles dias, a população residente na muralha enfrenta escassez
de alimentos.
Fuinha
se esmera para obter o controle do poder por trás de Luís Caxeiro – seus espiões
descobriram que existe outra mina de calerium dentro da mata, e, para
controla-la, precisa eliminar a resistência. Logo, o atentado a Leonino é só a
primeira parte do plano. Mas estes planos acabam entreouvidos por Rita Najura,
que aqui se transforma praticamente em uma ninja e espiã, extremamente corajosa
e audaciosa. Entretanto, Fuinha acaba descobrindo a espiã, e envia a guarda,
liderada por um tamanduá rastreador, atrás dela.
Rita
Najura, para escapar, se esconde em Jotalhão, que naquele momento fazia compras
no mercado. Os guardas macacos acham Rita Najura, mas Jotalhão intervém para
salvá-la, e os dois acabam fugindo. Fugindo para o setor das catapultas do
palácio, Jotalhão e Rita, usando uma das armas – até então usadas para jogar
pedras sobre a mata – para escapar para a mata. Por pouco, Jotalhão não se dá
mal, ao cair no rio. E uma lembrança de infância lhe vem à mente...
O
motivo que levou ao aprisionamento de Jotalhão e à morte de seu pai foi uma
travessura de criança: o elefante vai à uma clareira, acompanhado do amigo
Coelho Caolho, recuperar um chakram (argola de ferro de lançar) do pai; mas
Caolho acaba capturado pela nau. Apesar de Jotalhão ter usado o chakram para
salvar a vida do amigo, acaba aprisionado – e o pai acaba indo ao seu resgate.
Volta
ao presente. Jotalhão é salvo pelo trio de heróis que formam a resistência da
mata: Raposão, o líder e “cabeça” do movimento, com sua roupa quadriculada;
Caolho, que aqui literalmente não tem mais um dos olhos; e Tarugo, cuja
principal arma é uma armadura robótica movida a vapor – ele faz jus ao papel de
gênio do grupo. Até então, só eles tinham conhecimento na nova mina de
calerium. No encontro, o trio ainda dá uma pequena surra nas tropas de Furão,
que estão na mata atrás da espiã e do traidor. E, logo, Jotalhão já integra a
resistência, e é posto a par dos planos dos rebeldes.
E
estes tem um trunfo: o rei Leonino, resgatado com vida dos destroços da nau,
está sendo mantido prisioneiro, aos cuidados dos 118 filhos de Caolho. Que,
aliás, não está contente com o retorno de Jotalhão: ele não perdeu apenas o
olho por causa da travessura do elefante, mas também foi considerado culpado pela
morte do líder Elefante Verde, e essa perda de confiança o deixa amargurado.
Leonino
foge do cativeiro no dia seguinte, mas retorna durante uma travessura: Jotalhão
surpreende os coelhinhos – irritantemente fofos como as multidões de goblins
e/ou kobolds que costumam dar as caras em partidas de RPG estilo Dungeons & Dragons – brincando com a
armadura de Tarugo. Jotalhão entra na brincadeira, mas um dos coelhos sofre um
acidente e só não se dá mal porque Leonino, que durante o cativeiro se afeiçoou
aos cuidadores, o salva.
Leonino
resolve se juntar à resistência, visto que agora desconfia de seu ministro,
Luís Caxeiro, como autor do atentado à sua vida. Após nova incursão ao palácio,
Rita Najura descobre que Fuinha vai processar um novo ataque à mata no dia
seguinte. E Raposão tem um novo plano: reconduzir o rei ao trono. Mas a
concordância entre todos é difícil, com trocas de acusações de todos os lados –
aí, a muralha do título ganha sentido além do literal: cada um tem seus motivos
para suas ações, todas justas, mas para vencer precisam derrubar as barreiras
ideológicas, o que não é fácil, já que cada um também possui um trauma causado
pelo outro. E precisam entender: a mata depende da muralha, assim como a
muralha depende da mata para sobreviver.
A
princípio, Jotalhão, que só sabe pensar e não agir, e por isso considerado um
covarde por Caolho, resolve tirar o corpo fora, mas, após uma conversa com Rita
Najura – que já demonstra uma atração pelo “bonitão” paquiderme – Jotalhão
resolve colaborar em um ousado plano para invadir a cidade e reconduzir Leonino
– já disposto a um acordo – ao poder.
Mas,
apesar da primeira fase do plano ser um sucesso – a invasão do palácio – a
segunda não é muito bem sucedida: Fuinha, graças aos seus espiões, está
preparado para o contra-ataque, com sua própria armadura a vapor. Agora, os
bichos precisam se unir para impedir que Fuinha destrua a mata, e assim se
desenrola a batalha no palácio. Mas o sucesso da investida depende de Jotalhão:
que ele acabe, por um certo motivo, assumindo o estado de fúria de sua espécie,
consiga deter Fuinha e sua armadura, e ainda que Jotalhão resolva parar, ele
mesmo, as naus que estão destruindo a floresta. E disso depende, ainda, que
Caolho deixe seus ressentimentos de lado, e que Leonino esteja realmente ao
lado dos heróis... Só assim todas as muralhas irão cair.
CRÍTICAS
A
trama do álbum é bem interessante. Mas nem tudo são flores.
Por
conta da limitação de espaço – para a história, são 68 páginas, como em todos
os álbuns – parece que o roteiro foi um pouco prejudicado. Aliás, pouco não:
muito prejudicado. Várias subtramas da trama não foram desenvolvidas a
contento, exigindo um pouco do leitor. E vários personagens não tiveram espaço
suficiente para se desenvolver. Que o diga o Raposão, de quem o leitor acabará
esquecendo para que ele serve na história, de tão apagado; ou Tarugo, que
renderia, junto com sua armadura, muito mais do que ofereceu. Luís Caxeiro
também desaparece à sombra do maligno Fuinha. E Leonino também não tem
resolvida sua personalidade, de menino deslumbrado que foi obrigado a
amadurecer muito cedo por conta da morte do pai.
O
álbum acaba sendo centrado, mesmo, em Jotalhão, que atravessa a clássica
jornada do herói, que sai de sua zona de conforto para, no final, resolver o
conflito condutor da trama. Caolho também tem seu espaço maior, com sua
amargura. Rita Najura também é melhor resolvida, mais como guerreira que como
formiga apaixonada pelo elefante; o vilão Fuinha rouba as cenas em que aparece,
assim como os coelhinhos, muito numerosos e que, constantemente, não perdem
oportunidade de garantir seu espaço. Com limitações de tempo e espaço, os
personagens da trama acabam, então, tendo que “se virar nos 30” para aproveitar
o espaço que lhes foi dado.
A
trama também parece bastante básica, algo que a gente já deve ter visto antes
em algum lugar, dando uma sensação de “mais do mesmo” ao leitor mais instruído.
Fora algumas surpresas, o leitor acabará, antes mesmo do fim do álbum, saber
como ele terminará. Já sabe, de antemão, que Fuinha é o grande vilão da
história, e etc.
Outra
coisa que prejudica o andamento do álbum são as elipses entre cenas: em vários
momentos, os detalhes passam mais depressa que a capacidade do leitor em
apreendê-los. É preciso que ele apure os olhos e não deixe escapar nada, o que
aumenta o tempo de leitura do álbum.
Se
tivesse mais páginas, certamente o álbum ficaria melhor. Mas tendo apenas cerca
de 68 páginas para desenvolver uma boa trama, onde todos os detalhes possam ser
aproveitados ao máximo (pior que nem o tal calerium é mostrado; ele é apenas
citado nos diálogos). Em HQs, todo mundo sabe que só imagens, ou só textos, não
bastam para sustentar as tramas: ambos precisam estar integrados. Citar o
detalhe não basta: a HQ fica mais rica se o detalhe é mostrado.
Logo,
o melhor da HQ acaba sendo a arte de Cruz e Calil. E, se olharem com atenção,
conseguirão localizar, nas cenas de multidão, os espiões de Fuinha, dando
sentido a essa subtrama.
Mas
calma: o que o roteiro perde, também ganha: Fujita procurou manter o viés
político presente nos gibis. Os personagens procuram, ao máximo, manter as
características as quais os leitores tradicionais estão acostumados a ver nos
gibis. E há muitas referências à trajetória editorial da Turma da Mata, como os
118 filhos de Caolho, as presas quebradas de Jotalhão, a fase “rosa” do
elefante e ainda a citação ao molho de tomate o qual faz propaganda. Atentem também
para as páginas de guarda (as páginas desenhadas entre o começo e o fim da
história): elas revelam detalhes do início e do fim da trama.
Ainda
assim, infelizmente, TURMA DA MATA – MURALHA não conseguiu figurar entre os
melhores álbuns da série Graphic MSP. Na verdade, conseguiu ficar abaixo do
mais fraco da coleção! Eis, então, o ranking pessoal do Estúdio Rafelipe dos
álbuns lançados até agora (os quais o leitor pode não concordar – e aviso que o
ranking é baseado apenas em colocações pessoais):
1º -
Turma da Mônica – Lições;
2º -
Turma da Mônica – Laços;
3º -
Bidu – Caminhos;
4º -
Piteco – Ingá;
5º - Chico Bento - Pavor Espaciar;
6º - Penadinho - Vida;
7º -
Astronauta – Magnetar;
8º -
Astronauta – Singularidade;
9º -
Turma da Mata – Muralha.
No
balanço das horas, o ranking pode mudar... só depende do próximo lançamento da
coleção.
TURMA
DA MATA – MURALHA ainda é completo com: a indispensável introdução de Maurício
de Sousa; as indispensáveis páginas de bastidores, com o processo de elaboração
da arte e do roteiro do álbum; o histórico da Turma da Mata; biografias dos
autores; e posfácio do ator, dublador e diretor de dublagem Guilherme Briggs
(que também possui vivência nas HQ).
A
versão com capa cartonada custa R$ 21,90; e a com capa dura, R$ 31,90. Apesar
de tudo, é a série Graphic MSP limpando a barra das HQ nacionais. Depois de ler
este álbum, segure a lombriguice de procurar as outras obras publicadas dos
autores responsáveis!
ENCERRANDO...
Para
encerrar esse longo texto, uma pequena HQ minha. Bolei, já que falamos de
elefantes, uma pequena HQ onde aparecem elefantes famosos das culturas pop e
alternativa. Para tanto, botei como personagem principal o Compadre Branco, um
coadjuvante desaparecido do Teixeirão, meu personagem gaudério. Em breve, o
Branco reaparecerá nas tiras do meu gauchão. Mais ou menos assim que terminar o
arco atual em andamento no blog dele (http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/).
Na
ordem, aparecem os seguintes personagens: o Jotalhão, de Maurício de Sousa; o
minúsculo elefante que apareceu em um curta-metragem animado dos Looney Tunes, dirigido por Chuck Jones
em 1953 (o curta se chama Punch Trunk);
o Dumbo, de Walt Disney; Babar, o elefante-rei criado pelo escritor francês
Jean de Brunhoff em 1931 (só depois que veio a clássica série de animação
exibida na TV Cultura, sabiam?); Bóris, o elefante-mascote da série Toscomics, de Samanta Floor (estamos
sentindo sua falta!); e a Elefoa Cor-de-Rosa, de Chiquinha (volta a desenhá-la,
Fabiana Bento!).
Peço
perdão desde já se infringi algum direito autoral. Mas em tempos de wi-fi e
banda larga, é tão comum a homenagem pop descompromissada...
No
aguardo do álbum do Louco, e de
notícias sobre o álbum do Papa-Capim!
Mais: haverá uma terceira leva depois destes álbuns?
Ah:
será que em breve Roger Cruz também lança o segundo álbum de Xampu?
Até
mais!
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