Olá.
No
momento em que escrevo, ainda é dia 20 de setembro, a data magna para os
gaúchos – celebração dos êxitos da Guerra dos Farrapos (1835 – 1845). Nesta
data, os sul-riograndenses celebram e cultivam suas tradições, sua cultura tão
diversa do restante do Brasil. Entre essas tradições, está a música e seus
ritmos tão distintos dos estilos que fazem sucesso no restante do Brasil. Ou a
nossa música tem menos marketing que, por exemplo, o sertanejo universitário,
ou nós, gaúchos, que estamos resistindo à influência nefasta do marketing.
Por
isso, hoje, trago a vocês um livro. Estou, sim, falando de música gaúcha, e o
livro de hoje é sobre música gaúcha. Em realidade: a biografia de um dos
músicos gaúchos mais conhecidos do Brasil. Sua carreira foi breve, mas
suficiente para ele estourar no Brasil e no exterior, como cantor, compositor e
ator de cinema.
O
livro de hoje, então, se chama PÁRA, PEDRO! – JOSÉ MENDES, VIDA E OBRA.
EM MEMÓRIA DO “ANDARENGO”
PÁRA,
PEDRO! (assim mesmo, com o acento que deveria ter caído com a reforma
ortográfica) foi escrito por Ajadil Costa, natural de Esmeralda, RS, cidade que
se proclama “Terra de José Mendes”. Sua primeira edição é de 2002, pela editora
Alcance, de Porto Alegre – a capa acima é da edição de 2013, se não me engano é
a 9ª – a “edição publicitária” impressa pela MB Artes Gráficas. Mas, ao longo
da postagem, vocês podem ver as capas de edições anteriores, as quais vocês
podem encontrar, com alguma sorte, nas livrarias e lojas de livros usados.
Bem.
O livro do produtor cultural José Ajadil da Costa Lima, que reside em
Esmeralda, é um rico apanhado sobre a carreira do cantor gaúcho José Mendes
Guimarães (1939 – 1974), um dos mais populares cantores regionalistas do Rio
Grande do Sul. José Mendes é tão conhecido e interpretado quanto seus
conterrâneos Teixeirinha, Gildo de Freitas, Jayme Caetano Braun e outros
artistas que revelaram aos brasileiros a riqueza da cultura sul-riograndense.
As canções de José Mendes são bastante conhecidas e reinterpretadas por
diversos artistas.
No
Brasil, José Mendes ficou conhecido pela canção Para, Pedro, de seu segundo disco, de 1967. Foi com essa canção que
ele alcançou projeção nacional e internacional, e na mesma época foram vários
os cantores que gravaram versões da canção, reconhecida pelo refrão “Para,
Pedro, Pedro para, Pedro para, para Pedro”. Mas não ficou apenas nisso. Canções
como Roubei a Fazendeira, Vai Embora
Tristeza, Não Aperta Aparício, Esmeralda, Churrasco, Pedras no Caminho e
tantas outras ainda são bastante solicitadas nos programas de música gaúcha das
estações de rádio sul-riograndenses.
O
sucesso de Zé Mendes não ficou limitado apenas à música, e aos oito LPs que
gravou em vida – incluindo o último, póstumo, e excluindo os compactos (os
mini-LPs com duas faixas). Ele ainda foi ator de cinema! Zé Mendes atuou em
três filmes: Pára, Pedro! (1969), Não Aperta, Aparício (1970) e A Morte Não Marca Tempo (1973). O
primeiro foi um dos maiores sucessos de bilheteria do Rio Grande do Sul. E foi
nas gravações de Pára, Pedro! que Zé
Mendes conheceu a esposa, Maria Izabel, com quem se amasiou em 1969, e mãe de
seu único filho, José Mendes Júnior, nascido em 1971, atualmente cantor e
professor de inglês.
José
Mendes ainda teve suas músicas executadas na Europa – ele foi o cantor
brasileiro mais ouvido em Portugal em sua época, ao lado de Altemar Dutra. E
ainda desfilou no Carnaval do Rio de Janeiro, como convidado da escola Unidos
de Vila Isabel, em 1970.
Mas,
infelizmente, sua carreira foi interrompida de maneira trágica: José Mendes
morreu em 15 de fevereiro de 1974, em um acidente de carro, entre Rio Grande e
Pelotas, RS.
Até
hoje, José Mendes continua sendo homenageado. Em novembro de 2004, na cidade de
Esmeralda, foi inaugurado o Memorial José Mendes, um misto de centro cultural e
museu dedicado ao músico. A ocasião da inauguração do local foi acompanhada
pelo translado dos restos mortais do cantor de Porto Alegre, onde ele havia
sido sepultado, para Esmeralda. A vista aérea do memorial, aliás, estampa a capa acima, do livro.
Se
bem que, na realidade, Esmeralda é a cidade adotiva do cantor – existe alguma
polêmica sobre o real local de nascimento de Zé Mendes. Já volto a esta parte.
O QUE DIZ A BIOGRAFIA
Nas
136 páginas do livro (sem contar capa), Ajadil Costa, com o apoio também de
fotos, recortes de jornais e revistas e documentos, relata a trajetória do
cantor do nascimento à morte prematura, e sua contribuição para a divulgação da
cultura gaúcha pelo Brasil. O texto introdutório também faz um breve relato dos
esforços pela conservação da cultura pastoril riograndense, que estava fadada a
desaparecer, nos anos 1940, devido à influência estrangeira na sociedade
gaúcha. Foi quando, em 1947, um grupo de estudantes, liderados por Paixão
Côrtes, lançou a ideia da Chama Crioula e das comemorações do dia 20 de
setembro como o Dia do Gaúcho. Logo, outros escritores, músicos, estudiosos e
artistas começaram a resgatar as tradições campeiras do Rio Grande do Sul, como
o uso de bombachas, as danças, o chimarrão e o churrasco de fogo-de-chão e,
claro, as formas de fazer música dentro do Rio Grande do Sul, transformando o
que antes era motivo de gozação em orgulho para os nascidos nesta terra. José
Mendes não fugiu à regra, e, em suas músicas e filmes, divulgou a cultura
gaúcha.
Ajadil
Costa, inclusive, discute a polêmica em torno do local de nascimento de Zé
Mendes: juridicamente, é aceito que ele nasceu em Lagoa Vermelha, RS. José
Mendes teria nascido em São José do Ouro, RS, mas seus documentos garantem que
seu nascimento foi em Machadinho, RS – ambos estes municípios, em 1939, eram
distritos de Lagoa Vermelha. José Mendes também residiu em Esmeralda e em
Vacaria, RS – município do qual Esmeralda, na época, era distrito. No início da
carreira artística, também residiu em Júlio de Castilhos, RS, onde formou com
amigos seu primeiro grupo. No auge do sucesso, o cantor fixou residência em
Porto Alegre. Mas ele andou muito para chegar até onde chegou.
Seus
pais, Amâncio Mendes da Fonseca e Noemy Ferreira Guimarães, acabaram se
separando quando ele tinha cinco anos de idade. Zequinha, seu apelido de
infância, viveu com parentes em Esmeralda, e trabalhou muitos anos como peão de
estância, mas sempre alimentando um desejo de viver de música. Foi em 1960,
depois de cumprir o serviço militar e residindo em Júlio de Castilhos, que Zé
Mendes formou, com os amigos Florentino Rezende e Dinarte Silva, o trio Os
Seresteiros do Pampa, com o qual excursionava animando bailes – mas os músicos,
na época, precisavam depender de favores para conseguir hospedagem. Com Os
Seresteiros do Pampa, Mendes também conseguiu fazer suas primeiras
apresentações em rádios do Rio Grande do Sul. Mais tarde, Herculano Teixeira
dos Reis substitui Florentino Rezende no grupo, que durou até meados de 1962.
Foi
em 1962 que Zequinha, na base do tudo ou nada, e com 20 mil cruzeiros
emprestados de um fazendeiro amigo seu, foi para São Paulo e gravou seu
primeiro disco, Passeando de Pago em
Pago, pela gravadora Continental, sob o pseudônimo de Gaúcho Seresteiro.
Embora o disco contivesse um de seus primeiros grandes clássicos, Roubei a Fazendeira, e mais algumas
canções referentes a aventuras vividas até ali, o disco não fez sucesso, e
Mendes passou um bom tempo em caravanas artísticas. O segundo disco – e o
sucesso nacional – só vieram em 1967: pela gravadora Copacabana, saiu Pára, Pedro!, e, puxado pela
faixa-título, composta em parceria com José Portela Delavy, e inspirada em um
causo ocorrido durante uma viagem, o disco foi um grande sucesso comercial. Os
intelectuais da época atacaram virulentamente tanto a música quanto o filme
homônimo, mas o público consagrou o cantor.
Aliás,
a ideia de Pára, Pedro!, o filme,
partiu do próprio Zé Mendes, que negociou os direitos de filmagens a partir de
1969, e a fita, produzida pelo estúdio Leopoldis-Som (também responsável pelos
filmes do cantor Teixeirinha), com roteiro do tradicionalista Antônio Augusto
Fagundes e dirigida por Pereira Dias, o primeiro filme colorido filmado no Rio
Grande do Sul e também o primeiro a receber financiamento de um banco, enfim; Pára, Pedro! estreou em 1970, com
recorde de público só no Rio Grande do Sul.
Durante
as gravações do filme, Zé Mendes conheceu a esposa, Maria Izabel, que até então
levara uma vida errante. A moça, natural de Erechim, RS, e que passara a
infância em Mafra, SC, fugira de casa para se juntar a um circo itinerante;
passou um tempo se apresentando como assistente de um astrólogo, Ivan Trilha,
que era amigo de Zé Mendes, e engravidou daquele; porém, Ivan havia deixado a
moça para conseguir trabalho no Rio de Janeiro e juntar dinheiro para sustentar
a família, mas Maria Izabel perdeu o filho e voltou à vida errante, decidida a
nunca mais ver o astrólogo; e, de início, teve receio em conhecer pessoalmente
Zequinha, temendo que ele a levasse de volta para Ivan, porém o destino
determinou que a moça se tornasse esposa do cantor.
Vieram
também os outros discos, depois de Pára,
Pedro!, todos pela Copacabana: Não
Aperta, Aparício (1968) – o filme homônimo, também dirigido por Pereira
Dias e que contou, no elenco, com os reforços de Grande Otelo e José Lewgoy,
veio em 1970; Andarengo (1970); Mocinho do Cinema Gaúcho (1971); Gauchadas (1972) e Isto é Integração (1973) – este último, pela gravadora J.M., depois
pela Continental. O disco póstumo, Adeus
Pampa Querido (1974), só mudou algumas faixas, mas tem o mesmo conteúdo do
disco Passeando de Pago em Pago.
O
terceiro filme, A Morte Não Marca Tempo, também
com direção de Pereira Dias, não foi sucesso de bilheteria por ser um filme
mais sério que os dois anteriores.
Ajadil
Costa analisa, em cada capítulo, tudo a respeito de José Mendes, colhendo
histórias como um emocionante reencontro com o pai durante um baile, ainda na
fase d’Os Seresteiros do Pampa; a história de Maria Izabel até conhecer Zé
Mendes; detalhes sobre os bastidores dos três filmes; o sucesso internacional
de Zequinha, inclusive com as cópias dos recibos de direitos autorais vindos de
Portugal, Áustria, Suécia, Bélgica e Suíça; uma rara curiosidade: o registro de
quatro músicas desconhecidas do público brasileiro, mas que circularam na
Suíça; a passagem do cantor no Carnaval carioca; sobre os compactos, um com
marchinhas de carnaval e outro com músicas orquestradas; notícias sobre o
cantor divulgadas em revistas nacionais; e a comoção com a morte do cantor em
1974.
Zé
Mendes fez tanto em tão pouco tempo, o que já é, pelos padrões, motivo de
admiração. Por isso, quem aprecia cultura gaúcha, não pode deixar de ter PÁRA,
PEDRO!, o livro, na estante – ainda mais porque Ajadil Costa escreve a
biografia em linguagem acessível ao público em geral, de fácil assimilação. O
livro ainda possui um prefácio escrito por José Mendes Júnior – que, inclusive,
gravou um CD interpretando músicas do pai. Detalhe também para as orelhas do
livro – com texto de Marina Brito Boschi – que possuem um recorte especial de
modo a formar a silhueta de um violão.
Para
este dia 20 de setembro, nada mais adequado que recordar a cultura gaúcha de
raiz.
PARA ENCERRAR...
Não
tendo outra coisa, coloco hoje mais um trecho do atual arco de tiras do meu
personagem gaúcho, o Teixeirão. Acho que agora vai: A Irmandade do Chimarrão, o atual arco de tiras, já se encaminha
para o seu final, depois de mais de 150 tiras!
Confiram
as tiras mais recentes em https://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/,
com uma cuia de chimarrão do lado.
E,
com isso, deixamos nossa lembrança do dia 20 de setembro. Em breve, falamos
mais do Rio Grande do Sul, no nosso blog.
Até
mais!
Um comentário:
Boa tarde,sou desse grande cantor gaúcho JOSÉ MENDES 67/ 68 aó por diante já ouvia este grande cantor tenho todos os discos dele este livro do escritor Adjail e um livrinho de músicas número-2,e este livro da sétima edição,e também tenho todos os CDs que que saíram (remasterizados) e também os DvdS dos 3 filmes/Pára...Pedro/Não Aperta Aparício e A Morte Não Marca Tempo.GRANDE JOSÉ MENDES.
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