Olá.
Nos
últimos dias, voltei a falar de quadrinhos, de álbuns e gibis brasileiros
recentes e antigos, um breve retorno ao presente depois de tantas incursões
pelo passado. Aqui vai mais um quadrinho brasileiro recente. Aqui vai mais um
álbum do selo Graphic MSP, projeto (tenho dito tantas vezes antes) da Maurício
de Sousa Produções, com edição do também editor do site Universo HQ, Sidney
Gusman, e encampado pela Panini Comics, que segue com os gibis da Turma da
Mônica, tanto os “clássicos” como a versão jovem.
Neste
segundo semestre de 2016, serão três álbuns, dois já foram lançados – Mônica – Força, por Bianca Pinheiro, em
agosto último, e o álbum do qual vou falar hoje, BIDU – JUNTOS, de Eduardo
Damasceno e Luís Felipe Garrocho, em outubro último, embora algumas praças
estejam recebendo o álbum nesta segunda quinzena de novembro.
NOTÍCIAS RECENTES...
Como
sempre faço, quando resenho neste humilde e depreciável blog (o qual nem
Maurício de Sousa, nem Sidney Gusman nem a Panini Comics devem saber a
existência, entre tantos outros veículos virtuais de comunicação), lembro aos
leitores quais foram os álbuns anteriores da série que reinterpreta os
personagens de Maurício de Sousa para o público mais maduro, pelas mãos de
nomes agora importantes da indústria nacional de HQs, que se esforçam muito
para entregar trabalhos de grande esmero técnico e artístico. São, até o
momento, três “levas” de álbuns, a serem completados quando o último álbum for
lançado, em dezembro:
1ª
LEVA:
- Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth
e Cris Peter – outubro de 2012;
- Turma da Mônica – Laços, de Vítor e Lu
Cafaggi – maio de 2013;
- Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo
Duarte – agosto de 2013;
- Piteco – Ingá, de Shiko – novembro de
2013.
2ª
LEVA:
- Bidu – Caminhos, de Eduardo Damasceno e
Luís Felipe Garrocho – agosto de 2014;
- Astronauta – Singularidade, de Danilo
Beyruth e Cris Peter – dezembro de 2014;
- Penadinho – Vida, de Paulo Crumbim e
Cristina Eiko – maio de 2015;
- Turma da Mônica – Lições, de Vítor e Lu
Cafaggi – julho de 2015;
- Turma da Mata – Muralha, de Artur
Fujita, Roger Cruz e Davi Calil – setembro de 2015;
- Louco – Fuga, de Rogério Coelho –
novembro de 2015.
3ª
LEVA:
- Papa-Capim – Noite Branca, de Marcela
Godoy e Renato Guedes – abril de 2016;
- Mônica – Força, de Bianca Pinheiro –
agosto de 2016.
BIDU
– JUNTOS, continuação direta de Bidu –
Caminhos, pelos mesmos Damasceno e Garrocho, é o 13º álbum da série Graphic
MSP, e penúltimo da 3ª leva.
Mudanças
já foram anunciadas por Sidney Gusman para a série. Ele deu a entender, via
redes sociais, que, em 2017, mais álbuns sairão, uma vez que ele anunciou que os próximos álbuns passarão a ter 96
páginas, sendo 80 de quadrinhos e 16 de extras e créditos – ao invés das 84 dos
álbuns anteriores, sendo 70 de quadrinhos e 14 de extras e créditos. Meio que
foi um pedido dos leitores, como medida para que os autores escolhidos consigam
desenvolver melhor as tramas. Os leitores devem ter sentido isso por conta da
fraqueza de títulos como Penadinho – Vida
e Turma da Mata – Muralha, visto
que as tramas não ficaram bem desenvolvidas no espaço “ínfimo” que lhes foi
oferecido – e eu concordo com esses leitores nesse ponto.
Em
dezembro, na Comic Con Experience (CCXP), em São Paulo, vai ser lançado Astronauta – Assimetria, de Beyruth e Peter,
que, além de formar uma trilogia do personagem e terminar a 3ª “leva”, vai
marcar a transição para o aumento de páginas de 84 para 96. Certamente, no
evento, também vão ser anunciados os próximos personagens a ser contemplados
com sua própria Graphic MSP – e quem serão os autores responsáveis.
E
esperamos, enquanto leitores, que esse aumento de páginas possibilite que os
“escolhidos” entreguem trabalhos mais satisfatórios. Porque é notável a perda
progressiva de força na série desde 2012, desde o final da 1ª “leva”.
Ultimamente, o resultado final não tem sido tão empolgante quanto no início. Mônica – Força, até o momento, foi o
melhor álbum desta 3ª “leva”. Mas, e BIDU – JUNTOS? Vamos ver a partir de
agora...
NOTÍCIAS A RESPEITO DOS AUTORES...
Mas,
antes, vamos dar uma olhada em como anda a carreira de Damasceno e Garrocho no
universo das HQB.
Os
mineiros, residentes em Belo Horizonte (Damasceno nasceu em Formiga, MG;
Garrocho nasceu e mora na capital mineira), continuaram fazendo quadrinhos, mas
de forma mais discreta, desde Bidu –
Caminhos. Damasceno continua atuando como produtor editorial, editando HQs
de autores independentes, quadrinhista, professor e co-coordenador do Festival
Internacional de Quadrinhos (FIQ) de Belo Horizonte. Garrocho também continua
nas atividades como professor e quadrinhista.
O
site que revelou a dupla, o Quadrinhos Rasos, não existe mais. Continua ativo o
site de tirinhas solo de Garrocho, o Bufas Danadas, que continua recebendo
atualizações constantes.
Os
dois foram responsáveis, em novembro de 2011, por um marco na história das HQB:
o primeiro álbum conjunto da dupla, Achados
e Perdidos, foi o primeiro álbum de HQB lançado e financiado por meio de crowdfunding, financiamento coletivo
pela internet, abrindo caminho para que outros autores busquem esse caminho
para financiar suas produções independentes, em troca do oferecimento de
“prêmios” e pequenos incentivos aos contribuintes.
No
mesmo mês, Garrocho, solo, lançou, de forma independente, o primeiro volume da
compilação de tiras da série Bufas
Danadas – um segundo volume é lançado em novembro de 2013.
Em
agosto de 2012, Achados e Perdidos foi
relançado pela editora Miguilin.
Em agosto
de 2013, a dupla lança Cosmonauta Cosmo, pela
mesma Miguilin; Garrocho, por sua vez, alia-se a Ricardo Tokumoto, o Ryot,
autor da série Ryotiras e um dos
vencedores do Brazil Mangá Awards (BMA) de 2014, e os dois lançam, em novembro
de 2013, o Super Almanacão de Férias da
Turma do RyotGomba – junto com o segundo volume de Bufas Danadas. Um segundo volume é lançado em novembro de 2015.
Em
agosto de 2014, veio Bidu – Caminhos.
E,
em novembro de 2015, junto com o segundo volume do Super Almanacão, a dupla lança um novo álbum, Quiral, pela editora Mino. Antes disso, em julho de 2015, Garrocho,
o que mais “trabalha” e mais lança, faz uma participação especial no álbum Ciclanos e Ciclanas, da série Joãos e Joanas, de Pedro Hutsch Balboni.
E
não mais que isso até outubro de 2016, quando chega Bidu – Juntos.
AGORA, VAMOS AO ÁLBUM...
BIDU
– JUNTOS, como já dito, é a continuação direta de Bidu – Caminhos. O novo álbum, o último da série com 84 páginas
(contando capa), se utiliza das mesmas técnicas do anterior, na forma e no
conteúdo: um desenho estilizado e quase infantil realizado a quatro mãos, um
roteiro com doses de ternura e melancolia, remetendo fortemente ao universo
infantil, incríveis técnicas de metalinguagem – os autores brincando com os
elementos típicos das HQ, criando um conjunto inédito.
Em Caminhos, Damasceno e Garrocho narram os
percalços pelos quais Bidu, o mais antigo personagem da Maurício de Sousa
Produções e mascote da empresa, passa até encontrar seu dono, o menino gênio
Franjinha. Caminhos contou com a
presença de quatro dos mais notáveis coadjuvantes das histórias do cachorrinho
azul: Duque, Bugu, Rufius e Dona Pedra – além da rápida aparição de Mônica,
Titi e Jeremias.
Agora,
JUNTOS, mais concentrado na relação entre Bidu e Franjinha, conta com a
participação especial de três coadjuvantes de importância, dois deles desde o
tempo em que o gibi próprio de Bidu era publicado pela editora Continental, no
fim da década de 1950: o negrinho Jeremias e o dentuço Titi; e o cachorro
contrarregra Manfredo, retratado em seu lado animal em vez do antropomórfico,
em que precisa sempre quebrar todos os galhos para que as histórias do Bidu
aconteçam direito.
A
grande surpresa será o leitor descobrir de que maneira Manfredo será inserido
na história de Bidu.
Bem:
para começar, o álbum retrata a convivência, cheia de percalços, do cachorrinho
azul com seu novo dono. O garoto, tomando para si a difícil tarefa de ensinar
Bidu a se comportar, descobre que ter um cachorro não é a maravilha que,
inicialmente, ele pensava que fosse. Ainda mais que Franjinha, neste álbum,
ainda não é o menino gênio consagrado nos gibis convencionais – em verdade, nem
parece o menino que teve a ideia genial para conseguir o cachorro em Caminhos.
Vindo
das ruas, e a elas acostumado, Bidu tem sérios problemas de adaptação, como
todo cachorro quando ganha um novo lar: enquanto fica dentro da casa, mastiga
roupas, faz xixi onde não deve, tenta comer a bolinha de borracha que ganha de
Franjinha, testa a paciência da mãe do menino. Franjinha, inclusive, faz um
diário – o texto em off que aparece nos quadrinhos – para relatar as tentativas
de ensinar Bidu a se comportar, e imagina-se como um aventureiro espacial
acompanhado de seu cachorro-robô em missões pelo cosmo.
Se
faz notar, inclusive, que os dois tem sérios problemas de comunicação: Bidu
quer falar uma coisa, mas Franjinha entende outra, ou melhor, só entende
latidos. Por exemplo, na cena em que Franjinha está na garagem da casa traçando
planos para brincadeiras em conjunto, e Bidu, vendo o carro ali estacionado,
quer contar ao dono sobre sua vida anterior, quando sua moradia era uma carcaça
de automóvel abandonada em um terreno baldio. Claro que Franjinha não entende
nada, só entende latidos – e nem porque Bidu sobe no carro e senta-se no capô.
Oh:
Bidu continua falando através de ícones dentro dos balões, e cabe ao leitor
interpretar, através dos pequenos desenhos dentro deles, o que o cachorrinho
está dizendo. Tal como em Caminhos – a
diferença é que JUNTOS tem mais texto. Já volto a essa parte.
Bão.
A gota d’água dessa convivência se dá quando Bidu é, um dia, deixado sozinho
dentro de casa – Franjinha tem de ir junto com a mãe não se sabe onde. Na
crença de que Franjinha não vai mais voltar, o cachorrinho começa a bagunçar a
casa – e, quando os donos voltam, a casa está praticamente arruinada. Bidu tem
dificuldades para entender o que é certo e o que é errado, principalmente
porque só consegue entender algumas poucas palavras da bronca que Franjinha
leva da mãe.
Mas
essa gota d’água acaba determinante para que Bidu acabe tendo de morar no
quintal da casa, amarrado a uma árvore. Franjinha, inclusive, constrói sua
casinha. Porém, Bidu começa a ficar melancólico. Não utiliza a casinha, não
come, não brinca mais, como se tivesse se decepcionado com seu dono, antes tão
receptivo – e não entende que é a contragosto que Franjinha tem de fazer tudo
isso.
E
passam-se dias nessa melancolia, sob chuva e sol, até que Bidu tem uma
desagradável surpresa: um cachorro novo aparece de repente, através de um buraco
no muro da casa. Começa a mexer em suas coisas, comer sua comida, indo embora e
voltando no dia seguinte. Isso deixa Bidu contrariado – e o pior é que ele nem
consegue contar o ocorrido para Franjinha, que pensa que foi Bidu quem comeu a
comida.
Conforme
os dias passam, Bidu acaba ficando apreensivo, sem ter como impedir o cachorro
folgado de atacar seu prato – e ele o faz, inclusive, escondido; no entanto,
quando finalmente consegue pegá-lo, acaba finalmente compreendendo o lado do
cachorro estranho: ele é cão de rua, tal como Bidu foi. Veio até ali faminto, e
encontrou naquela casa uma salvação. E é através dessa companhia que Bidu
finalmente pode repensar seu relacionamento com seu dono. Os dois acabam
ficando, afinal, amigos. Até Franjinha nota a presença desse cachorro.
E é
aí que entram Jeremias, que, em suas conversas com Franjinha, não entende suas
reclamações a respeito de ter um cachorro, Titi, em uma rápida aparição, e...
Manfredo. Não, melhor não entregar todo o ouro agora. Uma parte já acabei
entregando, se vocês não perceberam...
Bem,
mas o mais importante é que, em JUNTOS, ocorre um aprendizado: na tentativa de
ensinar Bidu a se comportar, no fim, é Franjinha quem acaba aprendendo com o
cachorrinho. Caberá a este tomar uma decisão final sobre os dois...
E a
história segue assim, de modo que o leitor porventura acabe se identificando
com as situações apresentadas – quem tem, ou já teve um cachorro, sabe que é
difícil ensiná-lo a fazer o que não se deve, a fim de que a convivência seja
harmoniosa. É a ótica ora infantil, ora canina, da relação menino-cão.
Até
a arte de JUNTOS ganha uma refinada. A aparência de Franjinha muda ligeiramente
– por exemplo, suas sobrancelhas estão mais grossas que em Caminhos. As cores são mais fortes, mas Damasceno e Garrocho acabam
fazendo uma arte mais poluída que no álbum anterior. São mais detalhes, mais
cores, e várias sequências acabam prejudicando os olhos do leitor. E sem a
tradução de sentimentos de melancolia da forma como fizeram em Caminhos. O roteiro, em uma primeira
lida, parece inconclusivo, como se não tivesse indefinido se Bidu finalmente
vai se comportar ou não – se faz necessária a segunda leitura do álbum para
captar os elementos para a devida compreensão de sua proposta. Mas calma, a
história é simples e emocionante, na medida para ganhar uma adaptação para
filme (ah, falando nisso, eu já contei que Turma
da Mônica – Laços vai ganhar uma adaptação para o cinema?).
A
metalinguagem presente nos quadrinhos garante a parte artística – tanto nos
balões com ícones quanto nas onomatopeias que “interagem” com os personagens,
embora com menos intensidade que em Caminhos.
Mas agora entram novos elementos: ícones “rasurados” com um grande “au” nos
balões de “fala” de Bidu e textos “rasurados” nos balões de fala dos humanos,
para traduzir o que Bidu está de fato entendendo. A leitura não leva mais que
15 minutos – incluindo os extras.
Falando
nos extras, eles não podem faltar: a obrigatória introdução de Maurício de
Sousa; cenas dos bastidores da criação da HQ (com as referências fotográficas
usadas pela dupla no processo); o histórico dos personagens, incluindo os de
Jeremias e Manfredo, revelando que houve duas versões de uma história de origem
de Bidu e Franjinha (uma publicada nos gibis da Continental em 1960, e outra
nos da Editora Abril, em 1972); as biografias atualizadas de Damasceno e
Garrocho; e o posfácio de 4ª capa do zootecnista e apresentador de TV Alexandre
Rossi.
Aos
preços de R$ 23,00 (versão em capa cartonada) e R$ 34,00 (versão em capa dura).
RANKING PESSOAL
Como
BIDU – JUNTOS acabou ficando na classificação geral pessoal do Estúdio
Rafelipe, levando em conta roteiro, texto e impacto? Aqui vai o ranking...
1º - Mônica - Força
2º - Turma da Mônica –
Lições
3º - Bidu – Caminhos
4º - Bidu – Juntos
5º - Papa-Capim –
Noite Branca
6º - Louco – Fuga
7º - Turma da Mônica -
Laços
8º - Piteco – Ingá
9º - Penadinho – Vida
10º - Chico Bento –
Pavor Espaciar
11º - Astronauta –
Magnetar
12º - Astronauta –
Singularidade
13º - Turma da Mata –
Muralha.
O
ranking acaba de ser reavaliado! Relendo mais uma vez Bidu – Caminhos, foi de bom alvitre elevá-lo para o terceiro lugar
no ranking pessoal. BIDU – JUNTOS fica, portanto, em quarto, pois não conseguiu
o mesmo impacto que Caminhos. Mônica –
Força segue em primeiro, seguido de Turma
da Mônica – Lições. Por consequência, Papa
Capim – Noite Branca, Louco – Fuga e Turma
da Mônica – Laços caem de posição com relação ao ranking anterior; os
restantes álbuns praticamente continuam nas mesmas posições.
Agora,
esperemos, irmãos, por Astronauta –
Assimetria. Será que, com mais páginas, ele não pode ser pior que Singularidade? Ah, saudades dos dias em
que a coleção realmente dava o que falar...
PARA ENCERRAR...
...não
tendo outra coisa para colocar, vamos, mesmo, com as tiras de minha personagem
Letícia. Estas aqui são as mais recentes, após a tira número 800 – e estas aqui
contam, agora, com a presença dos animais que fazem parte da série, incluso a mudança de visual de um deles, e um
personagem novo!
E a
série continua – em tempo recentes, sem a presença de Letícia. Não consigo
fazer entrar na cabeça que o ideal, para tornar essa série mais “comercial”,
seria fazer arcos de tiras com menos situações... Muita gente consegue encerrar
uma situação, uma historinha completa, em até cinco tiras, mas eu... eu não, eu
preciso de mais de cem tiras para encerrar uma situação! Isso ficaria bem em
tiras de aventura, mas minhas tiras são humorísticas, em estilo caricato, e o
normal é que tiras humorísticas sejam encerradas, no mínimo, em uma única tira,
no máximo cinco, logo...
E
encerramos, por hora. Aguardem novidades.
Ah:
na mesma CCXP onde Astronauta –
Assimetria vai ser lançado, que ocorrerá de 1o. a 4 de dezembro, também ocorrerá o lançamento da Quadrante X, novo número da revista do
Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S.A.. Saibam mais a
respeito no blog do Quadrinhos S.A. (https://quadrinhossa.blogspot.com.br/).
Agora
sim, encerramos.
Até
mais!
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