quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PRISMA NEGRO - vocês entenderão o que falei quando chegar o dia do eclipse?

Olá.
Passei um tempo sumido... estive cuidando de alguns assuntos. Relacionados a trabalhos futuros. Já devo ter falado de alguns deles em algum momento, neste blog. Mas eu me esforço para não deixar meus 17 leitores vendo navios, sei justificar minhas faltas. Escrever, desenhar e atualizar os meus blogs já é mais que um simples hobby para mim.
Bem. Hoje, vou falar de quadrinhos. De um lançamento independente. De um promissor gibi produzido e impresso às custas de seu autor, do qual já falei anteriormente.
Hoje, então, vou falar de PRISMA NEGRO.

PRISMA NEGRO foi lançado bem recentemente, no final de novembro de 2016. Enquanto a maioria de meus colegas cartunistas conhecidos esteve lançando trabalhos e se divertindo na Comic Con Experience (CCXP) que estava sendo realizada em São Paulo, SP, entre os dias 1º e 4 de dezembro, o autor deste gibi, que até onde pude saber não teve como sair de sua cidade, de seu estado, dependeu basicamente da troca de informações nas redes sociais para divulgar seu trabalho.
Do seu autor, eu já cheguei a falar brevemente, quando recomendei seu blog. Andy Corsant, mora em Santa Catarina, e sua atividade como desenhista é eventual. Seu trabalho é divulgado, basicamente, em seu blog, o Asmopleon Danteredun (https://andycorsant.blogspot.com.br). As histórias em quadrinhos divulgadas neste blog são, em boa parte, sérias e transcendentais, combinando pessimismo e humor negro, como se o autor visse o mundo com o céu sempre nublado, um mundo sempre cinza, com cores artificiais para disfarçar. Na definição clássica, Andy Corsant é um autor underground – categoria em que se encaixam outros autores dos quais fiz referência em algum momento deste blog, como Jefferson Adriano e Laerçon J. Santos, cujo trabalho não é do tipo que sai com facilidade em revistas de grande circulação.
Não que Andy Corsant, de repente, não tenha chance no “mercado” brasileiro de quadrinhos, pois seu traço é mais trabalhado que o dos autores anteriormente citados. Não se deixe enganar pela parcimônia de linhas e traços.
PRISMA NEGRO é uma amostra palpável do trabalho desse catarinense. Nesta pequena graphic novel, ele nos apresenta uma história transcendental, urbana e com doses de misticismo e poesia, mas simples e otimista. Não é como a maioria das histórias publicadas atualmente pelos autores brasileiros, que apostam na violência e na distopia – já que os tempos de crise econômica brasileira se apresentam dessa forma.
Bão: o gibi é em preto e branco, com capa colorida; apesar das exíguas 52 páginas – contando capa – a história é praticamente completa, o autor se esforçou para não deixar nenhuma ponta solta na narrativa. Alguns detalhes exigem atenção para serem compreendidos, mas Andy Corsant respeita o seu leitor, não exige demais dele. E oferece para o mainstream (o público exposto à “luz”) uma amostra do que está sendo produzido nas “trevas” da urbanidade, da cultura marginal, aquela que luta para não ser descaracterizada pelo mercado quando tenta subir a superfície. Estão conseguindo me entender?
Well. A trama de PRISMA NEGRO trata de três adolescentes que, passando por um mau momento em suas vidas particulares, acabam se unindo em circunstâncias peculiares e entram em uma jornada que mudará suas vidas.
Lina descobriu que ficou grávida de um rapaz ainda mais jovem, e incapaz de assumir a paternidade; Olavo, aluno de uma conceituada escola de segundo grau, se sente injustiçado por conta da perseguição de um professor arrogante, que insiste em não aprova-lo em sua matéria; e Cícero não consegue suportar a dor de ter acabado seu namoro e ainda ser humilhado pela garota que amava. Esses três jovens se encontram, assim, em uma encruzilhada em suas vidas. E, dentro de poucos dias, acontecerá um eclipse solar sobre a cidade...
Foi nesse momento, em que os três, que não se conheciam, mas que estavam sob o mesmo estado de desespero, são abordados, cada um, por um estranho homem, que solicita a cada um deles apenas a transferência de dados para o celular. O homem passa aos jovens três arquivos de áudio. Três músicas de uma banda desconhecida, chamada Prisma Negro. E essas três músicas, de alguma forma, mexem com a cabeça dos jovens, pois elas traduzem em versos os seus sentimentos.
Meio que guiados pelas três músicas, os jovens acabam, por acaso, se encontrando, porém certos de que, de alguma forma, deveriam se encontrar. Da conversa inicial, acaba surgindo uma amizade, uma união, para desvendar os mistérios que cercam os acontecimentos. Os três vão se informar a respeito da banda em uma loja de discos, e o vendedor os informa: o Prisma Negro é uma banda formada por três irmãos que, após passarem por uma tragédia pessoal, gravaram apenas três músicas antes de se suicidar.
As informações adicionais a respeito do Prisma Negro ainda envolvem uma música dos Beatles, o cineasta Roman Polanski e os crimes da seita de Charles Manson – a cadeia de acontecimentos conhecida como Helter Skelter. Desse modo, Lina, Olavo e Cícero acabam se envolvendo em uma nova cadeia de acontecimentos, e, envolvidos pelo Prisma Negro, acabam recebendo uma missão subliminar: salvar um garoto – um tal de “Menino Arma” – de um destino trágico, durante o eclipse solar.
Tudo enquanto a vida parece apresentar novos rumos aos três jovens: Cícero tem a chance de encontrar um novo amor; Olavo recupera aos poucos a confiança em si mesmo para resolver problemas matemáticos; e Lina pondera sobre ter o bebê ou não.
Assim, até o surpreendente final a história – que envolve ainda mais um personagem adulto, um andarilho, o vértice final de uma estranha tríade – se desenrola PRISMA NEGRO, um drama underground, sem maiores traços de humor, sustentado pela poesia marginal (no melhor sentido do termo), desenhado em linha clara, mas carregado de preto – dando a impressão de que a história se passa sempre à noite – em traço econômico, porém expressivo o suficiente para sustentar a história. Andy Corsant mostra detalhismo suficiente para que a história se feche no espaço que lhe coube – até porque não são grandes os lances de ação, grande parte da história é composta de diálogos. Alguns dos melhores efeitos da arte ficam por conta da representação do eclipse solar.
Talvez o leitor não consiga assimilar os personagens principais, com pouca individualidade – em numerosos momentos, Lina, Olavo e Cícero pensam e agem como se fossem uma só pessoa – e com poucas opções de expressão facial e corporal, praticamente “títeres” do Helter Skelter. A grande revelação do enredo talvez fique por conta do segredo que cerca os três misteriosos personagens secundários: o homem que passa as músicas, o vendedor de discos e o andarilho. E mesmo o “Menino Arma”, no fim, não parece grande coisa.
Porém, PRIMA NEGRO ganha pela ambientação urbana, praticamente noturna. A tradução em traços do sentimento de quem gosta de vagar sem rumo pela cidade escura, iluminada por postes e faróis de automóveis. Ao som de bandas de rock alternativas, opções para fugir do que o mainstream tem oferecido (praticamente só batidas rápidas sem melodia e letras duvidosas movidas a viola e acordeon – vocês devem saber do que estou falando); músicas e poesias que realmente tocam na alma, e, quem sabe, oferecem opções para superar momentos difíceis.
É difícil explicar ao público em geral o que esperar de PRISMA NEGRO. A melhor alternativa ainda é a leitura integral. Eu, deste humilde blog, já iniciei uma corrente de divulgação, uma ajuda para Andy Corsant divulgar este belo trabalho.
O gibi sai a R$ 10,00. Para adquirir, escrevam para o autor através do e-mail andy.corsant@gmail.com, ou acessem o link da loja no blog Asmopleon Danteredun. Prepare-se para ver os quadrinhos brasileiros de outra maneira.
Para encerrar, já que falamos de urbanidade, de escuridão noturna, resolvi fazer duas ilustrações especiais, feitas mais por fazer, tentando traduzir a escuridão através do sombreamento a lápis HB.
Quer dizer, não tanto feitas apenas por fazer (faz tempo que não fazia ilustrações apenas para treino, para ter com o que acompanhar minhas postagens). Em verdade, estas ilustrações fazem parte de um futuro projeto a ser desenvolvido, envolvendo a noite. Estou pensando se desenvolvo o projeto em forma de quadrinhos ou de texto ilustrado, porque a história eu tenho em mente, sim. Aguardem mais detalhes – serão dados no correr do tempo...
E, por hora, ficamos por aqui. Aguardem novidades para este final de ano – e o seguinte, se sobrevivermos.
Até mais!

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