Olá.
Passei
um tempo sumido... estive cuidando de alguns assuntos. Relacionados a trabalhos
futuros. Já devo ter falado de alguns deles em algum momento, neste blog. Mas
eu me esforço para não deixar meus 17 leitores vendo navios, sei justificar
minhas faltas. Escrever, desenhar e atualizar os meus blogs já é mais que um
simples hobby para mim.
Bem.
Hoje, vou falar de quadrinhos. De um lançamento independente. De um promissor
gibi produzido e impresso às custas de seu autor, do qual já falei
anteriormente.
Hoje,
então, vou falar de PRISMA NEGRO.
PRISMA
NEGRO foi lançado bem recentemente, no final de novembro de 2016. Enquanto a
maioria de meus colegas cartunistas conhecidos esteve lançando trabalhos e se
divertindo na Comic Con Experience (CCXP) que estava sendo realizada em São
Paulo, SP, entre os dias 1º e 4 de dezembro, o autor deste gibi, que até onde
pude saber não teve como sair de sua cidade, de seu estado, dependeu
basicamente da troca de informações nas redes sociais para divulgar seu
trabalho.
Do
seu autor, eu já cheguei a falar brevemente, quando recomendei seu blog. Andy Corsant, mora em Santa Catarina, e sua atividade como
desenhista é eventual. Seu trabalho é divulgado, basicamente, em seu blog, o
Asmopleon Danteredun (https://andycorsant.blogspot.com.br).
As histórias em quadrinhos divulgadas neste blog são, em boa parte, sérias e
transcendentais, combinando pessimismo e humor negro, como se o autor visse o
mundo com o céu sempre nublado, um mundo sempre cinza, com cores artificiais
para disfarçar. Na definição clássica, Andy Corsant é um autor underground –
categoria em que se encaixam outros autores dos quais fiz referência em algum
momento deste blog, como Jefferson Adriano e Laerçon J. Santos, cujo trabalho
não é do tipo que sai com facilidade em revistas de grande circulação.
Não
que Andy Corsant, de repente, não tenha chance no “mercado” brasileiro de
quadrinhos, pois seu traço é mais trabalhado que o dos autores anteriormente
citados. Não se deixe enganar pela parcimônia de linhas e traços.
PRISMA
NEGRO é uma amostra palpável do trabalho desse catarinense. Nesta pequena
graphic novel, ele nos apresenta uma história transcendental, urbana e com doses
de misticismo e poesia, mas simples e otimista. Não é como a maioria das
histórias publicadas atualmente pelos autores brasileiros, que apostam na violência
e na distopia – já que os tempos de crise econômica brasileira se apresentam
dessa forma.
Bão:
o gibi é em preto e branco, com capa colorida; apesar das exíguas 52 páginas –
contando capa – a história é praticamente completa, o autor se esforçou para
não deixar nenhuma ponta solta na narrativa. Alguns detalhes exigem atenção
para serem compreendidos, mas Andy Corsant respeita o seu leitor, não exige
demais dele. E oferece para o mainstream (o público exposto à “luz”) uma
amostra do que está sendo produzido nas “trevas” da urbanidade, da cultura
marginal, aquela que luta para não ser descaracterizada pelo mercado quando
tenta subir a superfície. Estão conseguindo me entender?
Well.
A trama de PRISMA NEGRO trata de três adolescentes que, passando por um mau
momento em suas vidas particulares, acabam se unindo em circunstâncias
peculiares e entram em uma jornada que mudará suas vidas.
Lina
descobriu que ficou grávida de um rapaz ainda mais jovem, e incapaz de assumir
a paternidade; Olavo, aluno de uma conceituada escola de segundo grau, se sente
injustiçado por conta da perseguição de um professor arrogante, que insiste em
não aprova-lo em sua matéria; e Cícero não consegue suportar a dor de ter
acabado seu namoro e ainda ser humilhado pela garota que amava. Esses três
jovens se encontram, assim, em uma encruzilhada em suas vidas. E, dentro de
poucos dias, acontecerá um eclipse solar sobre a cidade...
Foi
nesse momento, em que os três, que não se conheciam, mas que estavam sob o
mesmo estado de desespero, são abordados, cada um, por um estranho homem, que
solicita a cada um deles apenas a transferência de dados para o celular. O
homem passa aos jovens três arquivos de áudio. Três músicas de uma banda
desconhecida, chamada Prisma Negro. E essas três músicas, de alguma forma,
mexem com a cabeça dos jovens, pois elas traduzem em versos os seus
sentimentos.
Meio
que guiados pelas três músicas, os jovens acabam, por acaso, se encontrando,
porém certos de que, de alguma forma, deveriam se encontrar. Da conversa
inicial, acaba surgindo uma amizade, uma união, para desvendar os mistérios que
cercam os acontecimentos. Os três vão se informar a respeito da banda em uma
loja de discos, e o vendedor os informa: o Prisma Negro é uma banda formada por
três irmãos que, após passarem por uma tragédia pessoal, gravaram apenas três
músicas antes de se suicidar.
As
informações adicionais a respeito do Prisma Negro ainda envolvem uma música dos
Beatles, o cineasta Roman Polanski e os crimes da seita de Charles Manson – a
cadeia de acontecimentos conhecida como Helter Skelter. Desse modo, Lina, Olavo
e Cícero acabam se envolvendo em uma nova cadeia de acontecimentos, e,
envolvidos pelo Prisma Negro, acabam recebendo uma missão subliminar: salvar um
garoto – um tal de “Menino Arma” – de um destino trágico, durante o eclipse
solar.
Tudo
enquanto a vida parece apresentar novos rumos aos três jovens: Cícero tem a
chance de encontrar um novo amor; Olavo recupera aos poucos a confiança em si
mesmo para resolver problemas matemáticos; e Lina pondera sobre ter o bebê ou
não.
Assim,
até o surpreendente final a história – que envolve ainda mais um personagem
adulto, um andarilho, o vértice final de uma estranha tríade – se desenrola
PRISMA NEGRO, um drama underground, sem maiores traços de humor, sustentado
pela poesia marginal (no melhor sentido do termo), desenhado em linha clara,
mas carregado de preto – dando a impressão de que a história se passa sempre à
noite – em traço econômico, porém expressivo o suficiente para sustentar a
história. Andy Corsant mostra detalhismo suficiente para que a história se
feche no espaço que lhe coube – até porque não são grandes os lances de ação,
grande parte da história é composta de diálogos. Alguns dos melhores efeitos da
arte ficam por conta da representação do eclipse solar.
Talvez
o leitor não consiga assimilar os personagens principais, com pouca individualidade
– em numerosos momentos, Lina, Olavo e Cícero pensam e agem como se fossem uma
só pessoa – e com poucas opções de expressão facial e corporal, praticamente
“títeres” do Helter Skelter. A grande revelação do enredo talvez fique por
conta do segredo que cerca os três misteriosos personagens secundários: o homem
que passa as músicas, o vendedor de discos e o andarilho. E mesmo o “Menino
Arma”, no fim, não parece grande coisa.
Porém,
PRIMA NEGRO ganha pela ambientação urbana, praticamente noturna. A tradução em
traços do sentimento de quem gosta de vagar sem rumo pela cidade escura,
iluminada por postes e faróis de automóveis. Ao som de bandas de rock
alternativas, opções para fugir do que o mainstream tem oferecido (praticamente
só batidas rápidas sem melodia e letras duvidosas movidas a viola e acordeon –
vocês devem saber do que estou falando); músicas e poesias que realmente tocam
na alma, e, quem sabe, oferecem opções para superar momentos difíceis.
É
difícil explicar ao público em geral o que esperar de PRISMA NEGRO. A melhor
alternativa ainda é a leitura integral. Eu, deste humilde blog, já iniciei uma
corrente de divulgação, uma ajuda para Andy Corsant divulgar este belo
trabalho.
O
gibi sai a R$ 10,00. Para adquirir, escrevam para o autor através do e-mail andy.corsant@gmail.com, ou acessem o link da loja no blog Asmopleon Danteredun. Prepare-se para ver os quadrinhos brasileiros de outra maneira.
Para
encerrar, já que falamos de urbanidade, de escuridão noturna, resolvi fazer
duas ilustrações especiais, feitas mais por fazer, tentando traduzir a
escuridão através do sombreamento a lápis HB.
Quer
dizer, não tanto feitas apenas por fazer (faz tempo que não fazia ilustrações
apenas para treino, para ter com o que acompanhar minhas postagens). Em verdade,
estas ilustrações fazem parte de um futuro projeto a ser desenvolvido,
envolvendo a noite. Estou pensando se desenvolvo o projeto em forma de
quadrinhos ou de texto ilustrado, porque a história eu tenho em mente, sim.
Aguardem mais detalhes – serão dados no correr do tempo...
E,
por hora, ficamos por aqui. Aguardem novidades para este final de ano – e o
seguinte, se sobrevivermos.
Até
mais!
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