Conforme combinado postagens atrás, trago a meus 17 leitores mais um capítulo de minha nova experiência, um romance de folhetim ilustrado. Eis aqui o segundo capítulo de MACÁRIO.
Lembrando que os capítulos, em princípio, serão publicados a cada duas semanas, aos domingos, e sempre acompanhados de quatro ilustrações. Se houver alguma excepcionalidade, vocês saberão.
ATENÇÃO: leitura não recomendada a menores de 18 anos; contém insinuação de sexo (ah, isso interessa vocês, né, safados?).
Os estudos e o trabalho seguem de segunda a sexta-feira.
De segunda a sexta, a mesma rotina:
acordar à tarde, me preparar para sair, ir para a faculdade, assistir a aula,
sair da faculdade para o centro da cidade, ir ao bar, vestir o uniforme (com a
gravata borboleta e o avental), atender a boemia, trabalhar até cinco e meia da
manhã (incluindo a limpeza do bar), tirar o uniforme, caminhar até meu
apartamento, fazer uma rápida refeição, relaxar um pouco estudando assuntos da
faculdade ou vendo alguma coisa que esteja passando na televisão, cerca de uma
hora depois me jogar na cama (quando já são cerca de seis e meia, sete da
manhã) e dormir até as três, quatro e meia da tarde. Quando tudo recomeça.
O dia da maioria das pessoas
compreende das seis da manhã até nove, dez da noite, salvo os que resolvem
dormir às onze horas, meia-noite, uma hora, duas da manhã. E ainda conseguem
começar seu dia às seis.
O meu “dia” compreende das quatro da
tarde (salvo compromissos excepcionais que me fazem sair da cama mais cedo) às
sete da manhã. Sou de uma turma notívaga, que tira suas energias da escuridão
da noite e da luminosidade dos postes.
Dizem que minha identidade reside
nesse hábito, de trocar o dia pela noite. Não creio.
Minha identidade, mesmo, reside nos
finais de semana. O dia em que a maioria dos seres diurnos acaba se
transformando em seres noturnos.
Fim de semana das festas. A maioria
das pessoas esquece o trabalho, os problemas, para festejar, com ou sem motivo.
Inclusos os estudantes universitários, inclusos os colegas que criticam meus
hábitos.
O meu patrão me dá dispensa aos
sábados e domingos, apesar de esses dias, evidentemente, serem os de maior
movimento no bar. Uma segunda turma de empregados dá conta desse recado. Pelo
menos por enquanto. Sinto que o dono do bar, a qualquer hora, pode acabar me
alocando para atender nos sábados e domingos – ou só nesses dias, ou também nesses dias.
Mas, enquanto isso não acontece, eu
vou aproveitando. Apenas isso.
Você pode me ver, aos sábados e
domingos, das oito da noite às duas, três da manhã, em qualquer bar, boate ou
danceteria que esteja reunindo a turma boêmia da faculdade. Dos vários cursos
oferecidos pela faculdade. Das várias faculdades da cidade. Das várias escolas
de Ensino Médio da cidade. Qualquer lugar que esteja reunindo o pessoal boêmio,
da juventude ou da “velha guarda”, que gosta de cantar, consumir álcool,
dançar, conquistar seus pares, sob boa iluminação ou iluminação difusa e/ou
piscante vinda de globos espelhados ou feixes de luz colorida. Vocês devem
estar me entendendo.
Quem costuma dar a dica dessas
festas são meus colegas de faculdade, do mesmo curso ou não. Eles me falam
diretamente, ou eu simplesmente ouço falar, sem se dirigirem diretamente a mim.
Ou então simplesmente leio os anúncios colados em postes, pontos de ônibus, ou
fixados em murais de isopor e tecido, com alfinetes. Sempre há os que gostam de
faturar em cima dos hábitos boêmios dos outros. Com alguma antecedência eu já
tenho alguma programação para sábado ou domingo, e torço para que nenhum
imprevisto ocorra. Ou alguma programação extra do curso, ou chuva, ou alguma
tragédia, comigo ou com outras pessoas.
Não tendo nada, tudo bem.
Banho tomado, minha melhor roupa
casual, a mais apropriada para sair. Para hoje escolhi uma camisa de flanela
verde e xadrez, calça jeans cinzenta e sapatos escuros. O relógio despertador
ao lado de minha cama marca oito e meia da noite quando tranco a porta do
apartamento por fora.
Costumo sair sozinho. Não costumo convidar
ninguém para ir comigo, ou aceitar convites para ir com outras pessoas. Quem
conhece meus hábitos, certamente não haveria de convidar um rapaz que troca,
deliberadamente, o dia pela noite... afinal, o que realmente esperar de seres
noturnos, em um mundo que interpreta a escuridão como fonte de diversos males?
Tudo bem que não me chamem. Mas uma
coisa é certa: dos lugares onde vou, costumo entrar sozinho e sair acompanhado.
Modéstia à parte, sou atraente às
garotas.
Vinte anos quase completos (portanto
nenhum problema para frequentar esses lugares, basta apresentar a carteira de
identidade ao porteiro e/ou vigia da entrada), cabelo castanho curto repartido
bem no centro da cabeça, com uma leve franja caindo dos lados. Pele clara,
levemente pálida por falta de exposição mais frequente aos raios solares. Acne leve,
tratada com aquelas pomadas especiais, com bons resultados. Rosto de traços
evidentemente masculinos. Altura mediana, magro, físico nem muito fraco, nem
muito forte – do tipo cuja ginástica é a movimentação do dia a dia, sem
frequentar academias, afinal academias dificilmente funcionam na madrugada. Do
tipo que depende mais da lábia que do físico para descolar um par para passar a
madrugada.
Mas comigo não há problema. Tenho
meus segredos de conquista, aprendidos através de observação e experimentação,
desde quando comecei a cursar o Ensino Médio. Mas não vou revela-los aqui para
não me estender muito. Porque não tenho tempo a perder na boate hoje escolhida.
Peço uma lata de cerveja no balcão
do bar. Hoje, estou no lugar do cliente. Olho para o atendente com simpatia.
Como será o dia-a-dia dele? O trabalho dele é unicamente dos fins de semana, ou
ele trabalha durante a semana também? Mas resolvo não puxar conversa. Hoje, não
sou um colega de profissão desse atendente, sou só um cliente gentil daquele
bar, que já se encontra à espreita de um possível par desacompanhado e
interessante.
A meu lado, alguns colegas de
faculdade. Apesar da iluminação difusa, reconheço os mesmos colegas que acham
esquisito o fato de eu sair à noite. E acham ainda mais esquisito a
tranquilidade que aparento, apesar de estarem muito entusiasmados pela noite
que está começando. Que será que eles fizeram durante o dia? Eu estou mais
desperto do que eles. Enquanto eles, saindo daqui, cairão na cama e dormirão
por volta das duas da madrugada, com ou sem companhia, eu, às duas da madrugada,
ainda estarei disposto a fazer festa. A disposição cairá apenas no raiar do
sol, quando aí cairei no sono. Pena que o par que vou escolher não vai resistir
até o nascer do sol, e vai dormir ainda no auge da minha disposição. Há de
deitar-se envolvida nos braços de dois seres: Morfeu e Macário.
Morfeu, o Deus grego do sono.
Macário, o simples mortal, capaz de ir além das capacidades normais...
A boate está cheia, muitos tipos
interessantes estão circulando na pista, ambos os cromossomos, XX e XY, com o
qual nasceram – e, a qualquer momento, podem mudar, física e psicologicamente,
mas dificilmente biologicamente.
A minha preferência é o cromossomo XX,
seres nascidos originalmente com a classificação original de “sexo feminino”.
Meus colegas estão discutindo entre eles quais os pares mais interessantes
dentre a fauna XX que está passando diante de nós, tantas roupas, cabelos,
acessórios e maquiagens, indo das mais comuns para as mais exóticas. Pelas
roupas, pelo cabelo, pelos seios e pelos quadris (para evitar os tradicionais
termos chulos), não dá para garantir se a pessoa escolhida é mesmo,
naturalmente, cromossomo XX. Os tempos hoje estão muito complicados.
Alguns colegas já relataram que, ao
tentar uma conquista, só descobrem “naquela” hora, a do “matadouro” (para usar
um eufemismo “da moda”), que o par não é necessariamente aquilo que esperavam.
Ou melhor: são frequentes os casos em que colegas heterossexuais acreditam que
o par que arranjaram é naturalmente cromossomo XX, e, na hora que esse par tira
a roupa, revela ser, naturalmente, cromossomo XY. OK, sendo mais direto:
descobrem que as “musas” da noite não passam de travestis.
Nada tenho contra travestis –
diariamente atendo esse tipo de gente no bar. Tenho um amigo, inclusive, que se
tornou travesti (depois eu conto a história dele). Mas eu não consigo me
imaginar indo para a cama com um... ou me tornando um. Não sou do tipo que
agride quem opta por assumir uma identidade inversa à de seu cromossomo
natural. Às vezes não entendo porque homens optam por se vestir e se comportar
como mulheres, mesmo com o risco de não serem socialmente aceitos. Conhecidos
meus expressam, verbalmente e fisicamente, seu repúdio aos travestis. Mas eu
prefiro manter uma posição de não-interferência direta, de respeito aos
travestis.
Sabe-se lá se as “garotas” que estão
circulando na boate, nesse momento, são travestis. Tem quem consiga identificar
se a pessoa é travesti, ou não, apenas pelos traços faciais, pela expressão
corporal. Há, realmente, homens que disfarçam muito mal sua verdadeira condição
quando colocam peruca (ou deixam os cabelos crescerem), vestido, salto alto e
maquiagem. Mas há alguns que capricham tanto na caracterização que dir-se-á que
se tratam de garotas de fato e cromossomo X. Esses merecem consideração.
Eu, por meu turno, tenho sorte de
nunca ter levado um travesti para meu apartamento. O risco é grande, mas, no
momento em que a escolhida se despe diante de mim, ufa! Alívio. Vamos curtir.
Enfim. Aqui estou, em uma boate com
iluminação difusa, o tradicional globo espelhado rodando, uma música agitada
(me pergunto com que instrumentos eles conseguem produzir essa tal de música
eletrônica), uma fauna diversificada na pista, dançando ou parada no canto,
olhando, quando não de olhos fechados, sentindo uma outra pessoa com o tato,
com o paladar, com o olfato e a adição, a visão totalmente bloqueada... Alguns
se bolinando, com o consentimento do outro ou não – nesse segundo caso, às
vezes arme-se um escândalo desnecessário, que compromete a festa. Espero que
esta noite não aconteça de um atrevido qualquer acabar causando o estrago da
noite dos demais...
Eu estou no balcão, com a lata de cerveja,
observando, com o olhar aparentemente desinteressado, um olhar blasé de boi
(algo que desenvolvi com o passar do tempo e do amadurecimento sexual), para
disfarçar um possível interesse. Meus colegas do lado, tentando manter a calma,
mas demonstrando impaciência.
Qual será o “alvo” de hoje? Visualizo
um grupo de garotas reunido ali, no canto, todas entraram na boate a recém; também
observando a pista de dança, certamente também buscando companhia do sexo
oposto. Vejamos...
Será que vou falar com aquela morena de blusa
curta, short de jeans e meia calça rendada? Não, muito esquálida para meu
gosto.
Que tal aquela outra morena, de minissaia e
meia escura? Hum, os seios dela são grandes, mas... melhor não, é muito
cheinha. Nada contra as “cheinhas”, até já “peguei” uma há cerca de dois meses,
mas hoje não.
Então, que tal aquela ruiva de calça apertada
e barriga para fora da blusa curta, o piercing no umbigo aparecendo? Não, dá
para ver que não se trata de uma ruiva legítima: seu rosto, seus braços e sua
barriga não tem uma sarda sequer. Hoje em dia é difícil confiar em quem tinge
os cabelos para aparentar os tipos que os homens estão preferindo na temporada.
Então, talvez aquela de óculos, cabelos
castanhos compridos e calças apertadas... Não, espere, com essa eu já saí há um
mês atrás! E não foi muito legal. Se me apresentar na frente dela, será que vai
me reconhecer? Espero que não... Como é mesmo o nome dela? Disso eu não
lembro...
Então, quem sabe aquela loira de vestido amarronzado
esvoaçante até o joelho e uma bolsinha a tiracolo? Ah, essa mesma!
Seus cabelos claros e compridos até o meio
das costas são quase brancos (ou talvez seja efeito da luz), e dá para notar,
sob o decote discreto, que ela tem bons seios. Os traços do rosto são
evidentemente femininos. A cintura é afinada, mas a barriga, dá para notar, não
é totalmente “seca”, ela faz esforço para eliminar as camadas de gordura ainda
existentes na cintura. Ela faz ginástica: isso fica evidente nos braços,
revelados pela inexistência de mangas no vestido, ligeiramente mais grossos que
os das demais garotas a seu lado. As pernas estão semicobertas pela barra do
vestido, mas os tornozelos são bons. Os quadris são proporcionais aos seios –
ela faz ginástica, é evidente!
Só espero que, no psicológico, não seja do
tipo superficial, como outra loira com a qual saí há uns quatro, cinco meses.
De brilhante, ela só tinha os cabelos – foi uma decepção. Ainda bem que ela não
quis mais nada comigo além de diversão.
Agora, vejamos essa loira, a qual estou
conhecendo hoje.
Ela se afasta alguns passos das
amigas, certamente viu alguém interessante no salão, seu olhar está voltado
para o outro lado. Não é para mim...
Mas aí ela para. E olha decepcionada.
Certamente a companhia do par visado já voltou. Olho. Na mesa, havia um rapaz
moreno. E, na mesa, chegou uma garota também morena, beijando o rapaz. Decerto
essa garota entrou na boate agora, e o rapaz estava esperando-a.
A loira dá uma bufada de decepção e começa a
olhar para os lados novamente. Melhor aproveitar.
Afasto-me do balcão, caminha
maquinalmente em direção à loira. Ela está distraída. Aí, a poucos passos dela,
digo: “oi”.
Ela olha para mim. E sorri.
- Ah... oi.
- Aceita um gole? – digo, oferecendo
a lata de cerveja. – Digo, você toma cerveja?
- Ah, sim, aceito. – Ela responde. –
Estou mesmo com sede.
- Está sozinha?
- Vim com algumas amigas – ela
responde, após sorver um gole da lata.
- E as suas amigas também estão
sozinhas, digo, não tem companhia para elas?
- Estamos todas desacompanhadas
nesse momento. – Ela sorri. – Ah, olha, parece que a Magali já se arranjou... –
olho para a direção que ela olha: a falsa ruiva já está aos beijos com um rapaz
forte, braços grossos de musculação. – Ah, as outras já estão “ocupadas”... –
Ela me faz olhar: a esquálida, a cheinha e a de óculos ainda estão no flerte
com alguns rapazes; a falsa ruiva que não ficou enrolando e já “partiu para o
ataque”... – Bem, elas também não perderam tempo em procurar seus pares... Mas
não estamos procurando compromisso agora. Não é necessariamente de um namorado
que estamos precisando agora, é de afirmação, entende? E quanto a você... – ela
volta para mim o olhar lânguido – está a fim de compromisso?
Antes de responder, dou uma olhada,
de meio segundo, no topo de sua cabeça, na parte onde seu cabelo se reparte. É,
os cabelos parecem legitimamente loiros.
- Eu também não. – Eu sorrio. – Não
creio que alguém aqui esteja procurando alguém para ficar mais que uma ou duas
noites. Pelo jeito, você também não.
- Pois é... – ela ri. – No seu caso,
está na cara... Você não parece do tipo que está procurando um... hum... alguém
para a vida toda.
- Como sabe?
- Seu olhar é de gavião, de
espreita. Serei eu seu alvo de hoje?
Uau, ela presta atenção em tudo! Ela
já havia sido abordada diversas vezes antes de mim.
- Você deve ser o famoso Macário do
curso de Medicina, não é? – ela pergunta, de soslaio.
Levo um breve susto.
- Como sabe?!
- A Viridiana falou a seu respeito.
Viridiana. Lembrei o nome da moça de
óculos e cabelos castanhos.
- Falou bem ou mal?
- Bem, digo, nem muito bem, nem
muito mal. Ressaltou suas qualidades, mas também alertou sobre seus defeitos. Você
partiu o coração dela, verdade?
- N-não. Digo, foi ela quem partiu o
meu.
- Engraçado... ela deu a entender
que você partiu o coração dela... – fico apreensivo. – Disse ainda que você não
acredita em amor, parte muitos corações e seu apartamento é desorganizado, mas
que você é formidável na cama, gentil e uma companhia agradável.
Respiro aliviado, quando constato
que ela me diz isso sorrindo convidativamente.
- Claro. – respondo. – Tudo isso
está certo. Digo, exceto a parte do meu apartamento ser desorganizado. – ambos
rimos.
- Ela disse também que você é
conhecido por trocar a noite pelo dia...
- Você acha isso esquisito?
- Não sei... Mas dane-se o que a
Viridiana falou, eu gostaria, sim, de conhecer melhor o famoso Macário, a
criatura da noite. – Disse, dando um novo sorriso. O qual retribuo.
- Eu... sou famoso?
- Conheço mais de uma das garotas
que já saíram com você. Já falei com a Arminda, com a Plínia Manoela, com a
Créssida, lembra dessas? Não, acho que você não vai lembrar... Uma por final de
semana, certo? Mas, de todo modo, fiquei, sim, com vontade de te conhecer
melhor...
- E eu, desde que entrastes aqui,
fiquei com vontade de te conhecer. Você pode me conhecer, mas eu não te
conheço. Como é o teu nome, para começar?
- Valtéria.
- Valtéria?!
- Pode rir, eu também acho esse nome
ridículo... Homenagem a meu avô. Que falta de sorte, ser a filha mais velha, e
terem decidido que o primogênito receberia o nome em homenagem ao famoso
ativista político, Valter de Olivas...
- Quem é Valter de Olivas? Tantos
ativistas políticos que são notícia pelo país, e eu nunca ouvi falar desse...
- O nome dele não necessariamente
foi além da cidade dele, sabe? Uma cidade de interior que... Hum... quer que eu
conte a história de meu avô? Não é muito interessante, pois não sei se você se
interessa pelo socialismo... Podemos sentar e...
- Depois você conta sobre seu avô.
Agora, eu gostaria de saber da sua história. Da sua. – aponto o dedo, quase
encosto no decote do vestido. – E eu dou mais detalhes da minha, além das que
suas amigas contaram a meu respeito... Aceita uma outra bebida? O que gostaria
de beber?
- Eles servem Cuba Libre aqui? Digo,
você deve conhecer os bares aqui, não? Você costuma vir muito a esta boate? –
ela devolve com um olhar lânguido.
- Mais quando as outras não oferecem
opções mais... interessantes. Hoje escolhi este porque o DJ tem um repertório
excelente para a gente dançar. E, sim, eles servem Cuba Libre. Vamos até o
balcão... Prefere com mais rum ou com mais Coca Cola?
Outra noite de sorte! Não é sempre
que se pode contar com uma companhia agradável como a de Valtéria. A Viridiana
acabou sendo distraída pela investida de um colega meu, então, ela não
interferiu. Decerto se interferisse, não ia ser legal. Quando penso naquela
noite, uma lágrima insiste em querer descer pelo meu olho.
Nem outra das amigas de Valtéria resolveu
intervir. Fora a Viridiana, não conheço nenhuma delas. Só fiquei sabendo que a
falsa ruiva se chama Magali. Talvez eu considere conversar com alguma delas no
próximo fim de semana. Talvez eu dê uma chance à Magali, se ela resolver não se
apaixonar pelo musculoso (às vezes acontece); ou posso dar uma chance à
esquálida, ou à cheinha. Ou à Viridiana, se ela estiver mais calma e aceitar
minhas desculpas. Mas agora estou ocupado com a Valtéria. Tão bonita. Tão
formosa. Tão boa conversa. Tão interessada no simplório Macário notívago.
Que vontade de apalpar seus seios ali mesmo,
no meio do salão. Mas eu não sou tão impulsivo. Minha arma é a calma, o
autocontrole. Não serei eu a causar um escândalo que pode acabar com a noite
dos demais.
Não ficamos muito tempo na boate.
Algumas doses de cerveja e Cuba Libre – ela gosta mais da Coca Cola que do rum;
alguns amendoins salgados e aqueles salgadinhos de trigo sabor churrasco para acompanhar;
cerca de uma hora ouvindo falar nas aventuras do avô ativista político – mas a
loira não tinha disposição para seguir a ideologia socialista, ela resolveu
cursar a faculdade de Engenharia Florestal, acreditava que a preservação das
florestas era mais útil que discutir a forma mais adequada de governar os
homens (ótimo, ela não é superficial, aparentemente); alguns boatos sobre mim
devidamente rebatidos; alguns minutos procurando saber de características dela
que devo levar em consideração nas próximas horas, para que a noite seja
agradável para ambos; algumas doses adicionais daqueles sucos de frutas
misturados com vinho branco; umas quatro ou cinco músicas agitadas de cerca de
dez minutos cada uma dançadas, um olhando para o rosto do outro, um olhar
desviado, de vez em quando, para baixo (calma, Macário, ainda não é hora de apalpar
aqueles seios); alguma outra conversa jogada fora...
E, quando percebi, quando ela percebeu,
quando ambos percebemos, já estávamos na porta de meu apartamento. Esses
momentos passam em um piscar de olhos. Nem lembro direito em que momento propus
que ela viesse comigo para meu apartamento. Nem lembro direito se ela sorriu ou
não quando disse que vinha. Mas agora ela estava sorrindo, ria até. Abraçada e
apoiada em mim, dizendo se sentir um pouco tonta. Oras, nem havíamos bebido
tanto assim. Os salgadinhos ajudaram a evitar as piores consequências da
sapituca. E, felizmente, ninguém no caminho para tentar pegar a bolsa que
Valtéria trazia a tiracolo.
- Agora quero saber, Macário, o que
dizem do teu apartamento... – ela falou.
Outro lapso. Não lembro agora o que
conversamos quando entramos no apartamento, se realmente conversamos. Só lembro
de ela dizer: “é, você tem razão, não é desorganizado, ao menos não tanto
quanto eu imaginava...” Eu não disse? Aí, veio mais uma névoa provocada pelo
álcool...
Quando dei por mim, eu estava no quarto, iluminado
apenas com a tênue luz da luminária sobre a escrivaninha, sentado na cama.
Valtéria, em pé diante de mim, posicionada contra a luz da luminária, jogou a
bolsinha no chão, puxou as alças do vestido dos ombros e o fez, levemente,
descer por seu corpo.
- Não dá mais para me conter, Macário...
Quero ir mais fundo no “assunto”...
Que corpo! Ela realmente fazia
ginástica! Suas pernas eram mesmo bem torneadas. Não estava usando sutiã. E,
felizmente, nenhum “volume extra” sob a calcinha escura. Que vontade de me
apaixonar por ela, de torna-la minha namorada. Mas estava na cara, na língua
que ela passava por seus lábios: comigo ela só queria sexo. E o álcool já
estava subindo à sua cabeça. Por mim tanto faz.
- Tem preservativo, Macário? – ela
pergunta, cobrindo os seios firmes com o braço.
- Na gaveta do criado-mudo,
Valtéria. Pega para mim, por favor? – pergunto, tirando a camisa.
Ela rapidamente acha um pacote com
uma camisinha dentro da gaveta. E olha para mim.
- Que peito... e que braços fortes
você tem, Macário... – ela fala, melifluamente. – Você faz ginástica?
- Só na cama. – respondo, com um
sorriso. – Que seios lindos você tem, Valtéria... você faz ginástica?
- Vários tipos... Quantas
virgindades você já tirou?
- Ah, não lembro... E, pelo jeito,
eu não vou tirar a sua. Já lhe tiraram faz tempo, está na cara...
- Você é tão observador...
- E você é tão gostosa...
- E você é tão... tão... tão!...
Ela estava mesmo com vontade. Será
que ela fazia assim com todos?
De todo modo, ela permitiu que eu,
levemente, apalpasse seus seios. Ela teve um estremecimento. E avançou com sua
boca sobre a minha, me derrubando na cama.
- Mostre-me como faz amor,
Macário... – ela pediu, melifluamente, sentando sobre minhas pernas. – Ou você
não acredita nisso também?
- Depende do que você define como
“amor”, Valtéria... – falo, ofegante. – Você diz, amor o sentimento casto, as
palavras ternas, as flores, a poesia...? Ou o amor... assim? – falo, dando
beijos em seu pescoço, enlaçando-a nos braços, apertando seu peito nu contra o
meu, os corações batendo juntos, as respirações em unissono. Ela estremece, e
geme, e vai se entregando, e desabotoando minha calça...
O relógio despertador ao lado de
minha cama marca duas e quarenta e cinco da madrugada.
Novo capítulo com ilustrações daqui a 15 dias.
Apreciaram? Devo continuar ou não? Manifestem-se! Deixem seu comentário...
E até mais!
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