quarta-feira, 25 de setembro de 2013

LIVROS DA MAGIA - Neil Gaiman, sem maiores comentários

Olá.
Hoje, como há muito tempo tenho feito, voltarei a falar de quadrinhos.
Creio que encontrei, por estes dias, uma forma perfeita para falar de um roteirista consagrado. Ainda mais que era um relançamento de uma cultuada obra do homem em questão, que ninguém estava esperando.
Antes de partir para a obra em questão – pelo título da postagem, vocês já devem saber de que estou falando – vou dizer de que homem estou falando: Neil Gaiman.


GAIMAN
Se referir a Neil Gaiman como o “mago de Portchester” ou mesmo como o “Deus dos Quadrinhos” parece pouco para se referir a esse cultuado, talentosíssimo, superelogiado e incansável escritor. Hoje em dia, quem curte quadrinhos de qualidade conhece bem o nome de Neil Gaiman, nascido em Portchester, na Inglaterra, em 1960. Ele completa duas grandes tríades dos quadrinhos “adultos” dos anos 80: ao nos referirmos aos roteiristas do Reino Unido que iniciaram uma “invasão” acompanhada de uma carreira de sucesso nos EUA no fim dos anos 80, a tríade é: Neil Gaiman, o também inglês Alan Moore e o escocês Grant Morrison. Agora, se nos referirmos aos quadrinhos de um modo geral, na tríade, sai Grant Morrison, entra o estadunidense Frank Miller.
De todo modo, Neil Gaiman, Alan Moore e Frank Miller ajudaram a mudar, em muito, os conceitos que até então tínhamos dos quadrinhos: a partir dos anos 80, os quadrinhos passariam a ser vistos de forma mais séria: deixariam de ser “coisa de criança”. A grande particularidade de Gaiman é o uso que ele faz de elementos como horror, fantasia e referências culturais, criando verdadeiros contos de fadas modernos, que não subestimam a inteligência do leitor. Boa parte da obra de Gaiman é feita para gente mais intelectualizada, mas isso não impede o restante da humanidade de apreciar. E ele escreve tanto para adultos como para crianças. E, quem olha as fotos do homem (como esta acima, extraída da internet), já de cara acha que ele parece mais um roqueiro do que um escritor... Bom, como introdução, está bom.
A carreira de Gaiman começou no jornalismo, depois de muitas recusas de editoras para seus livros. Ele começou a escrever HQ influenciado pelo amigo Alan Moore, também em início de carreira. Mas ele começou a ser notado pelo mercado norte-americano em 1987, quando publicou, com arte de seu parceiro mais constante, Dave McKean, a HQ Violent Cases. O que rendeu a ambos, Gaiman e McKean, um convite para escrever HQ para a poderosa DC Comics. Sua primeira obra para a DC foi a minissérie Orquídea Negra (1988).
Mas seu estouro nas HQ se daria no ano seguinte, quando iniciou a escrever a série Sandman. Vale lembrar que já havia, nas fileiras da editora, outro super-herói com esse nome, nascido nos anos 30. Mas Gaiman criou um novo conceito: o seu Sandman não era apenas o super-herói encapotado que fazia os malfeitores dormir pela ação de um gás sonífero, mas o próprio Deus do Mundo dos Sonhos. Com sua aparência esquálida, melancólica, parecendo mesmo um cantor de rock, Morpheus, um dos Sete Perpétuos – os espíritos que vigiam os rumos do mundo – comandava aquela que era considerada a “HQ para intelectuais”, tal o uso de referências artísticas, misticismo, terror e introspecção. Sandman durou exatas 75 edições, e contou com a arte de vários artistas – McKean desenhou todas as capas. E gerou vários especiais, entre eles Sandman – Os Caçadores de Sonhos (1999), com desenhos do japonês Yoshitaka Amano, e Sandman – Noites Sem Fim (2003), com arte de sete artistas – entre eles, os conhecidos Bill Sienkievicz, Miguelanxo Prado e Milo Manara. E uma das principais personagens da série, a Morte – que ficaria conhecida por ser um ser mais alegre e contrapor-se ao melancólico Morpheus – ganharia também suas séries especiais. Bão, não vamos nos aprofundar, em Sandman, porque não é dessa série que vou falar agora.
Em 1990, ele consegue publicar seu primeiro romance, Good Omens. No mesmo ano, escreve um arco de aventuras do herói Marvelman (Miracleman), o antigo super-herói inglês que já havia sido revitalizado por Alan Moore. O arco, infelizmente, ficou incompleto, mas há chance para este ser concluído, uma vez que a Marvel Comics comprou os direitos de publicação das aventuras do Marvelman em 2010. Em 1991, ele também lançaria a popular série Os Livros da Magia, com desenhos de John Bolton, Scott Hampton, ChalesVess e Paul Johnson.
Em 1992, para a Dark Horse, ele escreveu a graphic novel Sinal e Ruído.
Nos anos 90, ele começa a escrever HQ para a então prestigiada editora norte-americana Image Comics. Ele teria criado dois importantes personagens do universo do herói Spawn, Angela e Cagliostro. Mas, posteriormente, Gaiman entraria com uma ação judicial contra o criador do Spawn e dono da Image Comics, Todd McFarlane, pelos direitos sobre esses personagens.
Uma vez consagrado como autor de HQ, foi mais fácil para ele publicar seus livros. Em 1997, ele publicaria seu primeiro livro infantil, O Dia em que Troquei Meu Pai por Dois Peixinhos Vermelhos, com ilustrações de McKean.
Em 1999, lança o ousado romance ilustrado Stardust, com ilustrações de Charles Vess. O romance ganhou adaptação para cinema em 2007, dirigida por Matthew Vaughn.
Em 2001, saiu o interessante romance Deuses Americanos. E outra graphic novel pela Dark Horse, A Paixão de Arlequim.
Em 2002, saiu mais um célebre livro infantil, com ilustrações de McKean: Coraline, também já adaptado para cinema em 2009, com roteiro do próprio Gaiman – e para uma graphic novel. Em 2003, outro infantil: Os Lobos Dentro das Paredes (outra obra com ilustrações de McKean).
Em 2004, Gaiman começa a colaborar para a Marvel Comics, escrevendo a não menos cultuada série 1602, mostrando os principais heróis da editora vivendo uma aventura no século XVII. E outra graphic novel para a Dark Horse, Criaturas da Noite.
Em 2005, Gaiman escreve os romances Melinda e a continuação de Deuses Americanos, Os Filhos de Anansi. E também começa uma de suas colaborações para o cinema, escrevendo o roteiro do filme Máscara da Ilusão, dirigido por McKean.
Em 2006, mais um romance: Coisas Frágeis. Ganhou continuação em 2011
Em 2007, mais dois romances: M is for Magic e Interworld. E o roteiro do filme Beowulf, dirigido por Robert Zemeckis.
Em 2008, mais três romances: Odd e os Gigantes de Gelo, The Dangerous Alphabet e o cultuado Livro do Cemitério.
Em 2009, mais dois livros: Blueberry Girl e o infantil Cabelo Doido. E a grande homenagem ao universo do Batman, na história em duas partes O Que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?.
Seu mais recente romance traduzido para o português foi O Oceano no Fim do Caminho, lançado no início de 2013.
Gaiman também ficou conhecido pela parceria com o escritor Terry Pratchett (da série Discworld) – ambos escreveram o romance Belas Maldições.
Bão, este apanhado da vida e obra de Gaiman, hoje vivendo nos EUA com a esposa, Amanda Palmer, contempla basicamente só o principal da obra de Gaiman. Não dá para me estender muito, infelizmente, pois ainda tenho de falar da HQ em questão.

OS LIVROS DA MAGIA – AGORA SIM!
Pois a HQ escolhida foi OS LIVROS DA MAGIA. Como já dito, lançada como uma minissérie em quatro partes, cada uma contando com a arte de cada um dos quatro artistas: John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess e Paul Johnson. Quase todos já colaboraram anteriormente com Gaiman, e repetiram a parceria com o escritor pelo menos mais uma vez depois desta série. A minissérie foi recentemente relançada, em volume único, pela Panini Comics – mais precisamente, no fim de agosto de 2013. Antes disso, já havia sido lançada duas vezes, pela editora Abril e pela (hoje ressuscitada) Opera Graphica. Ambas as editoras já publicaram boa parte da obra de Gaiman no Brasil.
LIVROS DA MAGIA faz parte do selo Vertigo da DC Comics, o setor de quadrinhos adultos da editora do Superman – embora o selo Vertigo só tivesse sido criado, oficialmente, em 1993. Mas a editora começou a publicar quadrinhos “adultos” muito antes, e o selo Vertigo seria uma forma de “legalizar” o atropelo das imposições de então da editora por autores consagrados.
Mais tarde, LIVROS DA MAGIA ganharia séries próprias, mais extensas, continuando as aventuras já iniciadas. E uma série de romances escritos por Carla Jablonski. Tudo, decerto, com a chancela de Gaiman.
Como o próprio nome já diz, a série lida com magia, misticismo. Mas é também uma bela história sobre as escolhas da juventude, sobre os rumos da adolescência, que encontram sua alegoria na jornada de autoconhecimento daquele que pode vir a ser o maior mago de todos os tempos: o garoto Timothy (Tim) Hunter.
Uma curiosidade antes de começar: muita gente notou semelhanças entre LIVROS DA MAGIA e a série de livros de Harry Potter, de J. K. Rowling. Muita gente achou que Rowling plagiou muitas idéias de Gaiman, mas ele nunca cogitou processar a escritora, afirmando que “o importante não são as idéias, mas o que a gente faz com elas”. O próprio escritor afirmou que Rowling não deve ter lido a série original, e ele admite que não foi o primeiro escritor a conceber um jovem bruxo.
De fato, o herói de LIVROS DA MAGIA é muito semelhante a Harry Potter: um garoto moreno, de óculos e que possui uma coruja de estimação – ou quase isso. E já é famoso entre os cultistas das artes ocultas mesmo antes de o próprio se dar conta de que é um mago – tanto que desde já há gente planejando sua morte.
Mas eu, a rigor, não notei tantas semelhanças com a saga potteriana: Timothy Hunter não é um órfão (mora com o pai) nem possui cicatrizes de um passado trágico; ao invés de se matricular numa escola de magia, segue os quatro mais poderosos magos do mundo (da DC Comics) numa jornada de conhecimento sobre os mistérios da magia; e mágica, mesmo, o menino só faz uma, na última página da série. Por toda a série, Hunter cruza com outros magos, personagens conhecidos e/ou até então esquecidos do universo da DC Comics; encara desafios tenebrosos, mas não se safa de nenhum deles usando magia; recebe ajuda, inclusive da coruja de estimação, Ioiô; e visita mundos que ele nem mesmo imaginava que existissem, ao menos não da forma como a princípio ele imaginava. LIVROS DA MAGIA é, evidentemente, feito para adultos, não apenas pela carga de violência e bizarrices presente, mas também pelas muitas referências ao misticismo em geral, incompreensíveis para quem não tem conhecimento do universo da magia – ou do próprio universo da DC Comics. Mais uma daquelas HQ para intelectuais. Mas é uma bela fábula sobre as escolhas que o jovem precisa fazer da vida. O enredo pode ser compreendido com um mínimo de esforço – incorporando à trama, inclusive, elementos de violência, suspense, humor involuntário e um pouquinho de linguajar chulo.
Na parte artística, os quatro artistas escolhidos para dar vida a essa saga cumpriram bem seu papel, com uma arte quase realista, mas cada autor faz uma arte distinta um do outro. Na era pré-computador, é evidente que todos eles pintaram os desenhos a mão. Bolton, que desenha o primeiro capítulo – e a capa – faz uma arte bem realista, quase fotográfica, sombria, mas com um efeito de ter sido feita em um papel sujo e todo manchado; Hampton, que cuida do segundo capítulo, faz um aquarelado algo difuso, como se as figuras estivessem sendo observadas de trás de uma nuvem, e que, apesar de ter cores mais vivas, não é menos sombria; Vess, que faz a arte do terceiro capítulo, foge do extremo realismo dos anteriores, fazendo uso dos já tradicionais contornos pretos dos personagens (que Bolton, Hampton e Johnson eliminam) e cores mais vivas, uma iluminação mais forte, lembrando ilustrações de livros (lembrando que Vess foi também o ilustrador do romance Stardust); e Johnson, que cuida do último capítulo, volta ao semi-realismo, mas suas figuras já são mais surreais e algo assustadoras, com linhas criando efeito de os personagens estarem sendo observados embaixo de chuva, e com explosões de cores que quebram a escuridão anteriormente observada.
O prefácio do álbum é do escritor Roger Zelazny – apesar de ter sido escrita para a edição de 1993, ainda é atual. Zelazny, em seu texto, aponta que a jornada de Tim Hunter apresenta todos os elementos da jornada do herói teorizada pelo especialista em mitos Joseph Campbell em seu livro O Herói das Mil Faces – as histórias de heróis, em várias culturas, da mitologia grega até a saga de Luke Skywalker em Star Wars, apresentam elementos em comum. O “monomito” de Campbell pode ser observado ao longo da jornada escrita por Gaiman.
Bão. A história de LIVROS DA MAGIA começa quando vemos o personagem principal, Tim Hunter, um garoto inglês de doze anos, em sua principal atividade cotidiana: andar de skate. Ao mesmo tempo, os quatro magos mais poderosos do mundo (da DC Comics) estão discutindo como proceder com relação ao menino, conhecedores de seu provável glorioso destino, e decidem que deverão instruí-lo, dar a ele uma escolha.
Tim não sabe que pode vir a ser o maior mago de todos os tempos – na verdade, ele não acredita em magia, ou pelo menos deixou de acreditar. Mas tudo indica que a magia acredita nele, a ponto de já ter gente querendo sua morte. A tarefa dos quatro magos, mais que instruir o menino nos caminhos da magia, é dar uma escolha a ele. E, inclusive, mostrar a ele o preço que ele deve pagar para seguir essa carreira. Mas o que mais interessa a eles é que, caso Tim decida seguir o caminho da magia, use-a para, digamos assim, o bem.
A princípio, Tim se assusta quando se vê seguido pelos quatro magos, e tenta fugir, mas, uma vez abordado, ele a princípio acha tudo uma piração, conversa fiada. Só se convence de que existe magia quando um dos magos transforma seu ioiô em uma coruja marrom – e essa coruja, batizada, por resignação, de Ioiô, vai, inclusive, ajudar o menino a se livrar de muitos perigos ao longo da jornada, salvando sua vida muitas vezes. Só aí é que Tim decide seguir os magos na jornada, revelando um misto de curiosidade juvenil, medo do desconhecido e desejo de crer na veracidade do que presencia.
Ah, claro: esqueci de dizer quem são os magos. Pelo menos dois deles são bem conhecidos dos fãs dos quadrinhos da DC: Estranho, um mago tão poderoso quanto misterioso – tanto que leva a sério a primeira lei da magia que o garoto aprende: nunca revelar seu verdadeiro nome a qualquer pessoa; o cínico, beberrão e fumante John Constantine, o Hellblazer, que surgiu como um coadjuvante da fase das aventuras do Monstro do Pântano escrita por Alan Moore – e que até um filme solo ganhou; Dr. Oculto, um detetive sobrenatural cujo corpo pode apresentar ora aparência masculina, ora feminina (o mago foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Superman, e, publicado bem antes da estreia do Último Sobrevivente de Kripton, é considerado o primeiro herói da DC Comics); e Mister Io, um mago cego e um tanto amargo – é um dos que desde já defende a morte de Hunter. Como todos eles usam grandes casacos, Constantine chama o grupo de “a brigada dos encapotados”. Enquanto Estranho e Dr. Oculto são mais fleumáticos, mais sérios, e Mister Io tem um quê de sadismo em seus trejeitos, Constantine é o personagem mais irreverente, e o mais “tratável”, mais fácil de conversar.
O primeiro trecho da viagem (Capítulo 1: O Labirinto Invisível) é conduzido por Estranho: ele leva Hunter desde o início dos tempos, num “curso rápido” de história da magia, cheio de referências conhecidas até para quem tem conhecimento mínimo do assunto – da formação da Terra, do conflito do anjo Lúcifer, da formação das legiões de anjos e demônios, até os dias atuais, passando por Atlântida, o Mago Merlin, a Pré-História, Egito, China, Grécia antiga e a caça às bruxas na Idade Média, numa discussão sobre os rumos e a importância da magia no mundo “científico” de hoje. Dois quase esquecidos personagens da “Era de Ouro” (anos 1930 e 1940) da DC marcam presença: Kent Nelson, o herói mascarado Senhor Destino, e Zatara, o mágico, o primeiro a invocar grandes poderes ao dizer seus encantamentos ao contrário. Gaiman, nesse trecho, também insere poemas, cuja plena compreensão é para o entendidos. E já nessa parte, Tim entende a importância das escolhas pessoais, tanto na hora de pegar objetos que lhe são oferecidos quanto para os rumos de sua vida dali para a frente.
No segundo capítulo (O Mundo das Sombras), quem conduz a viagem é John Constantine, que leva Timothy para os Estados Unidos visitar uns “amigos”. O garoto até se assusta de poder facilmente embarcar em aviões sem nem mesmo ter passaporte – algo que a magia pode tornar possível. E, já no avião, Timothy tem sua primeira conversa com o misterioso Boston Brand, uma espécie de fantasma que, durante todo o capítulo, ocupa vários corpos diferentes só para conversar com o garoto – mas ele desocupa os corpos quando Constantine se aproxima. Em Nova York, Tim e Constantine já deparam com gente que comete atentados contra o garoto (um desses é impedido por Ioiô), mas também com aliados – tanto gente que teve relações nada amistosas com Constantine, como a cartomante Madame Xanadu e o mago morto-vivo Jason Blood, como outros heróis esquecidos, como o Espectro e novamente e Senhor Destino. A jornada leva ambos para São Francisco, na Califórnia, onde Hunter encontra acolhida com a maga Zatanna (filha de Zatara), atual integrante da Liga da Justiça. Enquanto Constantine, de repente, vai atender a um chamado do outro lado do mundo, Tim (cuja maior preocupação é avisar ao pai onde está agora) fica na casa da simpática Zatanna, e acaba indo para uma festa de Dia das Bruxas tenebrosa, cheia de inimigos – o pior só não acontece porque Constantine volta a tempo.
No terceiro capítulo (A Terra do Crepúsculo de Verão), quem conduz a viagem é o Dr. Oculto, tanto em sua contraparte masculina como a feminina, que Hunter chama de Rose. Os dois vão até o Mundo das Fadas, um local fantástico, cheio de duendes, gigantes, das já citadas fadas... onde a magia, portanto, é bastante comum. É aqui que Tim passa por maiores perigos: em um mercado de objetos mágicos, quase cai na armação de um duende que queria culpa-lo por um suposto roubo – impedida outra vez por Ioiô – e, salvos pelo mago dono do mercado, Tim, Ioiô e Rose ganham o direito de levar objetos da casa do duende, objetos que serão úteis no decorrer da jornada; Tim, depois, atravessa um rio de sangue; precisa responder um enigma de um gigante para prosseguir sua jornada (enigma resolvido por Oculto); cruzam com um personagem já visto antes. Tim, por um instante, se perde de Oculto e é raptado pela bruxa canibal Baba Yaga, cuja casa se move com dois gigantescos pés de galinha (e, antes de ser salvo novamente por Ioiô, que consegue parar a casa da bruxa, e por Rose, que contém a própria bruxa apenas com palavras, Hunter tem um diálogo típico de Alice no País das Maravilhas com um coelho e um porco-espinho falantes, também prisioneiros de Baba Yaga). E, por fim, o garoto conhece a Rainha do Reino das Fadas, onde, além de vislumbrar outros mundos, como o Paraíso e o Inferno (em um deles, o garoto encontra Morpheus, o Sandman), mais uma vez precisa confiar nas próprias escolhas, tanto as feitas naquele momento como as feitas anteriormente, para poder sair daquele mundo.
E, no último capítulo (Estrada para o Nada), o garoto faz uma viagem dramática ao futuro na companhia de Mister Io – e, desta vez, não pode levar Ioiô. Lá, Hunter vislumbra aquele que pode ser seu próprio futuro (caso siga o caminho do mal e provoque uma guerra entre magos), o futuro da Terra, o futuro do Universo, até não sobrar praticamente nada – vamos resumir assim. A demora de Io e Hunter em retornar começa a preocupar os outros magos. E Io não perde a oportunidade para tentar matar o garoto. Somente Ioiô, enviada por Oculto através das dimensões, pode evitar o pior. Neste trecho, a Morte, irmã de Morpheus, faz uma breve, mas significativa, aparição. E, no fim, cabe apenas a Hunter a decisão que vai nortear sua vida dali em diante: seguir o caminho da magia ou prosseguir sua vida comum. Sem saber que a escolha, na verdade, foi feita desde o início.
No fim, a série deixa algumas perguntas em aberto: quem é Boston Brand? Como Hunter vai usar a chave que ganhou da Rainha das Fadas? O que pode surgir do Ovo Mundano, o objeto que Tim escolhe na casa do duende? Perguntas sujeitas a interpretações diversas.
A letreirização da atual edição procura, apesar de evidentemente feita por computador, reproduzir as letras usadas pelo letrista original, Todd Klein, que usa das mais variadas fontes, de acordo com a ocasião – às vezes, cada personagem que aparece ganha sua própria fonte dentro dos balões. O volume, de capa dura, ainda traz uma galeria de esboços e desenhos dos artistas, revelando como foi o processo de elaboração da série.
Praticamente, não dá para perder uma oportunidade dessas. Inclusive você, que esteve procurando as edições anteriores, da Opera Graphica e da Abril, nos sebos e livrarias. O preço médio de R$ 25,90 é até atraente.
Quem já leu a saga de Harry Potter, já pode partir para experiências maiores com OS LIVROS DA MAGIA. Se Rowling realmente plagiou a obra de Gaiman? Leia e tire suas conclusões. Quem ainda não é iniciado no universo oníricode Neil Gaiman tem em LIVROS DA MAGIA seu cartão de visitas.
E, no mais, é isso.
Para encerrar, o já tradicional desenho. E eis aqui minha interpretação pessoal do herói Tim Hunter. Francamente, não teve herói mais fácil de reproduzir no meu traço – só os óculos que eu não devo ter acertado.
Até mais!

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