domingo, 29 de setembro de 2013

RED - APOSENTADOS E PERIGOSOS - Warren Ellis, o homem que inaugurou o século XXI nos comics

Olá.

Hoje vou falar de... hã... quadrinhos. Mas futuramente vou falar de outra coisa, também. Já tenho bastantes opções de temas para usar no futuro.
A HQ em questão gerou uma adaptação para cinema. E vou falar deste quadrinho porque recentemente assisti a adaptação para cinema. A revista, comprei meio que sem querer. Mas isso é outra história.
Hoje então vou falar de RED – APOSENTADOS E PERIGOSOS.


O PRINCIPAL AUTOR
RED foi publicado nos EUA em 2003, pelo selo-editora Wildstorm, hoje extinto. A Wildstorm, fundada pelo desenhista-astro Jim Lee, anteriormente era uma das empresas subsidiárias da Image Comics, até ser comprada pela DC Comics em 1999. Portanto, apesar de sair pela Wildstorm, RED pertence também à DC Comics.
Seus autores? Warren Ellis (roteiro) e Cully Hamner (arte). O nome de Ellis é o mais célebre, já que suas tramas representam, de certa maneira, a cara do quadrinho adulto no século XXI.
Nascido na Inglaterra, em 1968, Warren Ellis começou sua carreira nos quadrinhos pouco depois de seus conterrâneos e colegas roteiristas Alan Moore, Neil Gaiman e Grant Morrison se celebrizarem nas HQ adultas. Ellis pegou o bonde da história no meio do caminho: enquanto coube a Moore, Gaiman, Morrison e Frank Miller abrirem caminho para a renovação dos quadrinhos, inserindo tramas adultas no até então perfeito mundo das grandes editoras – e angariando fãs enquanto mostravam que o estilo rendia bastante às editoras – Ellis faz parte de uma “geração do meio” dos quadrinhos adultos, grupo onde podemos inserir Garth Ennis, Joss Whedon, Brian K. Vaughan, J. M. Straczynszi, Kevin Smith, Mark Millar e vários outros que mudaram a cara dos quadrinhos no século XXI, passada a crise gerada pela bolha inflacionária dos anos 90.
A carreira de Ellis começou em 1990, ainda na Inglaterra, publicando em revistas de pequenas editoras inglesas. Ele começou a se tornar conhecido nos EUA em 1997, quando começou a publicar, pelo selo Vertigo da DC Comics, a série Transmetropolitan, desenhada por Darick Robertson. As aventuras do repórter Spider Jerusalém já colocaram Ellis como um dos grandes nomes dos quadrinhos adultos atuais, usando desde já os elementos que caracterizam suas tramas: referências culturais, políticas e sociais misturadas com ficção científica, teorias conspiratórias e crítica social de forma coesa, em boas tramas de aventura e suspense.
Pouco depois, ele começou a desenvolver, para a Wildstorm, a série de super-heróis Stormwatch, e, derivada dessa, saiu, em 1999, The Authority, considerada um marco da “era moderna” dos super-heróis. Houve gente que considerou The Authority o início de uma certa “Era de Concreto” dos super-heróis, pois se verificou que, depois dessa série, os super-heróis se tornariam mais violentos e menos moralistas, em um mundo cada vez mais parecido com o mundo real – uma tendência que se acentuou com os atentados de 11 de setembro de 2001. Hoje, nem se fala mais nessa tal “Era de Concreto”... Mas as características do mundano e do violento invadindo o mundo dos nobres heróis coloridos permaneceu. The Autority, desenhada por Brian Hitch (cuja arte realista acentuou o impacto), trata de um grupo de super-heróis extremamente violento, num questionamento sobre o verdadeiro poder de influência de superseres na atual conjuntura. The Authority também foi marcante por ter mostrado o primeiro casamento gay entre super-heróis das HQ, quando dois de seus principais membros assumiram um “romance”.
Outra obra de Ellis que é bastante reverenciada é Planetary (1999), também lançada pela Wildstorm e desenhada por John Cassaday. As aventuras dos “Arqueólogos do Impossível” trazem uma grande reverência de Ellis à cultura pop (quadrinhos, literatura pulp, seriados de TV) somadas a complexas noções de ciência, gerando tramas repletas de elementos visuais e narrativos que exigem múltiplas leituras para captação de todos esses elementos. Ellis também escreveu as duas belas tramas crossover derivadas da série: Planetary/LJA: Terra Oculta (2002) e Planetary/Batman: Noite na Terra (2003).
Pela Wildstorm também saiu outra obra bem conhecida, Frequência Global (2002), série em 12 edições, cada uma desenhada por um artista diferente.
Ellis já publicou outros trabalhos para a Wildstorm e para a DC, a Image, a Top Cow, a Avatar Press, e, claro, a Marvel. Na parte dos super-heróis, se destacam sua fase na série Os Surpreendentes X-Men (iniciada em 2004 por Joss Whedon e John Cassaday; depois, sob os roteiros de Ellis, a arte ficou com o italiano Simone Bianchi) e a série Homem de Ferro: Extremis, que redefiniu os rumos do herói e serviu de base para o terceiro filme do “gladiador dourado”, que chegou em DVD recentemente.
A obra de Ellis já foi publicada, no Brasil, pelas editoras Abril, Brainstore, Devir, Pixel Media, Pandora Books e, atualmente, pela Panini.
Bão, resumidamente, é isso. E RED nem chega a ser listado como uma das melhores tramas de Ellis.
Quanto ao desenhista Cully Hamner, não há muitas referências além do fato de já haver trabalhado com os principais super-heróis da DC.

RED
Bem. RED é uma série bem curta. Foi publicada em três partes, e, contando capa e páginas de créditos, só tem 72 páginas. Foi lançada no Brasil pela Panini em 2010, numa edição em formato gibi comum, em capa mole de papel couché, à época em que o primeiro filme, homônimo, chegou aos cinemas. Em 2013, chegou aos cinemas uma sequência do primeiro filme.
RED, no Brasil, recebeu o subtítulo de Aposentados e Perigosos, pois, em inglês, o título é a sigla para Retired and Extremely Dangerous (Aposentado e Extremamente Perigoso), usado para designar um assassino profissional da CIA já aposentado. Aliás, eles podiam ter retirado o plural do subtítulo, já que o tal RED da trama é só um – ao contrário do filme, que são quatro.
RED é uma história violenta, sangrenta, mas bastante simples, fácil de entender, emocionante, breve – como um faroeste de John Ford. E oferece uma reflexão sobre os efeitos do tempo não apenas nas pessoas, mas no que elas fazem. E como o tempo e as mudanças de mentalidade afetam os órgãos do governo, inclusive os ligados à segurança. Os desenhos de Hamner são, na melhor das hipóteses, realistas, criando boas sequências de ação, fazendo uso, em boa parte do tempo, de cores neutras e mais chapadas, e sombras fartas. Em alguns momentos, é usado um efeito de “câmera lenta”, mostrando a aproximação de uma bala no alvo em três quadrinhos, antes de mostrar, no quarto, a bala atingindo o alvo. Interessante.
Atenção também para os efeitos observados nas páginas de abertura de cada capítulo.
A trama. RED começa quando Michael Beesley, o novo diretor da CIA (cuja sede fica em Langley, estado da Virgínia, EUA, e próximo à capital, Washington), um tipo muito nervoso e cujas ações são basicamente guiadas pelo impulso e pelo desespero, está tendo uma conversa com seu novo subordinado, o diretor de operações Adrian Kane, mais ponderado e fleumático. Este coloca o novo diretor a par de uma série de segredos existentes na instituição. Porém, quando é conduzido para uma sala restrita e lhe é mostrado um dos maiores segredos da CIA, Beesley fica realmente nervoso, e ordena a Kane o início de uma operação para a eliminação de uma ameaça à “nova ordem”: um único homem.
Esse homem é Paul Moses. Um homem velho, careca, com uma "charmosa" falha entre os dentes da frente e quase ermitão que, atualmente,mora sozinho em uma ampla casa, tendo como única pessoa para conversar, à distância, por telefone, sua supervisora pessoal, Sally, encarregada de monitorar suas contas. Moses também recebe, de tempos em tempos, notícias da sobrinha (que só é citada na trama), que mora na Inglaterra. O código telefônico exerce uma grande importância na trama – pois ele, para falar com Sally, diz “verde” à telefonista. Moses, que aparentemente trabalhava em atendimento de contas no exterior, esconde um segredo.
E esse segredo é revelado no momento em que, uma noite, três homens armados invadem sua casa. O velho Moses elimina os três homens quase sem esforço. E, pelos métodos usados pelos homens em seu atentado, Moses descobre que estavam a serviço da CIA. E a certeza de que a Agência de Inteligência não quer deixa-lo em paz vem quando, ao fazer um novo telefonema, descobre que Sally foi afastada do encargo.
Então, Moses pega umas armas de seu estoque e informa por telefone o código para iniciar seu verdadeiro serviço: vermelho (eis aqui outro sentido para o título – vermelho, em inglês).
Sim. Moses, na verdade, é um assassino profissional. Na verdade, o melhor e mais perigoso assassino profissional da CIA. Matou muita gente no passado – e vive atormentado por isso, a ponto de chamar a si mesmo de “monstro”. Em algumas páginas da HQ, são mostrados fragmentos de alguns dos “serviços” de Moses no passado. Tudo o que ele queria era ser deixado em paz, no momento em que abandonou o “serviço”. Mas, ao constatar que a CIA pretende descumprir a promessa, ele resolve partir para a guerra.
Suas primeiras vítimas são os policiais e atiradores que fazem parte de um círculo de contenção na rodovia próxima à sua casa. Moses, experiente, sabe usar o elemento surpresa, aproveita bem a munição de suas armas, usa bombas sem desperdícios. O ponto onde ele mais acerta seus adversários é na cabeça, dando-lhes uma morte rápida, tanto dando tiros como enfiando flechas e lâminas. E o “monstro” sempre sai sem um arranhão sequer, no máximo com as roupas ensaguentadas – com o sangue alheio.
É na estrada a caminho de Langley que ele trava contato, via telefone, com Beesley e Kane pela primeira vez – e jura a eles que todos na CIA que sabem o nome do velho morrerão. Até então, todos apenas subestimavam o velho Moses, acreditando que a idade avançada só traria problemas – mas parece que apenas Kane tem certeza do perigo que tiveram ao reativar “arma” tão perigosa.
No caminho para Langley, Moses vai para o apartamento de Sally, conseguir um cartão de identificação e a senha. E a ela confessa seus crimes, lamentando inclusive não representar a “nova ordem”. De fato, Moses é de um tempo em que, aparentemente, tudo era mais fácil de resolver. Ou, como ele resume em diálogo com Sally: “Mas o mundo ao meu redor mudou. Os homens não são mais homens. São moleques engravatados e assustados, com medo das pessoas e das histórias do passado”. Ah: Moses não mata Sally – apesar de a ideia passar-lhes pela cabeça – mas deixa a mulher traumatizada.
E a guerra entre Moses e a CIA continua, com mais tiros e explosões. Nesse jogo, Beesley chega ao ponto de ameaçar a sobrinha do velho. E, no fim, a história culmina quando Moses tem uma conversa “de homem para homem” com Beesley e Kane. E a história termina com um interessante final em aberto.
RED talvez não agrade a todos, por ser muito curta e concisa. Mas, bem é Warren Ellis. É a cara do século XXI nos quadrinhos. É o argumento perfeito para um filme de ação. Ou não.
Ah: a série ganhou também um prequel, uma série ainda não publicada no Brasil, apresentando mais detalhes do passado de Paul Moses.
RED não é difícil de se encontrar nas gibiterias. E o preço da época é bem módico: R$ 7,90. Nas bancas, já está esgotada. Leitura bem rápida, que pode ser encerrada em menos de 30 minutos.
Por hora, isso é tudo.
Para encerrar, resolvi fazer algo diferente. Não quis desenhar um personagem da série. E, frequentemente, quando falo de alguma mídia diferenciada, eu fico meio que de mãos atadas, sem conseguir pensar numa ilustração que fosse adequada para aquela situação. Vocês já devem ter visto tantas vezes isso nestes cinco anos de Estúdio Rafelipe – no fim, coloco uma ilustração que pouco ou nada tem a ver com o que acabei de dissertar em alguma postagem. E hoje, vou fazer de novo. E, ao mesmo tempo, matar uma saudade.
Resolvi fazer uma série de ilustrações de “teste de ação” com meus personagens super-heroísticos, os Super-Anões. Depois do “destino trágico” que eles tiveram na revista Quadrante X no. 12, do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A., pouco desenhei os heróis Micro-Man, Black Ape, Estétika e Doutor D. Eis eles aqui, em diversas poses de ação, para futuras histórias.
Reconhecidamente, há erros de anatomia, e poderia ter ficado melhor se eu estudasse mais desenho ao invés de ficar produzindo tiras loucamente. Buá!
Ah, antes de encerrar, um aviso: o meu colega blogueiro Lucas Cristovam resolveu fazer algumas mudanças em seus blogs. Agora, seus personagens Nick e Hercules e Rei Nado vão ter seus blogs pelo Blogspot. A migração estará completa em breve. Mas vocês já podem visitar os endereços http://nickehercules.blogspot.com.br/ (Nick e Hércules) e http://reinado-tiras.blogspot.com.br/ (Rei Nado). É isso aí.
Na próxima postagem: RED, o filme.
Até mais!

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