Hoje, volto a falar de livro. E, pegando da minha estante, mais um livro da Série Diálogo, da editora Scipione.
O livro de hoje se chama ENFIM SÓS!..., escrito por Márcia Leite. Esta edição que vocês veem é de 1991 - é a primeira. Ilustrações (enigmáticas) de Mariângela Haddad.
ENFIM SÓS!... é constituído de três histórias, que tratam, como tema, do rito do amadurecimento para as questões mais sérias da vida relacionadas ao amor. Ou, como a autora ressalta no prefácio:
"'Enfim sós' não é apenas aquela frase chavão dos recém-casados dos filmes de Hollywood. Enfim sós é a solidão ansiada, aquele espiar inquiridor pra dentro de si mesmo.
Sós, enfim, é como nascemos, e como estamos ao sair do casulo: borboletas. Borboletas prontas a enfrentar bichos-papões e lobos maus que atravessam todos os caminhos."
Os personagens das três histórias precisam lidar com questões difíceis: a perda de um ente querido, o medo de se entregar e as dúvidas na hora da "primeira vez".
Cada uma das histórias do livro tem uma diferente estrutura de texto, o que dá a cada narrativa uma diferenciação especial. E cada história contém doses de humor, linguagem coloquial, lições subliminares, referências à literatura... tudo sob medida para o público infanto-juvenil. E, apesar de terem sido escritas no século passado, as histórias continuam atemporais, valendo para hoje.
A primeira história, A Virgem Morta, é toda escrita através de diálogos, delimitados por datas e horas que acontecem. O leitor deduz o que acontece no decorrer deste segmento através das falas dos personagens - não há intervenção do narrador. As falas dos personagens falam por si. E trata da história de Edu, que tem dificuldades de aceitar a morte da namorada, Carmem. Edu, tomado pela dor, praticamente enlouquece, e não sai de perto do túmulo da amada - apesar das tentativas dos amigos Diogo, Chico e Elisa de fazê-lo se recuperar. O título faz referência a um poema de Álvares de Azevedo, que em certo momento Edu pede para Diogo e Chico copiarem, para recitar para Carmem. Aliás, os reclamões e meio atrapalhados amigos de Edu garatem o humor deste segmento. E a recuperação de Edu se dá na praia, onde uma nova chance de amar aparece por acaso.
A segunda história, Em cinco rounds, é narrada em primeira pessoa, e segue a estrutura convencional do texto. O desespero do jovem Marcelo é comparado com uma luta de boxe em cinco rounds. Marcelo, o narrador deste segmento, seguia uma rotina nas tardes de sexta-feira: ele e os amigos Ri e Alê iam para a casa do amigo Nando se divertir. Mas, numa sexta-feira qualquer, Marcelo acaba fazendo algo que quebra essa rotina: aceita o convite de uma amiga, Mariana, para ir à casa dela. O que era apenas para ser uma aula particular de matemática acaba virando uma festinha, com os rapazes e as moças, carregada de tensão sexual e possíveis insinuações sobre as reais intenções de Mariana e suas amigas. Mas, no meio da festa, Marcelo se irrita e vai embora. No entanto, ele é intimado a comparecer na casa de Mariana no próximo final de semana... e Marcelo descobre que não é tão ruim quando pensava quebrar a rotina.
A terceira história, Casulo de Menina, mescla trechos de diários, cartas, diálogos esparsos. Tudo numa estrutura aparentemente caótica, mas que lida com atenção faz muito sentido. A personagem principal, Juliana, está em dúvida se deve se entregar ao amor que sente pelo namorado Pedro - ou, em outras palavras, se transa com ele ou não. Ela confessa seus medos e dúvidas a três amigas: Renata, que mora em outra cidade - e com a qual Juliana se comunica por carta e telefone; Bruna, a amiga mais próxima; e Mônica, a prima mais velha e experiente. É o segmento mais lírico. É o que tem mais a ver com a proposta apresentada pela autora no prefácio.
ENFIM SÓS!... é um livro infanto-juvenil diferente de muitos que vemos por aí. O gênero, considerado menor, destina-se basicamente a passar lições aos leitores em idade escolar - mas mesmo desse gênero podem sair verdadeiras obras-primas da linguagem, da estética e de como um tema pode ser abordado. ENFIM SÓS!... é a obra-prima de Márcia Leite, autora então especializada em literatura infantil. Vale a pena ser procurado e lido.
Para encerrar, mais três tiras de Bitifrendis.
Fazer as tiras dos personagens, atualmente, não está sendo tarefa das mais agradáveis. Quer dizer, a dificuldade mesmo está na pintura digital. Só queria que o scanner colaborasse como colaborava antes, para deixar essas tiras com uma qualidade melhor - e os retoques necessários menos grosseiros.
Até mais!
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