quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Livro: MOLECAGEM

Olá.
Hoje vou falar de livro, e desta vez tirando o título de minha coleção particular. Geralmente, quando resenho livros, eu resenho os mais recentes que adquiri - e muitas vezes negligenciando o que está em minha estante.
Bem. Hoje vou começar a falar de uma coleção que foi marcante entre os leitores de literatura infanto-juvenil: a série Diálogo, da editora Scipione, cujos livros incitavam a reflexão para diversos temas de interesse geral.
Bem, o livro de hoje se chama MOLECAGEM, de Luiz Claudio Cardoso.

Esta edição que vocês veem é a terceira, publicada em 1990. Ilustrações de Cyntia Cury de Figueiredo Davidoff.
MOLECAGEM é apresentado como a história de um roubo - no entanto, não se trata de um romance policial. Foi desejo do autor escrever um livro sobre um roubo, mas que não envolvesse mistério, investigações ou coisas do gênero policial. Os ladrões apresentados não são bandidos profissionais. O livro destina-se a discutir sobre o que leva os jovens de classe média a cometer delitos: tédio, valores, tentativa de sair da rotina, simples desafio.
Bem. A primeira parte do livro dá uma aula de descrição para escritores: o narrador, em primeira pessoa, começa com uma rápida descrição do cenário - começando pela cidade, o Rio de Janeiro, indo a seguir para o bairro onde se passa a história - o Jardim Botânico, na Zona Sul - e do prédio onde o personagem principal mora - o Contra-Almirante Marcílio Conrado Altamirano. A seguir, ele caracteriza cada um de seus moradores e suas famílias, bem como os carros da garagem.
E só a seguir o narrador começa a descrever a Patota, a turma da qual o narrador faz parte, composta pelos quatro rapazes que moram no prédio: Zezinho, o mais velho do grupo e o líder, um rapaz iresponsável, bom de lábia e de comportamento duvidoso, mas que é alvo da admiração dos outros membros da Patota; Rodolpho, que tenta imitar o Zezinho em tudo; Roriz, o gaúcho, possuidor de um senso de justiça inabalável e o maior responsável; e o narrador, que só mais tarde sabemos se chamar Pedrinho, o mais novo e menos importante.
Bem. A trama se passa ao longo de três dias. Começa quando a Patota, durante as férias e num tempo chuvoso, sem ter nada o que fazer, resolvem fazer uma brincadeira. Depois de alguma discussão, resolvem mexer com os carros da garagem (ideia do Rodolpho); no entanto, Zezinho extravasa a ideia inicial, e propõe que de dentro de um dos carros seja retirado um toca-fitas. E, através de um sorteio tenso, Pedrinho é escolhido, no palitinho, para retirar o aparelho do carro. Após outro sorteio, foi designado que o carro que teria seu toca-fitas retirado seria o de uma vizinha metida a besta, chamada pelos outros de "mulher das plásticas", por sua mania de fazer cirurgia plástica.
A princípio, Pedrinho, pressentindo que a coisa não acabaria bem, pensa em desistir - no entanto, Zezinho não o deixará desistir, e deu garantias de que nada dará errado. E, na calada da noite, enquanto Zezinho distraía o empregado encarregado de cuidar da garagem, Pedrinho retira o toca-fitas com todo o cuidado (no ano em que o livro foi publicado, os carros ainda não dispunham de sistema de alarme). E é Zezinho quem guardou o toca-fitas, propondo devolvê-lo no dia seguinte.
No entanto, no segundo dia, a coisa começa a ficar preta: o roubo é descoberto logo de manhã, e a mulher das plásticas exige explicações. Sob as desconfianças do pai, Pedrinho acaba mentindo que não teve nada a ver com isso - e olhando nos olhos do pai. A brincadeira vai longe demais, e o garagista tem seu emprego ameaçado, por suspeita de ter sido o ladrão ou de ter sido cúmplice. Mas a coisa começa a ficar pior no momento em que Pedrinho e Roriz descobrem que Zezinho passou a perna em todo mundo: o garotão vendeu o toca-fitas e não quer dar satisfações.
A coisa fica tensa. Os amigos terão apenas duas alternativas para evitar que o garagista saia vitimado na história: contar toda a verdade ou tentar repor o toca-fitas. Porém, Zezinho parece nem se importar. A coisa começa a ficar ainda mais tensa quando a irmã de Pedrinho, que gosta de se meter a irmã mais velha, descobre a conexão entre Zezinho e o garagista no roubo. É o momento de Pedrinho, que sempre ficou à sombra de Zezinho, mostrar coragem de enfrentá-lo. E ele terá a ajuda de Roriz e de Rodolpho.
Mas é claro que a coisa não pode acabar bem. Principalmente depois que Zezinho se mostra um duas-caras, capaz de passar a perna nos próprios amigos. Mas o leitor fica sem entender as razões para tal atitude: seria simples maldade ou revolta contra a vida que levava?
MOLECAGEM é escrito em linguagem coloquial, e possui um bom tempo de suspense: nunca se sabe, até a próxima página, que rumo a situação apresentada irá tomar. Acompanhamos o sofrimento de Pedrinho e seus amigos com tensão. Como será que essa simples brincadeira acabará para nossos amigos? Só lendo para saber.
MOLECAGEM pode não ser um romance policial, mas é um livro tenso, que não dá para largar antes do final. um livro, como o autor faz questão de ressaltar no prefácio, "cheio de boas intenções - e de boas intenções o inferno já está cheio". Recomendável.

Para encerrar, mais um triplex de Bitifrendis.
Até mais!

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