Hoje, continuando a minha História dos Quadrinhos no Brasil, edição revista e ampliada, trago para vocês as décadas de 70 e 80 - e mostrando para os que não sabiam que aqui no Brasil tínhamos uma indústria de HQ própria que nossa produção foi bem movimentada - e resumí-la em algumas poucas palavras, apesar de ser mais econômico e conciso, parece mais uma calúnia.
DÉCADA DE 70
Nessa década, considerada a mais fechada da Ditadura Militar, as publicações de humor de crítica social e de terror sofrem censura. Muitas publicações fazem resistência contra essas disposições. Fatos da década:
• 1971 – Aparece a revista humorística O Grilo, da editora Arte & Comunicação (SP), que tornou-se referência obrigatória para as novas gerações de leitores de HQ no Brasil. A revista publicava material de artistas estrangeiros, como Georges Wolinski, Guido Crepax, Robert Crumb e Gilbert Shelton, e de brasileiros, como Sérgio Macedo; No Rio Grande do Norte, depois da Primeira Exposição Norte-riograndense de Histórias em Quadrinhos, realizada na biblioteca Câmara Cascudo, aparece o Grupo de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos (GRUPEHQ). Dentre os membros do grupo, estão Emanoel Amaral (criador de Super-Cupim), Lindberg Revoredo (Dom Inácio, Bispo de Taipu), Luís Pinheiro (Tenente Wilson), Reinaldo Azevedo (Família Bonney) e Ademar Chagas (Inigma). O grupo segue na ativa até os dias de hoje, tanto na pesquisa na área de HQ quanto na produção das mesmas, e uma de suas mais importantes publicações é a revista Maturi, lançada em 1976 e cuja publicação teve vários hiatos de tempo (o número mais recente da revista saiu em 2008).• 1972 – Aparece a revista alternativa Balão, nascida como um fanzine na Universidade de São Paulo, editada por Laerte Coutinho e Luís Gê (Luís Geraldo Ferrari Martins). Além deles, a revista revela artistas como os irmãos cartunistas Paulo e Chico Caruso, Xalberto (Carlos Alberto Paes Oliveira), Kiko, R. Borges e Angeli. A Balão dura nove números; aparece a revista Pancada, da editora Abril, publicação de humor escrachado nos moldes da revista americana Mad; Oscar Kern cria o fanzine Historieta, que publicava, além de matérias sobre HQ, as séries O Homem Justo (com roteiros de Kern) e Brigada das Selvas, de Ailton Elias, entre outras, produzidas por artistas como Mozart Couto, Renato Canini e Watson Portela; • 1973 – Aparece a heroína Welta (posteriormente, Velta), criação do paraibano Emir Ribeiro, na revista de aventura e humor 10 Abafo, editado na Paraíba pelo próprio Ribeiro – e que contou com, entre outros, a colaboração de Laerçon. Reconhecida como a “musa dos quadrinhos nacionais”, Welta também ganhou um gibi próprio e muitos especiais, editados pelo próprio Ribeiro, que também criou personagens como o índio Itabira e a andróide Nova; o editor Massao Ohno lança O Karma de Gargoot, de Sérgio Macedo, o primeiro livro de HQ publicado no Brasil (O Karma foi publicado anteriormente, em forma de série, na revista O Grilo); Maria, do paraibano Henrique Magalhães, personagem de crítica social; no mesmo ano, aparece pela primeira vez o personagem Benjamin Peppe, de Paulo Miguel doa Anjos, ligado à ecologia e à prática de esportes saudáveis; A partir desse ano, Arnaldo Angeli Filho, um dos mais consagrados artistas de humor brasileiro, começa a colaborar com o jornal Folha de São Paulo, onde, além de produzir charges políticas, desenvolve a tira humorística Chiclete com Banana. Nessa tira, Angeli cria uma série de personagens, tais como: Meia-Oito e Nanico, Bibelô, Ralah Rikota, Bob Cuspe, Os Skrotinhos, Wood & Stock e Rê Bordosa. Esta personagem, que ficou conhecida como a pin-up do fim do século, foi “assassinada” por seu autor em 1987, despertando polêmica (o acontecimento foi tema de um “documentário” em animação, Dossiê Rê Bordosa, produzido em 2008 e dirigido por César Cabral). Angeli também desenvolveu, na tira, Angeli em Crise, tira de situações vividas por ele mesmo, e Luke e Tantra, voltadas para o público adolescente. Os personagens de Angeli seriam publicados também na revista Chiclete com Banana, nos anos 80, e a partir dos anos 90 em diversas coletâneas de álbuns, por diversas editoras, como a Devir e a L&PM. • 1974 – Rango, do gaúcho Edgar Vasques, o mais conhecido personagem brasileiro de crítica social; é realizado o 1º. Salão Internacional de Humor de Piracicaba, um dos mais importantes eventos cartunísticos do país; aparece a revista Crás!, célebre revista de humor da Editora Abril. Nessa publicação, que durou 6 números, apareceram os personagens Cactus Kid, de Canini, e Satanésio, de Ruy Perotti (que ganharia um gibi próprio pela mesma editora, com duração de 4 números. Perotti também ficaria conhecido como o criador do personagem Sujismundo.);
• 1975 – Aparece a revista O Bicho, pela editora Codecri (RJ), editado por Fortuna. Dentre os artistas mais conhecidos que publicaram nessa revista, estão: Nani (Ernani Diniz Lucas, criador da tira Vereda Tropical), Canini, Jorge Guidacci, Francisco Vilachã, Laerte e o argentino Quino; As Cobras, do gaúcho Luís Fernando Veríssimo, célebre cronista e escritor (além de alguns álbuns, os personagens renderam um curta-metragem de animação em 1985, dirigido por Otto Guerra, Lancast Mota e José Maia); aparece a versão brasileira da revista humorística Mad, da editora norte-americana EC Comics, pela editora Vecchi (RJ) (passando, posteriormente, pelas editoras Record, Mythos e Panini, com hiatos de tempo entre uma e outra), editada por Ota (Otacílio d’Assunção Barros). Ota é considerado o editor da revista que ficou a mais tempo no comando da publicação em todo o mundo (o posto no Brasil atualmente é ocupado por Raphael Fernandes, desde 2007). Na Mad brasileira, publicam, entre outros: Luscar, Carlos Chagas, Nivaldo, Ed, Xalberto, Amorim, Pupuca, Flávio Dealmeida e Ota, que dividem espaço com o material americano; por volta desse ano, aparece o personagem Macanudo Taurino, do cartunista gaúcho Santiago (Neltair Abreu), um dos artistas mais premiados no Brasil e no mundo.• 1976 – A trupe humorística Os Trapalhões, de grande sucesso na televisão, ganha gibi próprio, pela Bloch Editores, com direção de arte de Edmundo Rodrigues. É a primeira fase das HQ dos personagens (ver as outras adiante); com o afrouxamento da censura, depois de um período de marasmo, as HQ de terror voltam a agitar o mercado brasileiro, com a aparição da revista Kripta, da editora RGE (“Com Kripta, qualquer dia é sexta-feira, qualquer hora é meia noite”, dizia o anúncio de TV). Publicando material das revistas Eerie e Creepy, da editora americana Warren Comics, a Kripta lança a segunda onda dos quadrinhos de terror no Brasil; Maurício de Souza lança, em formato de tiras, o personagem Pelezinho, baseado no jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. O personagem chega aos gibis no ano seguinte (em 2006, Maurício faz o mesmo com o também jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho); primeira aparição, na revista Jogos e Diversões da editora Noblet, do herói Fantasticman, criação de Tony Fernandes. Mais tarde, a partir de 1982, o herói tem histórias publicadas em gibis próprios, lançados pelas editoras Evictor, Phenix e Ninja; primeira aparição dos personagens Turma do Cacá e Turma da Fofura, criações de Ely Barbosa, dentro da série Sílvio Santos para as crianças (esta série de livros e discos, de histórias infantis narradas pelo apresentador de TV Sílvio Santos, seria relançada em 2002). Os personagens, que ganham gibi posteriormente, são apenas alguns do vasto elenco de personagens criados por Barbosa, que faziam algum sucesso nos anos 80: Os Incríveis Amendoins, Os Tutti-Fruttis, O Gordo & Cia. e Turma da Patrícia são outros personagens conhecidos do autor. Barbosa também acumula alguns trabalhos na televisão e no teatro, como o programa infantil TV Tutti Frutti, criado em 1983 na TV Bandeirantes (vencedor do prêmio APCA, da Associação Paulista dos Críticos de Arte), e o musical Um Passeio no Cometa, de 1994.• 1977 – Aparece a primeira versão em HQ do Sítio do Pica-Pau Amarelo, pela editora RGE, embalado pelo sucesso da adaptação televisiva de então (que estréia na TV Globo nesse mesmo ano) dos livros infantis do escritor Monteiro Lobato (uma nova versão da série nas HQ aparece em 2006, pela editora Globo, igualmente embalada pelo sucesso da nova adaptação televisiva que estréia em 2001); aparece a revista de terror Spektro (inicialmente, Dr. Spektro), da editora Vecchi. Baseado em original americano, essa revista publicou trabalhos célebres de autores nacionais – aliás, a Spektro utilizou inúmeros elementos da cultura brasileira em suas histórias, como pais-de-santo, cangaceiros, lendas regionais, etc. Duas das séries publicadas nessa revista merecem destaque: Hotel Nicanor, de Flávio Colin, e O Homem do Patuá, de Elmano Silva (Hotel Nicanor ganhou uma minissérie em 1994, com roteiro de Ota, vencedora do prêmio HQ MIX); com a revista Peteca, a editora Grafipar, fundada em Curitiba por Faruk El-Katib inicia suas atividades. Em revistas como Personal, Eros, Katy Apache, Maria Erótica e Xanadu, essa editora, inicialmente dedicada a publicar revistas de HQ eróticas, incentiva a produção nacional, com trabalhos de artistas como Cláudio Seto, Roberto Kussumoto, Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Arthur Garcia e muitos outros. A editora encerra suas atividades em 1983; Só Dói Quando Eu Respiro, coletânea de cartuns sobre ecologia, de Caulos (Luís Carlos Coutinho). Um dos grandes cartunistas e ilustradores do país, a obra de Caulos inclui ainda as coletâneas: Errar é Humano (1978) e Vida de Passarinho (1989), entre outros; Mineirinho, de Ziraldo, surge dentro da revista Playboy.
• 1978 – Crônicas de Nenhum Lugar, de Xalberto (coletânea, editada por Massao Ohno, da série publicada na revista Balão).• 1979 – Com o fanzine Refugo, apenas um dos títulos que lançou de sua própria gráfica (outros títulos de nomes pitorescos são: Lôdo, Ventosa e Mijo), Francisco A. Marcatti Jr. inicia sua carreira (seu primeiro trabalho, no entanto, foi publicado dois anos antes, no fanzine Papagaio, editado por um grupo de alunos do colégio Equipe, de São Paulo). O mais destacado artista underground brasileiro, Marcatti já publicou alguns de seus escatológicos trabalhos na revista Chiclete com Banana e em outras revistas e antologias (ver mais adiante).
• 1980 – Pela editora Vecchi, aparece o gibi de faroeste Chet, de Wilde e Watson Portela (uma espécie de versão nacional do italiano Tex, de Giovanni Bonelli), revista que durou 22 números; Aparece a segunda série de HQ d’Os Trapalhões, pela Bloch Editores. A arte, desta vez, está a cargo dos estúdios Ely Barbosa, com desenhos de Eduardo Vetillo, Watson Portela, Bira Dantas e outros artistas – fase marcante pelo humor escrachado e pelas inúmeras paródias de super-heróis e filmes, ao estilo do programa televisivo; Íncaro, álbum de Xalberto.
DÉCADA DE 80
Essa década é marcada pelos novos ventos trazidos pelo processo de redemocratização do país. O mercado brasileiro das HQ sente as oscilações ocasionadas pelos planos econômicos do período – o índice mais baixo de vendas foi o de 1985: 35 milhões de exemplares, muito baixo em comparação aos 60 milhões em 1980; durante o Plano Cruzado, ocorre um crescimento do mercado – 61 milhões de exemplares em 1986, 82 milhões em 1987. Quanto às publicações alternativas (fanzines), estas crescem no início da referida década, mas sofreram uma crise na segunda metade do período, devido a outra crise, a econômica, que agravou a falta de perspectivas de muitos “editores”. Além disso, é o período onde a contracultura nas HQ explode no país. Acontecimentos do período:
• 1981 – Primeira aparição de Geraldão, o personagem mais célebre de Glauco Villas-Boas (criador também da versão infantil do personagem, Geraldinho, e dos personagens Casal Neuras, Dona Marta e Doy Jorge); Aparece a ousada adaptação, em HQ, do livro Casa Grande e Senzala, do antropólogo Gilberto Freyre, por Estevão Pinto e Ivan Wasth Rodrigues; Paulo Caruso, em parceria com Alex Solnik, lança a série Bar Brasil, na revista Careta (esta série de cartuns, que satiriza a situação política brasileira, seria mais tarde publicada na revista Senhor, e daria origem à série Avenida Brasil, publicada desde 1987 na revista IstoÉ – que fundiu-se com a Senhor – , da editora Três, até a década de 2000); aparece o personagem Analista de Bagé, criação de Luís Fernando Veríssimo, em uma série de crônicas. Com o sucesso alcançado, o personagem é vertido, em 1983, para as HQ, no álbum O Analista de Bagé em Quadrinhos, pela editora L&PM, com desenhos de Edgar Vasques; e, de 1983 a 1992, o personagem ganha uma série em HQ, dentro da revista Playboy, com texto de Veríssimo e arte de Vasques.• 1982 – Pela editora Paz e Terra, Ecos do Ipiranga (...O grito que não houve...!), álbum de Paulo Caruso e Alex Solnik; Aparece a Gibiteca de Curitiba, a primeira instituição dedicada a catalogar e disponibilizar revistas em quadrinhos do Brasil. Outra importante instituição que aparece é a Gibiteca Henfil, de São Paulo; pela editora D-Arte, fundada no ano anterior por Rodolfo Zalla, aparece a revista Calafrio, outro importante título de terror (algumas das histórias da revista foram republicadas em 2002, no álbum Calafrio – 20 anos depois, da editora Opera Graphica). Outro gibi importante lançado por essa editora foi o faroeste Johnny Pecos, criação de Zalla, que durou 4 números.• 1983 – As Origens do Capitão Bandeira, álbum de Paulo Caruso e Rafic Jorge Farah, pela editora L&PM (o personagem apareceu pela primeira vez na revista Balão); Radicci, do gaúcho Carlos Henrique Iotti, tira humorística que tem por cenário a região de colonização italiana da Serra do Rio Grande do Sul; pela editora Brasiliense, sai a série Redescobrindo o Brasil, coletânea de cartuns que satirizam e criticam a História do Brasil. Os dois álbuns têm texto da historiadora Lilia Moritz Schwarcz: Da Colônia ao Império – Um Brasil para Inglês Ver e Latifundiário Nenhum Botar Defeito, com Miguel Paiva (lançado nesse ano) e Cai o Império – República Vou Ver, com Angeli (no ano seguinte); primeira aparição do personagem Quebra-Queixo, de Marcelo Campos, que nos anos 90 e 2000, ganha uma série de álbuns; pela editora Ondas, por volta desse ano, aparece a revista Inter Quadrinhos – inicialmente como uma edição especial da revista masculina Big Man Internacional – coletânea de HQs adultas de diversos autores nacionais. A revista teve duas séries: a primeira, de quatro números, e a segunda, com seis (que diferenciam-se pelo projeto gráfico e pelo número de páginas). Dentre os artistas publicados, estão: Watson Portela, Francisco Vilachã, Mozart Couto, Flávio Colin, Xalberto, Rodval Mathias, Roberto Kussumoto, Paulo Caruso e muitos outros; a editora Noblet publica a revista Akim, série italiana, cópia de Tarzan. As HQ do personagem dividiam espaço com histórias de personagens brasileiros, como Tavinho, Taturana Tulipa e Buana Savana, de Tony Fernandes (Antônio Fernandes Filho), e Pipoca, Joinha e Vespinha, de Antônio Cedraz; Na Europa, Sérgio Macedo publica o álbum Xingu!, relato de sua experiência na Amazônia (Xingu! é apenas uma das muitas obras que Macedo publica no exterior; o álbum é lançado no Brasil em 2007, pela editora Devir).• 1984 – Nesse ano, é instituído o dia 30 de janeiro como o Dia do Quadrinho Nacional, tomando por base a data em que Ãngelo Agostini publicou As Aventuras de Nhô Quim, em 1869, segundo pesquisa de Álvarus (Álvaro Cotrim) e Ofeliano de Almeida. Concomitante a isso, é criado o prêmio Ângelo Agostini, uma das mais importantes premiações oferecidas aos artistas nacionais de HQ; Quadrinhos em Fúria, pela Circo Editorial, coletânea das melhores HQ de Luís Gê publicadas até então; é criada a ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (entre os fundadores, estão a professora Sônia Bibe Luyten, a escritora Mitsuko Kawai e os artistas Roberto Kussumoto e Noriyuki Sato), o primeiro impulso aos artistas do estilo japonês no Brasil. Na época, os fãs de mangás e animações japonesas eram poucos, considerados “um bando de malucos que gostam daqueles desenhos animados de olhos grandes”, porém persistentes. Não por acaso, nesse mesmo ano, o artista japonês Osamu Tezuka, considerado em seu país o “Deus do Mangá”, visita o Brasil – e, nessa viagem, encontra Maurício de Souza, fã confesso dos mangás japoneses e, sobretudo, do trabalho de Tezuka; Macunaíma, de Luís Antônio Aguiar e Guidacci, livre adaptação para HQ do romance de Mário de Andrade; os humoristas Bussunda (Cláudio Besserman), Cláudio Manoel Pimentel, Beto Silva (Roberto Adler), Marcelo Madureira (Marcelo Garmatter Barreto) e Hélio de La Peña (Hélio Couto), que editavam desde 1978 a revista humorística Casseta Popular, criam a editora Toviassú Produções Artísticas (Toviassú é abreviatura de “Todo Viado é Surdo”, o que evidencia a irreverência que o grupo cultivava desde cedo no humor brasileiro), que editou no Brasil, entre outros títulos de HQ, as séries americanas Concreto, de Paul Chadwick, e Black Kiss, de Howard Chaykin. A editora encerra as atividades no início dos anos 90. Mais tarde, essa turma se juntaria a Reinaldo Batista Figueiredo e Hubert de Carvalho Aranha, que editavam desde 1984 o jornal humorístico Planeta Diário (em parceria com Cláudio Paiva), e formaram a célebre trupe humorística Casseta e Planeta.• 1985 – As Aventuras da Família Brasil, de Luís Fernando Veríssimo (em 2009, os personagens ganharam uma adaptação em forma de série de TV, pela RBS TV de Porto Alegre); a contracultura nas HQ brasileiras explode nesse ano, com o lançamento da revista Chiclete com Banana, editada por Arnaldo Angeli Filho, pela Circo Editorial, de Toninho Mendes e Luís Gê. Angeli comanda a publicação, que faz um retrato ácido e devastador das décadas de 80 e 90, e que, no seu auge, chegou a vender 110 mil exemplares. A revista, extinta em 1995 totalizando 24 números, rendeu ainda 20 especiais (10 números da Chiclete Especial e 10 da série Tipinhos Inúteis) e “apadrinha” outras publicações do mesmo gênero. Dentre os artistas que publicaram na Chiclete, estão: Laerte, Glauco Villas-Boas, Luís Gê, Cláudio Paiva, Hubert, Luís Gustavo, Fábio Zimbres, Newton Foot, Edi Campana (personagem criado por Angeli), Sérgio Machado, Fúrio Lonza e Glauco Mattoso. Além disso, dentro da Chiclete, surgem as séries Piratas do Tietê, de Laerte (que ganham posteriormente uma série de tiras e uma revista), e Los Três Amigos, produzida em conjunto por Angeli, Laerte e Glauco (mais tarde, Adão Iturrusgarai integra esse grupo); aparecem as tiras de Níquel Náusea, de Fernando Gonsales; nesse ano, é lançado o gibi da Família Halley, criada pelo empresário Marcelo Diniz. Os personagens, criados aproveitando a comoção gerada pewla passagem do cometa Halley, prevista para 1986, fez um grande sucesso (a chamada halleymania), e incluiu merchandising (produtos com a marca Halley) e aparições na TV (o gibi, subproduto desse sucesso, foi publicado pela editora Abril - totalizando seis números - com roteiros de Luiz Antônio Aguiar, Ives do Monte Lima e Salete Brentan e desenhos de Roberto Kussumoto e Napoleão Figueiredo). A empreitada artístico-comercial decaiu após a passagem do cometa, no ano seguinte; pela editora Nova Sampa, Drácula – A Sombra da Noite, de Ataíde Braz e Neide Harue, adaptação do clássico de Bram Stoker em estilo mangá; pela Cluq Editorial, aparece o gibi de Beto Carrero, o empresário e artista circense, com textos de Gedeone Malagola e arte de Eugênio Collonese; por volta desse ano, aparece também Hakan, de Mozart Cunha do Couto, um dos mais consagrados artistas brasileiros de arte fantástica. A revista do personagem, publicada pela editora Noblet, durou três números; A Guerra dos Farrapos, de Tabajara Ruas e Flávio Colin, quadrinização da história do célebre conflito ocorrido no Rio Grande do Sul, de 1835 a 1845; Procurando o Silva, o primeiro álbum da editora L&PM que compila as tiras do personagem Ed Mort, de Luís Fernando Veríssimo e Miguel Paiva (o personagem, criado nos anos 70 em uma série de crônicas, ganha outros quatro álbuns de HQ: Disneyworld Blues,Com a Mão no Milhão, A Conexão Nazista e O Sequestro do Zagueiro Central. E, em 1997, Ed Mort ganha uma adaptação cinematográfica, por Alain Fresnot).• 1986 – Aparece a revista Circo, da Circo Editorial, editada por Toninho Mendes e Luís Gê, similar em conteúdo à Chiclete com Banana. Dentre os artistas, Laerte (que lança aí a clássica história A Insustentável Leveza do Ser), Glauco e o americano Robert Crumb; pela editora Press, aparece a revista Níquel Náusea, editada por Fernando Gonsales (o título passaria, posteriormente, pela editora Circo. No total, a revista, publicada até 1995, durou 28 números, e, entre os artistas que publicaram na revista, está Spacca [João Spacca de Oliveira]); Pela editora Abril, aparece o gibi do palhaço Alegria, criado pela equipe coordenada por Waldir Igayara (que também ficou conhecido por criar a revista Recreio, pela mesma editora, em 1969). O gibi durou 57 números, e ainda gerou uma revista de atividades, Alegria e Cia.; Nos Tempos de Madame Satã, de Luís Antônio Aguiar e Júlio Shimamoto (o personagem Madame Satã ganha posteriormente outro álbum, Madame Satã: Cassino, também de Aguiar e Shimamoto, pela editora Opera Graphica); pela editora Asteróide, sai a revista Paralelas, com histórias do pernambucano Watson Portela, tido como o primeiro artista brasileiro influenciado pelos mangás japoneses; aparece a revista Aventura e Ficção, pela editora Abril, coletânea de HQ adultas, que dura até 1991. Além de trabalhos de artistas estrangeiros, a revista também publica trabalhos de brasileiros, como Watson Portela, Flávio Calazans e Mozart Couto.• 1987 – Aparece a revista Geraldão, pela Circo Editorial, editada por Glauco Villas-Boas; primeira aparição, em formato de tiras, no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, do personagem Leão Negro, de Cynthia Carvalho e Ofeliano de Almeida. O personagem foi publicado também em Portugal. Nos anos 2000, o personagem ganhou uma série de álbuns – além da compilação das tiras originais (série Origens), uma série de histórias inéditas, com arte de Danusko Campos – todas publicadas pela editora HQM; primeira aparição do personagem Crânio, criado pelo potiguar Francinildo Sena, o maior fanzineiro da atualidade (desde os anos 80, Sena editou mais de 100 números de fanzines, sendo os mais importantes: Crânio, estrelada por seu personagem, e Heróis Brazucas, de histórias de heróis criados pelos colaboradores como forma de divulgação dos mesmos).• 1988 – Pela editora Abril, aparece o gibi Jovem Radical, com roteiros de José Menezes e José Evaldo de Oliveira e arte de Watson Portela, voltado ao público adolescente e que durou dois números; Pela mesma editora, aparece a terceira série das HQ d’Os Trapalhões. Os personagens, na concepção de César Sandoval, desta vez, são metamorfoseados em crianças. Além da série normal, é lançado um segundo título nessa linha, As Aventuras dos Trapalhões, onde os personagens satirizam séries de TV e filmes; aparece a revista Animal, pela editora VHD Diffusion, de quadrinhos adultos – muitos deles estrangeiros. Entre as atrações da revista, estava o Ranxerox, publicado na França e criado pelos italianos Stefano Tamburini e Gaetano Liberatore, além de trabalhos de Jordi Bernet, Antônio Segura, Milo Manara, Daniel Torres e Jaime Hernandez. Dentre os artistas brasileiros que publicaram nessa revista, estão Lourenço Mutarelli, André Toral e Mosquil (Gustavo Rojas, nascido na Argentina). A revista durou 22 números e mais 8 especiais (Grandes Aventuras Animal); aparece, também, o prêmio HQ MIX, a mais importante premiação para as HQ nacionais. O prêmio é lançado no programa TV MIX, da TV Gazeta (SP), pelos quadrinhistas Jal (José Alberto Lovetro) e Gual (Gualberto Costa) e o apresentador Serginho Groisman; A editora Cedibra lança Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Gozeki Kojima, o primeiro mangá japonês publicado no Brasil, em edição adaptada ao modo de leitura ocidental (no entanto, a série não foi publicada até o fim. Ela passaria ainda pelas editoras Nova Sampa e, em 2005, pela Panini, que a publica até o fim, no modo de leitura original japonês).• 1989 – O pernambucano Jô Oliveira publica em capítulos, na Itália, na revista Corto Maltese, Hans Staden – Um Aventureiro no Novo Mundo, sobre o aventureiro alemão que aportou no Brasil no século XVI (em 2005, o álbum resultante desse trabalho é publicado no Brasil pela editora Conrad); O personagem literário mais famoso de Ziraldo, O Menino Maluquinho, chega aos gibis, pela editora Abril (em 2006, o personagem é publicado pela editora Globo). O Menino Maluquinho ganha ainda outros livros (todos escritos por seu criador), duas adaptações cinematográficas (em 1994 e 1999), e uma série de TV, em 2006, pela TV Cultura; Radical Chic, a mais conhecida personagem de Miguel Paiva (a personagem ganha, na revista Playboy, uma versão em fotonovela nos anos 1990, e, em 1993, um programa de televisão no formato game show, pela Rede Globo); A Turma do Arrepio, de César Sandoval, é outro gibi infantil relevante (os personagens ganham uma série de TV, pela Manchete, em 1997, e o gibi é reeditado, em 2009, pela editora As Américas); No jornal O Popular, de Goiânia, Goiás, aparecem as tiras do personagem infantil Cabeça Oca, de Christie Queiroz. Mais tarde, dentro da série, aparecem as tiras da personagem Mariana; Por volta desse ano, a editora Vidente lança duas coletâneas de HQ nacionais: Tralha (2 números, cujos colaboradores mais importantes foram Marcatti e Lourenço Mutarelli) e Porrada! Special (12 números).• 1990 – Aparece a série Ecologia em Quadrinhos, de Cláudia Lévay, pela editora Brasiliense. São três os títulos lançados da série: Amazônia, Pantanal e Tietê (Lévay também é responsável pelos roteiros da cinessérie Tainá: Uma Aventura na Amazônia, de 2001, e A Aventura Continua, de 2004); Pequeno Ninja, da Felipe Fernandes Produções (roteiros de Tony Fernandes e arte de Wanderley Felipe [que hoje assina Vanderfel]), pela Editora Ninja. Essa série gerou dois spin-offs, Khin, o Pequeno Samurai, e Shaken, o cachorro ninja, todos com seus próprios gibis. Em 2002, Pequeno Ninja ganha uma versão em mangá, pela Editora Cristal, por João Costa e Bruno Paiva, do Studio de Artes. E, em 2007, os gibis do personagem voltaram a ser publicados pela editora On Line, com material da Felipe Fernandes Produções; por volta desse ano, é lançado no Brasil o gibi com a quadrinização do videogame Street Fighter, pela editora Escala. Inicialmente, com material estrangeiro, a seguir são publicadas histórias produzidas por artistas brasileiros – entre eles, Arthur Garcia. O gibi é publicado até por volta de 1996.No final da década, além dos títulos de HQ infantis regulares (Mônica, Fofura, O Gordo, Patrícia, Turma do Arrepio, Menino Maluquinho, etc.), outros personagens que faziam sucesso eram os baseados em personalidades da televisão, quase todos da linha infantil: Xuxa, Sérgio Mallandro, Gugu Liberato, Os Trapalhões. Nos anos 90 e 2000, outras personalidades, como a apresentadora Ana Maria Braga, o jogador de basquete Oscar, a banda Planet Hemp e a trupe humorística Casseta e Planeta, ganham seus próprios gibis.
Destaque também para a editora Phenix, dirigida por Tony Fernandes e Wanderley Felipe, que incentivava a produção nacional de quadrinhos. A editora fechou as portas no início dos anos 90.
Hoje, para encerrar, mais três tiras de Letícia.
Sabem, andei fazendo as contas: até agora, produzi exatamente 198 tiras da personagem! Estas aqui, entretanto, são as de números 180, 181 e 182. Logo, o estoque que eu tenho escaneado está no fim. Assim, vou ter de produzir mais para impedir que as peripécias da minha menina parem.
Confiram a série desde o início em: http://leticiaquadrinhos.blogspot.com/. Esta semana, encerrou-se a saga "épica" Como comer pipoca no ar.
Na próxima postagem: as décadas de 90 e 2000.
Até mais!
Até mais!
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