sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

MUNDINHO ANIMAL

Olá.
Hoje, vou falar de uma agradável descoberta.
Depois de algum tempo lendo historinhas em quadrinhos insossas, encontro afinal algo que me faz abrir um merecido sorriso que evolui para o riso.
Trata-se desta coletânea: MUNDINHO ANIMAL, coletânea de algumas das melhores tiras de Arnaldo Branco.

O autor faz parte daquela categoria de desenhistas cujo humor provém mais da situação apresentada que dos desenhos. O traço de Branco é tosco, parecendo ser todo feito às pressas, sem esboço. Daquele tipo que desenha rápido antes que a ideia inicial para a piada mude. Porém, o desenho é menos importante: se alguém consegue tirar ótimas sacadas em humor gráfico mesmo tendo um traço tosco, esse desenhista é de valor. Que o diga minha conterrânea Fabiana Bento, a Chiquinha.
Bem. Arnaldo Branco começou a publicar seus trabalhos na internet em 1997, através de seu blog, o Mau Humor. Ele conquistou notoriedade com os personagens Capitão Presença, o herói da cannabis; Joe Pimp; Os Remédios do Mal; Zero treze; e, claro, Mundinho Animal. Suas tiras atualmente são publicadas no portal G1, no jornal O Globo e na revista Zé Pereira. Mas ele publicou em diversas revistas. Conheça o blog dele: www.oesquema.com.br/mauhumor.
MUNDINHO ANIMAL, a coletânea, foi lançada em 2010, pelo selo Barba Negra da editora Leya. E apresenta-se como uma animal strip (tira com animais), mas que satiriza o mundo humano. Seus animais são toscamente desenhados, mas bem-formados o suficiente para passarem a ideia que querem passar.
Não há um personagem fixo em MUNDINHO ANIMAL. Nela aparecem coelhos, pássaros, patos, gatos, ursos, ratos... mas o mote da tira é satirizar a indústria cultural brasileira e internacional.
Quase todas as tiras tiram sarro do mundo da música, com os ritmos de sucesso, a decadência das gravadoras graças ao advento da internet e a tachação de bandas (que não se definem entre um estilo musiocal e outro); com o mundo do cinema, principalmente o brasileiro, que não é incentivado como deveria; a burocracia e os supostos incentivos à produção cultural, que não estimulam cultura nacional nenhuma (ou, quando muito, a fazem visando um objetivo muitas vezes escuso, ou servem mais como assistencialismo); o mundo da televisão e os mecanismos para alcançar audiência; o mundinho dos próprios artistas, muitas vezes famosos por terem fama e/ou terem fama por serem famosos. Enfim, o mundo da produção cultural não passa de um mundinho animal. Analisado de um modo crítico e que nos faz refletir. Tamos mal na fita, perceberam? Em vez de termos cultura de qualidade e de fácil acesso à população, estamos assistindo ao emburrecimento progressivo da humanidade. Poucos serão os que conseguirão se salvar da mediocridade generalizada. É mais ou menos essa a ideia que Arnaldo Branco quer passar (me corrijam se eu estiver errado).
Ah, sim, eu ia esquecendo: o Arnaldo também satiriza o mundinho da internet, dos blogs, orkuts e twitteres da vida, que apesar dos esforços ainda contribui para o aumento da mediocridade humana. (infelizmente, eu não posso dizer que estou fora dessa, com este blog)
Dentre o material "cultural" do Arnaldo Branco, também encontramos na série tiras que discutem situações banais do cotidiano; outras que versam sobre os aspectos mais repugnantes do sexo; ou simplesmente tiras que fogem do padrão consagrado.
Algumas das tiras são situações que se estendem pelos três quadrinhos; outras que são do modelo "cada quadrinho uma piada", com uma análise "didática" de um fator de um conjunto de três. E tudo apresentado por animais antropormofizados, desenhados sem cuidado (já falei isso, não?).
Mas o mais importante: são tiras engraçadas o suficiente para tirar pelo menos uma risada de um rosto triste pelo dia-a-dia massacrante. É, MUNDINHO ANIMAL faz rir. É paráfrase do que diz o quadrinhista Fábio Zimbres, que assina o prefácio do livro.
Mas cuidado: qualquer coisa que se diga sobre a obra do próprio Arnaldo, qualquer clichê que se utilize para qualificar sua obra, pode ser usado contra nós em uma próxima tira do MUNDINHO ANIMAL. É o que afirma Diego Assis, que assina o posfácio.
Quem quiser constatar que há alguém que ainda não se entregou à mediocridade da nossa indústria cultural, não percam: MUNDINHO ANIMALestá à venda nas bancas, livrarias e outros pontos de venda de livros por apenas R$ 12,90! Im-per-dí-vel!!!
Para encerrar, mais um triplex de Bitifrendis.
E isso é tudo.
Até mais!

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