Hoje, vou falar de uma agradável descoberta.
Depois de algum tempo lendo historinhas em quadrinhos insossas, encontro afinal algo que me faz abrir um merecido sorriso que evolui para o riso.
Trata-se desta coletânea: MUNDINHO ANIMAL, coletânea de algumas das melhores tiras de Arnaldo Branco.
O autor faz parte daquela categoria de desenhistas cujo humor provém mais da situação apresentada que dos desenhos. O traço de Branco é tosco, parecendo ser todo feito às pressas, sem esboço. Daquele tipo que desenha rápido antes que a ideia inicial para a piada mude. Porém, o desenho é menos importante: se alguém consegue tirar ótimas sacadas em humor gráfico mesmo tendo um traço tosco, esse desenhista é de valor. Que o diga minha conterrânea Fabiana Bento, a Chiquinha.
Bem. Arnaldo Branco começou a publicar seus trabalhos na internet em 1997, através de seu blog, o Mau Humor. Ele conquistou notoriedade com os personagens Capitão Presença, o herói da cannabis; Joe Pimp; Os Remédios do Mal; Zero treze; e, claro, Mundinho Animal. Suas tiras atualmente são publicadas no portal G1, no jornal O Globo e na revista Zé Pereira. Mas ele publicou em diversas revistas. Conheça o blog dele: www.oesquema.com.br/mauhumor.
MUNDINHO ANIMAL, a coletânea, foi lançada em 2010, pelo selo Barba Negra da editora Leya. E apresenta-se como uma animal strip (tira com animais), mas que satiriza o mundo humano. Seus animais são toscamente desenhados, mas bem-formados o suficiente para passarem a ideia que querem passar.
Não há um personagem fixo em MUNDINHO ANIMAL. Nela aparecem coelhos, pássaros, patos, gatos, ursos, ratos... mas o mote da tira é satirizar a indústria cultural brasileira e internacional.
Quase todas as tiras tiram sarro do mundo da música, com os ritmos de sucesso, a decadência das gravadoras graças ao advento da internet e a tachação de bandas (que não se definem entre um estilo musiocal e outro); com o mundo do cinema, principalmente o brasileiro, que não é incentivado como deveria; a burocracia e os supostos incentivos à produção cultural, que não estimulam cultura nacional nenhuma (ou, quando muito, a fazem visando um objetivo muitas vezes escuso, ou servem mais como assistencialismo); o mundo da televisão e os mecanismos para alcançar audiência; o mundinho dos próprios artistas, muitas vezes famosos por terem fama e/ou terem fama por serem famosos. Enfim, o mundo da produção cultural não passa de um mundinho animal. Analisado de um modo crítico e que nos faz refletir. Tamos mal na fita, perceberam? Em vez de termos cultura de qualidade e de fácil acesso à população, estamos assistindo ao emburrecimento progressivo da humanidade. Poucos serão os que conseguirão se salvar da mediocridade generalizada. É mais ou menos essa a ideia que Arnaldo Branco quer passar (me corrijam se eu estiver errado).
Ah, sim, eu ia esquecendo: o Arnaldo também satiriza o mundinho da internet, dos blogs, orkuts e twitteres da vida, que apesar dos esforços ainda contribui para o aumento da mediocridade humana. (infelizmente, eu não posso dizer que estou fora dessa, com este blog)
Dentre o material "cultural" do Arnaldo Branco, também encontramos na série tiras que discutem situações banais do cotidiano; outras que versam sobre os aspectos mais repugnantes do sexo; ou simplesmente tiras que fogem do padrão consagrado.
Algumas das tiras são situações que se estendem pelos três quadrinhos; outras que são do modelo "cada quadrinho uma piada", com uma análise "didática" de um fator de um conjunto de três. E tudo apresentado por animais antropormofizados, desenhados sem cuidado (já falei isso, não?).
Mas o mais importante: são tiras engraçadas o suficiente para tirar pelo menos uma risada de um rosto triste pelo dia-a-dia massacrante. É, MUNDINHO ANIMAL faz rir. É paráfrase do que diz o quadrinhista Fábio Zimbres, que assina o prefácio do livro.
Mas cuidado: qualquer coisa que se diga sobre a obra do próprio Arnaldo, qualquer clichê que se utilize para qualificar sua obra, pode ser usado contra nós em uma próxima tira do MUNDINHO ANIMAL. É o que afirma Diego Assis, que assina o posfácio.
Quem quiser constatar que há alguém que ainda não se entregou à mediocridade da nossa indústria cultural, não percam: MUNDINHO ANIMALestá à venda nas bancas, livrarias e outros pontos de venda de livros por apenas R$ 12,90! Im-per-dí-vel!!!
Para encerrar, mais um triplex de Bitifrendis.
E isso é tudo.
Até mais!
Até mais!
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