sábado, 19 de abril de 2014

KRAHOMIM - Hoje, e todo dia, é o Dia do Índio!

Olá.
Hoje, 19 de abril, é o Dia do Índio. Porém, este ano, combinou com um sábado de Aleluia, véspera da Páscoa. Mas, para hoje, interessa mesmo o Dia do Índio, portanto, propício ao assunto do qual falarei.

Hoje vou falar de quadrinhos. E de índios também. Hoje, trago a vocês mais uma HQ publicada pela editora Júpiter 2, de José Salles. Não sei dizer agora se ele continua pensando mal de mim depois da última vez que nos comunicamos – e depois da última vez que falei de gibis da editora dele.
Esperei mais de um mês pra poder falar do gibi de KRAHOMIM. Quis coincidir o tema com a ocasião do Dia do Índio. E eis que a oportunidade chegou – a ocasião não é tanto adequada, mas vamos em frente.


ANTES, O AUTOR
KRAHOMIM é criação de Elmano Silva. Antes de falar do personagem, vou falar do autor.
Elmano Silva Santos nasceu em Recife, Pernambuco, em 1942. Artista já veterano, Elmano é um dos maiores desenhistas brasileiros de HQ de terror, embora tenha incursões em outros gêneros.
Desde menino, Elmano gostava de escrever e desenhar histórias. Formado técnico contábil, Elmano nunca abandonou a produção quadrinhística, feita em sobras de cadernos escolares, papel de padaria e até verso de impressos de propaganda eleitoral.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1965. Em 1976, resolveu colocar alguns trabalhos no Salão de Inverno de Petrópolis e recebeu menção honrosa nessa exposição. Em 1977, como ilustrador e chargista, trabalhou para as empresas cinematográficas J. B. Tanko e Vidya Filmes. Nesse mesmo ano, conheceu o então editor de quadrinhos da Editora Vecchi, Otacílio d’Assunção, o Ota, e publicou, na histórica revista de terror Spektro, dessa editora, sua primeira HQ, A Vingança de Sinhá Preta. A narrativa se passava no agreste nordestino, o que diferenciou Elmano dos outros artistas da revista. Portanto, Elmano é considerado o autor (senão um dos autores) que incorporou, nas HQ de terror brasileiras, a presença de lendas regionais e temáticas ligadas ao Nordeste Brasileiro, tão propícios a histórias sobrenaturais quanto os cenários urbanos até então muito usados.
Elmano colaborou ainda com as revistas Pesadelo e Sobrenatural, da mesma editora Vecchi. Mas seu trabalho mais conhecido se concentrou na Spektro. O trio Sinhá Preta, Besta Fera e Menino Aparício fez grande sucesso, mas seu personagem mais conhecido viria no número 21 da revista: Silas Verdugo, o Homem do Patuá, um caçador de criaturas sobrenaturais. Ele apareceria ainda nos números 22 e 24 da Spektro, sempre com histórias onde se sentia o calor do sertão, o clima de injustiça social e a presença do fabulário nordestino, com assombrações tipicamente brasileiras.
Com argumentos próprios, Elmano tornou o período 1980-82 o mais fecundo de sua carreira. Colaborou ainda com as editoras Grafipar, Record, Bloch, Vozes (para o qual fez Vida dos Santos em HQ) e ICEA. Também esteve presente nos oito números da Coleção Assombração, editada em 1995 pela Ediouro. Isso, só para ficar nas suas colaborações com os quadrinhos. Elmano também trabalhou como ilustrador de livros infantis e já foi bastante premiado no Brasil e no Exterior – entre as premiações, está o 1º lugar no VI Salão Carioca de Humor, categoria melhor charge, 1993; 1º lugar no 4º Concurso Nacional de HQ em São Gonçalo, RJ, 1999; e menções honrosas no 9º e no 10º Concursos de BD e Cartoon de Moura, Portugal, em 2001 e 2002.
Seus mais recentes trabalhos, desde o início do século XXI: além de fazer capas e ilustrações para os gibis da SM Editora / Júpiter 2, teve dois álbuns editados pela editora Marca de Fantasia: Os Marginais (2009) e Silas Verdugo, o Homem do Patuá – A Origem (2010), onde retoma seu personagem mais famoso.
Suas colaborações para a editora Júpiter 2 não se limitam apenas às capas e ilustrações. Além do gibi do KRAHOMIM, que vou apresentar daqui a pouco, ele desenhou histórias de outros personagens da casa – a mais lembrada é a história El Condor, número 5 do gibi O Bom e Velho Faroeste.
Elmano atualmente reside em Joinville, SC, onde continua tocando seus projetos.

Fontes: ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS, de Goida e André Kleinert (L&PM, 2011), site da editora Marca de Fantasia (www.marcadefantasia.com) e blog da Editora Júpiter 2 (http://jupiter2hq.blogspot.com.br/).

AGORA SIM, KRAHOMIM
KRAHOMIM é a rara incursão de Elmano Silva no universo das HQ infantis. E deu ao público brasileiro um dos personagens mais cativantes das HQ alternativas. Se fosse publicado por uma grande editora e alcançasse todas as bancas brasileiras, ah, onde chegava.
KRAHOMIM teve seu primeiro gibi publicado em 2007. É um dos raros gibis brasileiros com um indígena como protagonista – geralmente, os índios são personagens secundários de HQ, o que por si já é mais uma das injustiças contra os descendentes dos habitantes originais do Brasil. E não estranhem os olhos puxados do personagem: indígenas são naturalmente assim, o que comprova a ligação entre os indígenas do continente americano com as etnias asiáticas, comprovando, também, que o ser humano povoou a América vindo da Ásia.
A ideia para KRAHOMIM nasceu quando Elmano leu, certa vez, uma reportagem sobre a tribo indígena Krahó, ameaçada de extinção, a ponto de ser mais uma a ter sua cultura, suas lendas e costumes destruídos pela “civilização branca”. Na reportagem, havia a foto de um indiozinho desse povo, e, pensando no futuro dele, Elmano deu vida a KRAHOMIM – cujo nome é junção de Krahó, da tribo, com curumim, menino indígena.
O indiozinho, da tribo Krahó, é um incansável defensor da natureza. Uma de suas características soa até clichê dentro do gênero: a sua capacidade de falar com animais. Sem brincadeira, KRAHOMIM parece ser só mais um personagem infantil capaz de falar com animais. Mas o que ajuda a diferenciar KRAHOMIM dos demais personagens talvez seja sua origem, sua etnia.
A tribo de KRAHOMIM já é semi-civilizada, com índios educados por freiras e usando roupas de “homem branco”, mas buscando preservar muitos de seus costumes e modo de vida, como morar em ocas comunitárias, ouvir os conselhos dos mais velhos (inclusive o pajé da tribo) e fazer artesanato. KRAHOMIM, entretanto, preza tanto os costumes indígenas que, apesar de ir à escola e gostar de ler livros, é o único da tribo que anda nu e descalço, só com alguns colares, pulseiras e cordas enroladas no corpo. Desconfia muito dos avanços tecnológicos do homem branco. Gosta muito da floresta e dos animais e vive sempre protegendo-os de caçadores gananciosos e malvados, num alerta pela preservação da natureza e o combate ao tráfico de animais (mas fica meio irritante o curumim ficar chamando os bichos de “amigo”: amigo boto, amiga onça, amigo tamanduá, etc.). Ele também costuma se envolver nos problemas de seus amigos, procurando ajudar da melhor forma, através da conversa. Em suma, KRAHOMIM é um bom menino – e o que se espera bastante de um menino indígena.
KRAHOMIM vive perto de uma pequena cidade na Amazônia, habitada por brancos, negros, índios urbanos... Tudo na mescla étnica e cultural observada na ocupação da região amazônica. Seus amigos mais constantes são o  atrapalhado indiozinho semi-civilizado Noel, que já adotou muitos costumes dos brancos, como o de andar sempre vestido com roupas, o jabuti Tanjão e a menina Lisa. Um pouco mais tarde, foi incluído na turma Off, o desligado, um sujeito citadino distraído e muito atrapalhado, que garante boa parte do humor da série.
As histórias de KRAHOMIM, no geral, são bem conduzidas e bem escritas, e o traço de Elmano, que utiliza na série o caricatural típico das HQ infantis, é superdetalhado, praticamente enchendo as páginas. Em alguns momentos, o traço não fica tão bom como se pretendia, e são constantes os erros nos desenhos, como os de proporções em partes dos corpos dos personagens, evidenciando, às vezes, uma arte feita muito às pressas. Mas esses erros, principalmente nas primeiras edições, só são reparáveis a quem ler as histórias com atenção, dado o detalhamento na arte de Elmano. Boa parte das histórias, até a introdução do personagem Off, gira em torno dos esforços de KRAHOMIM para salvar animais de caçadores inescrupulosos e do envolvimento do indiozinho com lendas da região amazônica, como o Curupira e a Iara. Ah: o gibi é completo com páginas de passatempos e figuras para colorir.

AS EDIÇÕES LANÇADAS ATÉ AGORA
Lembrando: todas as histórias, texto e arte, e todas as capas, incluindo as cores, são de Elmano.

KRAHOMIM # 1
Lançada em outubro de 2007, quando a editora ainda atendia por SM Editora.
Duas histórias longas: na primeira, O Curupira, Krahomim, ao tentar salvar uma onça de dois caçadores malvados, é preso numa armadilha, e convoca o Curupira, numa versão diferente da já consagrada (com os dois pés virados para trás, mas careca e com um só olho, ao invés de ter cabelos vermelhos e dentes verdes) para dar uma lição dos malvados; e na segunda, O Canto da Iara, Krahomim tenta ajudar um amigo que teve contato com a bela criatura que habita os rios e hipnotiza os homens com seu canto – o rapaz está apaixonado por ela. Para tentar fazê-lo sair dessa, o indiozinho decide conversar com a própria Iara, e os dois tem uma ideia para quebrar o encanto...

KRAHOMIM # 2
Publicado em novembro de 2009, com a editora já sob o nome Júpiter 2.
São três as histórias agora: em O Jatobá, Krahomim faz de tudo para impedir que um lenhador derrube uma árvore, inclusive tentando pegar suas ferramentas – e sempre correndo antes do amigo Tanjão terminar as frases; em Noel e Lisa, Krahomim tenta entender o problema de a menina não estar prestando atenção em Noel; e em O Bicho-do-Mato, Krahomim, para salvar um filhote de onça-pintada capturado por um caçador inescrupuloso, e diante da impossibilidade de um guarda florestal em resolver o caso, deixa o caso nas mãos de uma criatura da floresta, o Bicho-do-Mato, que não vai deixar o caçador em paz com seus truques e seus assovios. A edição é completa com uma tira do personagem.

KRAHOMIM # 3
Lançado em novembro de 2010
Quatro histórias. Neste gibi, temos a estreia de Off, logo na primeira história, Krahomim encontra Off, o Desligado, onde o indiozinho e Noel conhecem o distraído citadino, que já chega fazendo confusão. Na segunda, O Soluço de Lisa, o indiozinho tenta curar uma crise de soluço da amiga, mas quem resolve o caso é Noel, com uma ajudinha de Off; na terceira história, O Canto do Iurapuru, após ouvir do pajé da tribo uma história sobre o canto do pássaro que, segundo a lenda, taz sorte a quem ouve, Krahomim tenta ajudar Off a gravar o som do pássaro, mas para chegar até o pássaro, os dois precisam fazer um acordo hilário com os macacos da floresta; e, na última história, Vamos ao Cinema?, as crianças da escola são convidadas para uma sessão de cinema na vila, uma ideia que desagrada Krahomim, inicialmente porque ele precisa vestir roupas, e depois porque a sessão termina em tumulto...

KRAHOMIM # 4
Lançado em março de 2012.
Três historinhas: na primeira, O Valentão, a turminha de Krahomim está sob ameaça de um menino que põe medo em todos por ser faixa preta de karatê, mas Krahomim, o único que não tem medo dele, acaba descobrindo que o garoto não é o que parece – um clássico enredo sobre bullying; na segunda, O Segredo, Noel passa um pequeno apuro para esconder um segredo sobre o pai de um de seus amigos; e, na terceira, A Lenda do Boto, Krahomim precisa salvar o bicho de um homem que acredita que sua filha foi enfeitiçada. Tudo por causa da lenda de que o boto costuma se transformar em homem de chapéu para seduzir as moças e levá-las ao fundo do rio. Pior é que o amigo Off está envolvido na história... Ah: este gibi não inclui as páginas de passatempos presentes nas edições anteriores, só a tirinha.

Ainda está em tempo de conferir esse quadrinho brasileiro cativante! Basta escreverem para smeditora@yahoo.com.br, e pedirem os seus, ao preço de R$ 3,00 cada. Mas um aviso: José Salles informou que o #2 já se encontra esgotado no estoque da editora. Mas ainda é possível conseguir este gibi junto ao próprio Elmano Silva. Nesse caso, escrevam para: krahosilas@ig.com.br.
Conheçam outras publicações da Júpiter 2 no blog http://jupiter2hq.blogspot.com.br/.
Fica registrada nossa homenagem aos povos indígenas do Brasil em seu dia!
Para encerrar, aqui vai a ilustração de hoje: no traço de Rafael Grasel, Krahomim lado a lado com Silas Verdugo, o Homem do Patuá. As duas maiores criações de Elmano Silva, o já veterano autor de HQB. Pelo que vi, acabei cometendo também os já citados erros de proporção em partes dos corpos dos personagens...
E uma Feliz Páscoa aos leitores deste blog!

Até mais!

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