quinta-feira, 10 de abril de 2014

Livro: ENIGMA NA TELEVISÃO

Olá.
Hoje, volto a falar de livro. Hoje, volto a falar da histórica série Vaga-lume da Editora Ática. Hoje, volto a falar de Marcos Rey.
Em postagens anteriores, resenhei alguns dos livros infanto-juvenis do saudoso escritor paulistano, um dos maiores “astros” da Série Vaga-Lume. Ficou conhecido graças à série Léo e Seus Amigos. Boa parte da obra infanto-juvenil de Edmundo Donato, aliás Marcos Rey, é composta de livros policiais, com tramas detetivescas.
Hoje, escolhi seu melhor livro policial, talvez o seu mais bem construído romance: ENIGMA NA TELEVISÃO.

Quem conhece a obra de Marcos Rey, sabe que grande parte de suas histórias é ambientada em São Paulo, Capital, sua terra natal. Porém, dois de seus livros, ENIGMA NA TELEVISÃO e Bem-Vindos ao Rio, fogem desse elemento: ambos têm por cenário a cidade do Rio de Janeiro. Pra começar, é o básico.
ENIGMA NA TELEVISÃO foi publicado em 1986, pela série Vaga-Lume da Ática (em seguida a Dinheiro do Céu e ao romance adulto A Arca dos Marechais, ambos publicados no ano anterior, e quase juntamente a Bem-Vindos ao Rio, publicado no mesmo ano). Com ilustrações de Jô Fevereiro. E também ganhou nova edição pela Global Editora, com ilustrações de Avelino Guedes.
Ah, antes de prosseguirmos, uma notícia aos fãs de Marcos Rey: Um Rosto no Computador, quarto livro da série Léo e Seus Amigos e o único que não tinha ganho edição pela Global, agora ganhou! Isso mesmo: a Global acaba de divulgar o lançamento de Um Rosto no Computador dentro do catálogo das obras de Marcos Rey! Vejam em www.globaleditora.com.br/
E agora, voltamos à “programação normal”.
ENIGMA NA TELEVISÃO retrata um universo que Marcos Rey conhece bem: os bastidores de um estúdio de televisão. Rey, como já dito em postagens anteriores, escreveu novelas e roteiros para programas infantis da Rede Globo, logo ele conhece o universo televisivo. E, nesse universo, situa uma bem construída trama policial nos bastidores da telinha, com todos os elementos do gênero: uma série de crimes, pistas falsas para atrapalhar a investigação, pequenos detalhes que significam muito, um detetive amador se empenhando em tentar acertar onde a polícia errou, muito humor e reviravoltas surpreendentes. Além de algumas noções do funcionamento de um estúdio de televisão e de uma alfinetada na cultura das celebridades.
A trama é dividida em duas partes: Aguardem a Próxima Atração e O Garoto das Amenidades. Ambas compostas de capítulos em geral bem curtos.
A história começa quando um grupo de senhoras conservadoras, chamadas de sentinelas, e cuja sede de reuniões fica no bairro da Tijuca, resolvem invadir os estúdios da TV Mundial (talvez uma referência à Rede Globo), e atrapalhar as gravações de uma novela. As sentinelas, lideradas pela puritana Petra Santana, que apesar de odiar novelas assiste aos capítulos de cronômetro em punho, protestam por um motivo hoje bem pueril: os beijos entre os atores, que duram quase um minuto (por isso o cronômetro). A ação das sentinelas abrem discussões, tanto entre os detratores quanto entre os defensores das “combatentes da pornografia na televisão”. Claro que a TV Mundial está se empenhando em ridicularizar as sentinelas e sua causa. O repórter Paulo Maciel, do telejornal, entrevista a líder das sentinelas. Porém, os planos de divulgação da entrevista são atrapalhados por uma notícia bombástica: o jovem e promissor ator de telenovelas Fábio Rocha foi encontrado morto na Praia do Leblon. Assassinado com uma facada nas costas. O delegado encarregado do caso, Doutor Reis, já começa a apontar suspeitos entre os colegas de Fábio Rocha na Mundial. O ator tem uma irmã, a continuísta de novelas Renata, cujo trabalho é anotar possíveis erros de continuidade em cenários e detalhes dos figurinos entre uma cena e outra.
Aí, a trama começa a esquentar: chega à sede da emissora uma carta, com carimbo postal do bairro da Tijuca, escrita em letra de forma, com apenas uma frase: “Aguardem a Próxima Atração”.
E a “próxima atração” vem dias depois: Nina Flores, uma comediante veterana, é assassinada durante as gravações de seu programa em um parque de diversões. Não demora muito, aparecem duas evidências do crime: testemunhas afirmam que um punk viajara no vagão do trem-fantasma onde Nina foi morta, o que faz com que a polícia comece a caçar os punks do Rio; e a arma do crime, uma faca, foi encontrada dentro do túnel.
Só dias depois é que a faca com que Fábio Rocha foi morto é encontrada na praia. O pior de tudo: as facas, de um conjunto de três, pertencem a Petra Santana – e foram roubadas de sua casa. Mas isso não serve, ainda, para ligar as sentinelas aos assassinatos. A descoberta de Petra sobre o destino de suas facas é um dos momentos de maior surpresa do romance.
Chega mais um bilhete com os mesmos dizeres – “Aguardem a Próxima Atração” – à sede da Mundial, e um terceiro assassinato acontece: o veterano e egocêntrico ator Pedro Ventura é assassinado durante a encenação de uma peça. Pedro tem um sobrinho, o emotivo Djalma, aparentemente tão abalado com o assassinato quanto Renata com o do irmão.
As coisas começam a se complicar. Porém, Paulo Maciel acaba descobrindo, meio por acaso, ao ler um romance velho em sua kitchenette, uma teoria. Porém, quando está prestes a revelar a teoria ao diretor do telejornalismo, Miranda, Paulo é assassinado. Seu corpo é encontrado em um elevador dos estúdios.
Aqui, começa a segunda parte da trama. Diante do abalo provocado por esses quatro assassinatos, aparece o “detetive amador” da trama: Ivo Maciel, irmão de Paulo, que consegue, na TV Mundial, um estágio como repórter de amenidades no telejornal – sua função é entrevistar pessoas pitorescas das ruas do Rio. Ivo vai morar na kitchenette de Paulo, e pouco depois de sua chegada, conhece Renata Rocha, que vai visita-lo. Os dois acabam se tornando aliados nas investigações da morte dos irmãos de ambos – e Ivo já demonstra um interesse amoroso pela linda continuísta. Djalma também se torna um aliado, se mostrando muito emotivo na frente de Ivo – Djalma chega a contratar um detetive particular, Fagundes, para cuidar do caso.
Uma série de pistas falsas e detalhes aparentemente sem importância vão incrementando as investigações. A maior pista falsa é até cômica: um borracheiro, Clemente Silva, é preso ao tentar agredir uma atriz na saída da emissora, e, só para aparecer na televisão, decide confessar os crimes. Mas acaba desmascarado.
Por conta própria, Ivo vai, nos intervalos de seu trabalho, fazer investigações. Motivado por uma tentativa de assalto à sua kitchenette, perpetrada por um punk (ou o que dizem ser um punk), Ivo vai entrevistar um grupo de punks – e quase se dá mal. Enquanto isso, Renata vai investigar as sentinelas, tendo uma entrevista com a simpática Elisa Bastos, vice-presidente da Liga (que também estava no trem-fantasma no dia da morte de Nina Flores). Ivo, pouco depois, vai a um sanatório entrevistar um sobrinho de Elisa, Antenor – suspeito de ser o punk do parque. Mas a investigação é infrutífera, uma vez que Antenor está impossibilitado de responder qualquer pergunta.
De repente, um detalhe sem importância começa a se tornar importante à trama: um livro velho desapareceu da kitchenette de Ivo. O livro, o mesmo que Paulo lera antes de ser assassinado, só se torna importante quando Ivo dá queixa de que a empregada que faz a limpeza da kitchenette roubara o livro, possivelmente a mando de alguém, devolvera outro no lugar, e depois sumiu.
O romance em questão se chama O Correio da Morte, de um tal Douglas Irish. E, aparentemente, este romance realmente existiu, pois se Rey usou-o como base para ENIGMA NA TELEVISÃO... Devido ao interesse do provável assassino no romance, Ivo inicia uma busca desesperada nos sebos da cidade em busca de um exemplar. E há um agravante: os vendedores dos sebos informam que um homem de cabeleira vermelha comprara todos os exemplares de O Correio da Morte existentes no Rio. Mas, como a mãe e a irmã de Ivo moram em São Paulo, Ivo pede-lhes ajuda – que procurem um exemplar do livro em São Paulo.
De repente, outro ator, o veterano e então decadente Carlos Prata – que chegou a ser apontado como suspeito dos crimes – é encontrado morto, e com um bilhete de confissão dos crimes. E com a terceira faca do conjunto de Petra. Entretanto, não é o fim da história.
Quando todos dão o caso por encerrado, Ivo recebe pelo correio um exemplar do romance. O Correio da Morte, que trata da investigação de uma série de assassinatos em um clube de golfe londrino, tem muitas semelhanças com o caso em questão, e Ivo acaba formulando a mesma teoria que Paulo: em verdade, a motivação dos assassinatos não era inveja ou vingança, mas motivos pessoais: a herança das vítimas. O culpado pelos assassinatos estaria interessado na herança de uma das vítimas, os outros crimes são só para despistar. Logo, Ivo resolve fazer nova investigação, apesar das resistências de todos, desta vez se concentrando nos herdeiros dos artistas mortos – Renata, naturalmente, fica de fora. E um novo suspeito aparece, entre os herdeiros de Nina Flores.
Uma reviravolta surpreendente marca o final do romance – um dos personagens menos suspeitos é o culpado. E as perguntas vão sendo respondidas aos poucos: quem é o tal homem de cabeleira vermelha que comprou os romances? Quem era o punk que viajou no trem-fantasma? Eles não seriam a mesma pessoa? Qual é a verdade sobre a tia com quem Renata Rocha supostamente mora?
Quem ler não vai se arrepender. Romance policial na melhor tradição de Agatha Christie. O melhor, na opinião deste que vos digita, que Rey escreveu para toda a série Vaga-Lume.

PARA ENCERRAR:
Como uma série de compromissos furou um plano que eu tinha pra esta postagem, e como no momento em que escrevo é quinta-feira, e como faz tempo que ele não aparece aqui, apesar de não ter muito a ver com o assunto, hoje vou colocar para vocês mais um trecho de um dos mais recentes arcos de tiras do Teixeirão, meu personagem gaúcho. E, sendo quinta-feira, combina em parte, pois, até novembro do ano passado, ele era publicado toda quinta-feira.
Confiram as mais recentes tiras do meu gauchão em http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/.
Ah: mais uma coisa. O meu amigo e colega blogueiro Lucas Cristhovam, do blog do Nick e Hércules, parece empenhado em me ajudar a divulgar meu trabalho. É justo que eu também retribua de alguma forma. E sua nova empreitada, o blog Enigmas de Nick e Hércules, está bombando. Olhem só a inusitada homenagem que ele fez aos meus personagens no blog dele! Mas tentem resolver o enigma antes de olhar a solução, já publicada. Nova diversão para os leitores de blogs!
Por hora, é isso aí.

Até mais!

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