Olá.
Hoje,
marcando o retorno à programação normal do blog – sem sexo ou coisa do tipo –
vou falar de um lançamento recente das Histórias em Quadrinhos nacionais. Em
tempos em que o financiamento coletivo (crowdfunding)
está salvando as HQ do Brasil, permitindo que autores publiquem obras através
de “vaquinhas” do público da internet, ainda há gente lançando seus gibis do
modo antigo, na pura sorte e contando com um possível sucesso da propaganda
boca-a-boca. Ou, neste caso, link a link.
É o
caso do sempre atuante, e ainda confiável editor independente, Roberto Guedes.
Seus livros teóricos e matérias em revistas informativas continuam
rendendo-lhes dividendos, mas para lançar o carro-chefe de seu selo Guedes
Manifesto, o gibi do super-herói Meteoro,
a história é diferente. Só agora, em novembro de 2014, ele conseguiu lançar
mais um número do ALMANAQUE METEORO! O quinto!
O último número, antes deste, do ALMANAQUE METEORO, que marca a nova fase do herói criado em 1992, foi lançado em fevereiro de 2013. Tudo com financiamento do próprio Guedes. Mas Guedes ainda segue a cartilha estabelecida no número 4: formato menor, menos páginas.
Vamos
recapitular: os três primeiros números, lançados respectivamente no outono e noinverno de 2010, e no outono de 2011, tinham formato 23 x 16 cm, 52 páginas
contando capa cartonada, e traziam matérias e entrevistas sobre o mundo das HQ
junto com os quadrinhos do Meteoro e outros personagens. Dificuldades
operacionais de manutenção de formato fizeram com que, no número 4 da coleção,
Guedes suprimisse as matérias e reduzisse o gibi: 20 x 14 cm, 36 páginas
contando capa cartonada, só as HQ. O que reduziu a qualidade que o gibi tinha
quando apareceu pela primeira vez. Entre as razões listadas por Guedes, está a
dificuldade dos artistas envolvidos para manter os prazos de elaboração das HQ
– nenhum deles é exclusivamente quadrinhista, precisa de outras fontes de
renda, é compreensível.
Bem,
o número 5 do ALMANAQUE METEORO está aí: 20 x 14 cm, capa cartonada, 36 páginas,
três HQ e alguns desenhos adicionais. Nada de matérias. A frustração,
entretanto, é compensada pelas HQ, cuja qualidade está melhor desde os
episódios anteriores: além das artes impactantes, os roteiros já são melhor
construídos. Guedes já não está mais derrapando no final das narrativas!
O
super-herói adolescente de Guedes continua tentando emplacar uma nova
cronologia como Roger Mandari, substituindo o antigo alter ego Ric Marinetti.
E, como os fãs recordam, o azarado e desajustado alter ego do herói tem tudo
para ser infeliz, com tanta gente contra ele: seu pai jornalista o despreza,
sua avó que o cria vive pegando no seu pé, seu rival Ronei vive fazendo de tudo
para afastar o rapaz de sua paixão, a estonteante loira Laura Lopez, e o
Fantasma Encapotado, membro arrependido da Sinarquia Universal, deu a Roger
superpoderes para encarar uma ameaça que vai se revelando aos pouquinhos. Se
incluirmos o misterioso vilão Encapuzado na conta... E, ainda por cima, eventos
recentes fizeram com que o bem-humorado Meteoro tenha a opinião pública voltada
contra ele. O único em quem Mandari ainda pode confiar é no avô. E,
secretamente, com Laura Lopez, que gosta dele, mas esconde isso. Ou melhor,
escondia.
Desta
vez, Roger Mandari pode ver um raio de sol em sua vida nesta edição: as coisas
parecem estar se acertando para ele. Mas não para o Meteoro.
Well.
As três histórias do gibi. Começando com Meteoro, em Sob Todos os Olhares, roteiro de Guedes, desenhos de A-Lima e
letras de Sandro Marcelo. Na aventura, Laura Lopez vai pessoalmente à casa de
Roger convidá-lo para tocar na sua festa de aniversário. Pouco depois, à noite,
um novo vilão, o Rapinador – um professor que fora “amaldiçoado” durante uma
caçada com o poder de voar como uma águia, e atua desde então, secretamente,
como mercenário – rouba da sede de uma organização secreta uma lança. Mas se
recusa a entregar o artefato tão cedo a seu contratante. No primeiro embate com
o Meteoro, que está ali por acaso, o Rapinador dá um calor no herói, mas no
segundo encontro dos dois, a coisa só não complica para o Meteoro porque alguém
resolve interferir para abafar o caso... E, no fim, como dito, as coisas
começam a se acertar para Roger Mandari e Laura Lopez. E o que é melhor: Ronei
não atrapalha em nada.
Em
seguida a um pôster de Rom Freire, retratando Guedes junto a seus personagens,
e uma página com sketches de Daniel Alves, Meteoro retorna com Meu Exemplo, Tua Escolha, roteiro de
Guedes, desenhos de Alves e letras de Marcelo. Na história, altamente reflexiva
e carregada de crítica social, Meteoro acaba perturbado com um fato: ele
interfere quando uma multidão está prestes a linchar um garoto que roubou uma
bolsa. Todos estão contra o garoto e contra Meteoro; o garoto, contra o herói.
O que Meteoro, alguém privilegiado apesar de seus dramas pessoais, poderia
fazer para mudar um destino? Tem tudo para se tornar um clássico das HQ
nacionais. Não tiro a razão do Guedes e sua própria resenha.
Logo
a seguir, retorna Chet, o caubói
criado por Wilde e Watson Portela. No Almanaque 3, Guedes incluiu uma aventura
inédita de Chet. Pois aqui ele retorna com uma história mais inédita ainda:
Presságio de Morte, roteiro de Wilde Portela e arte de Décio Ramirez. Nela, o
caubói passa pelo que parece ser o pior dia de sua vida – se tudo não for um
sonho: um misterioso inimigo do qual ele não consegue escapar. O roteiro é bom,
mas a arte de Ramirez é muito sofrível, com seu forte estilizado e seu uso
indiscriminado de curvas e borrões – nem parece que quem esteja atuando na
aventura seja mesmo o Chet.
Completam
o gibi a tradicional seção de cartas e a mensagem do editor. A capa é de
Aluísio de Souza, com cores de Zé Borba.
Agora,
dá para apontar um defeito: Guedes começou a incluir personagens demais nas
aventuras do Meteoro, e poucos são realmente desenvolvidos. Inclusive vilões –
se contarmos: Encapuzado, Aranha Lunar, Chino o Executor, Sweet Susy e agora
este Rapinador, as aventuras do Mascarado Voador já estão saindo do controle.
Ainda há as muitas pontas soltas criadas nas histórias. Agora, nesta edição, o
grande mistério é acerca da lança roubada, que parece ter um grande poder.
Ficou para a próxima edição, ao que parece – mas vai saber quando esta edição
vai sair! Depois do hiato de um ano e nove meses entre as edições 4 e 5 do
ALMANAQUE METEORO, só podemos rezar para que os ventos sejam favoráveis ao
nosso amigo Guedes. Por hora, o que temos a fazer é prestigiar mais esta HQ
nacional. Isto é, se você, leitor, não se incomodar em adquirir a sua ao preço de
R$ 15,00 (incluindo frete)! Se você acha que vale quanto pesa, escrevam para: guedesbook@gmail.com.
Por
hora, como diria Guedes, tá falado.
Para
encerrar: hoje resolvi elaborar uma HQ curta e assumidamente nonsense. Envolvendo atualidades – a seca
que assola, ou assolava, São Paulo, com a baixa nos reservatórios d’água –
super-heróis e a percebida resistência dos brasileiros. Sim, tenho constatado:
existem setores dos quadrinhos nacionais que assumiram uma “resistência” à
influência dos quadrinhos estrangeiros, como forma de compensar as críticas que
nossa nona arte sempre recebeu.
Não
entenderam? Pensem só: a intenção seria contratar a Tempestade, dos X-Men, para
fazer chover e repor o nível dos reservatórios d’água. Para trazer a mutante
para cá, o governo teria de dispender dinheiro público, ou seja, teríamos, em
tese, de mandar dinheiro para fora do país para trazer Tempestade para cá – e,
sendo uma personalidade internacional, não sairá barato. Esse gasto de dinheiro
público seria mais uma forma de desvalorizar os heróis brasileiros! Isso
geraria protestos principalmente entre heróis brasileiros? Decidam vocês. Na
multidão, só figurinhas carimbadas: Velta, Mirza (será que podemos
classifica-la como super-heroína?), Raio Negro, Homem Lua, Meteoro e Vulto. Em
algum momento, falei de todos eles aqui no blog.
E
desculpem os possíveis defeitos na história. Tal como a proposta acima, tive
boas intenções.
Em
breve, mais novidades. Viva o quadrinho nacional!
Até
mais!
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