segunda-feira, 24 de março de 2014

Livro: O RAPTO DO GAROTO DE OURO

Olá.
Hoje, continuamos a série de postagens sobre os livros de Marcos Rey, o saudoso escritor paulistano e maior “estrela” da histórica Série Vaga-Lume, da Editora Ática.
Hoje, da série Léo e seus amigos, falaremos do segundo livro: O RAPTO DO GAROTO DE OURO.

Devido ao grande sucesso alcançado pelo título anterior, O Mistério do Cinco Estrelas, lançado em 1981, Edmundo Donato, aliás Marcos Rey, resolveu escrever uma segunda aventura detetivesca para seus personagens Léo, o bellboy (mensageiro) do Emperor Park Hotel, sua quase-namorada “burguesa” Ângela e o primo Gino, gênio e cadeirante. Desse modo, veio à luz, em 1982 (portanto, no ano seguinte) O RAPTO DO GAROTO DE OURO.
Assim como em O Mistério do Cinco Estrelas, O RAPTO DO GAROTO DE OURO teve ilustrações do hoje também saudoso Jayme Leão, falecido agora em março. Por volta de 2005, o romance ganhou uma nova edição pela Global Editora assim como boa parte da obra juvenil de Marcos Rey – e essa nova edição tem capa e ilustrações de Rogério Soud.
No romance anterior, Leonardo Fantini, o Léo, passou por grandes apuros para conseguir recuperar seu emprego, provar sua inocência e o envolvimento de um figurão em um assassinato e com uma quadrilha de traficantes.  E, desta vez, ele se envolve com um caso de sequestro.
Frise-se desde já: da tetralogia de Léo, este é o melhor título – supera O Mistério do Cinco Estrelas pela estrutura narrativa. A investigação para se chegar ao culpado segue o método Agatha Christie, com vários suspeitos e diversas evidências contra eles, e onde cada detalhe conta na elucidação; e faz um interessante retrato de tipos humanos presentes no Bairro da Bela Vista, o tradicional reduto dos descendentes de italianos da cidade de São Paulo, terra natal de Marcos Rey. E o final é surpreendente.
Bão. O Garoto de Ouro do título é um cantor de rock, um jovem chamado Alfredo Carlucci. Amigo e colega de escola de Léo, filho de um carpinteiro, ele alcançara o estrelato após uma apresentação em um programa de televisão, e, desde então, vive a carreira típica desse ofício: shows, gravações... O responsável por levar o Garoto de Ouro ao estrelato foi um amigo da família, o ex-ator de rádio Jaime Barone, que vive agora como corretor imobiliário. Jaime é um dos personagens mais importantes da trama.
No início da história, Alfredo está em casa, se preparando para uma apresentação especial: é seu aniversário, a ser comemorado em uma cantina da Bela Vista, com a presença de amigos e parentes. Porém, a casa é invadida por uma figura encapuzada que domina Alfredo e o rapta – apesar de o garoto ter conseguido se defender, acertando a cabeça do raptor com a guitarra. Alfredo acaba aprisionado em uma casa abandonada, com comida suficiente para três dias.
Enquanto isso, toda a família de Alfredo espera a chegada do Garoto de Ouro.  Estranhando a demora, Léo e Ângela resolvem ir à casa dele para ver o que aconteceu. Léo, entrando na casa pela janela destrancada, é o primeiro a descobrir que o amigo foi raptado. E aí, cria-se a comoção.
Entretanto, Léo, no local do crime, encontra um elemento que torna-se precioso para a investigação: uma agenda verde, com nomes e endereços de gente da Bexiga. Léo, Ângela, Gino e Jaime decidem entrevistar os nomes constantes na agenda para encontrar pistas que levem ao paradeiro de Alfredo e de seu raptor. Quase todos tem em comum o fato de não terem aparecido na cantina na hora da festa.
Enquanto isso, o raptor já entra em contato com os pais de Alfredo, e, num bilhete escrito a máquina de escrever com fita vermelha, exige dez milhões de cruzeiros de resgate. Enquanto os detetives fazem as entrevistas, os pais de Alfredo, com a ajuda do empresário do Garoto de Ouro, o argentino Lucas Lazzari, e de Jaime, buscam levantar o dinheiro.
Léo e Ângela entrevistam alguns dos nomes, Jaime entrevista outros. Os nomes escolhidos por Léo e Ângela são: Madame Santa, uma veterana modista especializada em vestidos de noiva; Heitor Salvattore, um campeão de braço-de-ferro que vive de bicos; Ricardo Tozzi, o comilão, um glutão que vive de concursos de gastronomia; o dentista Sílvio Poiares; Zorba, um marinheiro, que mora em um cortiço; e Oscar, um cego que mora perto da casa de Alfredo. Já os nomes escolhidos por Jaime são: Marino Bataglia, que vive da venda de cachorros de raça; Enrico, o salsicheiro; Laura Ferrucci, uma ex-miss Bexiga (a única que estava na festa de Alfredo); e João Cabeçada, um ex-bandido convertido à religião.
A investigação toma rumos inesperados no decorrer da narrativa. Madame Santa faz uma revelação sobre os pais de Alfredo que a compromete; Enrico leva uma pancada na cabeça que quase o mata, e é hospitalizado; Laura tenta se suicidar com remédios; Léo leva um grande susto e perde a cabeça na entrevista com Zorba, que o agride; e Oscar, apesar de cego, praticamente “presenciou” o rapto de Alfredo através dos sons.
Se, no livro anterior, Ângela não teve muita voz ativa, neste livro ela se mostra uma investigadora inteligente e que presta atenção a pequenos detalhes, como em uma marca roxa na testa de Heitor e em detalhes presentes no quarto de Tozzi. Enquanto isso, diante da quase-namorada, Léo se revela um investigador meio confuso e impaciente, diferente de como ele agiu no livro anterior.
Cabe a Gino conectar as peças conseguidas pelos amigos. E acertar onde eles erraram – os “investigadores” chegam até a palpitar o provável culpado a partir dos nomes da agenda. Em paralelo, o cadeirante está disputando um campeonato de xadrez.
A narrativa da investigação é entrecortada com as divagações de Alfredo no cativeiro. Seus sentidos dentro do quarto escuro, os sons que ouve no interior da casa, e uma reavaliação de sua vida e carreira. Até que ele encontra um jeito de escapar.
O final, como disse, é surpreendente – mesmo com algumas “derrapadas” que Rey cometeu durante a escrita. Diversas pistas falsas confundem até o leitor, e mesmo a agenda verde não é o que se imagina a princípio. Os protagonistas acabam descobrindo que o raptor estava perto deles o tempo inteiro. Por isso, não cometam o mesmo erro que cometi uma vez: resistam à tentação de dar uma espiada na última página do livro antes de lerem o romance inteiro.
Vocês já frequentaram a biblioteca de sua cidade ou de sua escola hoje? Então, usem a desculpa de procurarem O RAPTO DO GAROTO DE OURO nas prateleiras para fazerem uma visita. Tanto a edição da Ática quanto a da Global.
Na próxima postagem, dando prosseguimento à série, Um Cadáver Ouve Rádio, mais uma feliz parceria entre Rey e Leão.

PARA ENCERRAR:
Mais um cartum inédito, mais literário.
Usei os personagens de Alice no País das Maravilhas para retratar um causo ocorrido comigo: certa vez, recebi uma ligação de uma escola, e tenho certeza que o que eles estavam oferecendo era um curso de pós-graduação à distância – mas, dias depois, o que recebi foram duas caixas com livros didáticos e material de apoio para professores. Em suma, creio que comprei gato por lebre. Porém, andei refletindo sobre o sentido da expressão popular, e cheguei à conclusão: não haveria perda de sentido se a expressão tivesse os termos invertidos.
Imagine só: eu pretendia comprar um gato, e me empurram uma lebre. No sentido original, pessoas levavam um gato achando que é lebre – o destino da bichinha era a panela. E, para dar um sentido ao nonsense, quem melhor que botar para encenar a situação os personagens de Lewis Carroll, cujo nonsense desafia a lógica com a própria lógica? Assim, como se haveria de pensar, o erro na expressão não está errado. Entenderam?
Deixa pra lá.
Na próxima postagem, então, UM CADÁVER OUVE RÁDIO.

Até mais!

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