Olá.
Hoje,
continuamos a série de postagens sobre os livros de Marcos Rey, o saudoso
escritor paulistano e maior “estrela” da histórica Série Vaga-Lume, da Editora
Ática.
Hoje,
da série Léo e seus amigos, falaremos do segundo livro: O RAPTO DO GAROTO DE
OURO.
Devido ao grande sucesso alcançado pelo título anterior, O Mistério do Cinco Estrelas, lançado em 1981, Edmundo Donato, aliás Marcos Rey, resolveu escrever uma segunda aventura detetivesca para seus personagens Léo, o bellboy (mensageiro) do Emperor Park Hotel, sua quase-namorada “burguesa” Ângela e o primo Gino, gênio e cadeirante. Desse modo, veio à luz, em 1982 (portanto, no ano seguinte) O RAPTO DO GAROTO DE OURO.
Assim
como em O Mistério do Cinco Estrelas,
O RAPTO DO GAROTO DE OURO teve ilustrações do hoje também saudoso Jayme Leão,
falecido agora em março. Por volta de 2005, o romance ganhou uma nova edição
pela Global Editora assim como boa parte da obra juvenil de Marcos Rey – e essa
nova edição tem capa e ilustrações de Rogério Soud.
No
romance anterior, Leonardo Fantini, o Léo, passou por grandes apuros para
conseguir recuperar seu emprego, provar sua inocência e o envolvimento de um
figurão em um assassinato e com uma quadrilha de traficantes. E, desta vez, ele se envolve com um caso de
sequestro.
Frise-se
desde já: da tetralogia de Léo, este é o melhor título – supera O Mistério do Cinco Estrelas pela
estrutura narrativa. A investigação para se chegar ao culpado segue o método
Agatha Christie, com vários suspeitos e diversas evidências contra eles, e onde
cada detalhe conta na elucidação; e faz um interessante retrato de tipos humanos
presentes no Bairro da Bela Vista, o tradicional reduto dos descendentes de
italianos da cidade de São Paulo, terra natal de Marcos Rey. E o final é
surpreendente.
Bão.
O Garoto de Ouro do título é um cantor de rock, um jovem chamado Alfredo
Carlucci. Amigo e colega de escola de Léo, filho de um carpinteiro, ele
alcançara o estrelato após uma apresentação em um programa de televisão, e,
desde então, vive a carreira típica desse ofício: shows, gravações... O
responsável por levar o Garoto de Ouro ao estrelato foi um amigo da família, o
ex-ator de rádio Jaime Barone, que vive agora como corretor imobiliário. Jaime
é um dos personagens mais importantes da trama.
No
início da história, Alfredo está em casa, se preparando para uma apresentação
especial: é seu aniversário, a ser comemorado em uma cantina da Bela Vista, com
a presença de amigos e parentes. Porém, a casa é invadida por uma figura
encapuzada que domina Alfredo e o rapta – apesar de o garoto ter conseguido se
defender, acertando a cabeça do raptor com a guitarra. Alfredo acaba
aprisionado em uma casa abandonada, com comida suficiente para três dias.
Enquanto
isso, toda a família de Alfredo espera a chegada do Garoto de Ouro. Estranhando a demora, Léo e Ângela resolvem ir
à casa dele para ver o que aconteceu. Léo, entrando na casa pela janela
destrancada, é o primeiro a descobrir que o amigo foi raptado. E aí, cria-se a
comoção.
Entretanto,
Léo, no local do crime, encontra um elemento que torna-se precioso para a
investigação: uma agenda verde, com nomes e endereços de gente da Bexiga. Léo,
Ângela, Gino e Jaime decidem entrevistar os nomes constantes na agenda para
encontrar pistas que levem ao paradeiro de Alfredo e de seu raptor. Quase todos
tem em comum o fato de não terem aparecido na cantina na hora da festa.
Enquanto
isso, o raptor já entra em contato com os pais de Alfredo, e, num bilhete
escrito a máquina de escrever com fita vermelha, exige dez milhões de cruzeiros
de resgate. Enquanto os detetives fazem as entrevistas, os pais de Alfredo, com
a ajuda do empresário do Garoto de Ouro, o argentino Lucas Lazzari, e de Jaime,
buscam levantar o dinheiro.
Léo
e Ângela entrevistam alguns dos nomes, Jaime entrevista outros. Os nomes
escolhidos por Léo e Ângela são: Madame Santa, uma veterana modista
especializada em vestidos de noiva; Heitor Salvattore, um campeão de
braço-de-ferro que vive de bicos; Ricardo Tozzi, o comilão, um glutão que vive
de concursos de gastronomia; o dentista Sílvio Poiares; Zorba, um marinheiro,
que mora em um cortiço; e Oscar, um cego que mora perto da casa de Alfredo. Já
os nomes escolhidos por Jaime são: Marino Bataglia, que vive da venda de
cachorros de raça; Enrico, o salsicheiro; Laura Ferrucci, uma ex-miss Bexiga (a
única que estava na festa de Alfredo); e João Cabeçada, um ex-bandido
convertido à religião.
A
investigação toma rumos inesperados no decorrer da narrativa. Madame Santa faz
uma revelação sobre os pais de Alfredo que a compromete; Enrico leva uma
pancada na cabeça que quase o mata, e é hospitalizado; Laura tenta se suicidar
com remédios; Léo leva um grande susto e perde a cabeça na entrevista com
Zorba, que o agride; e Oscar, apesar de cego, praticamente “presenciou” o rapto
de Alfredo através dos sons.
Se,
no livro anterior, Ângela não teve muita voz ativa, neste livro ela se mostra uma
investigadora inteligente e que presta atenção a pequenos detalhes, como em uma
marca roxa na testa de Heitor e em detalhes presentes no quarto de Tozzi.
Enquanto isso, diante da quase-namorada, Léo se revela um investigador meio
confuso e impaciente, diferente de como ele agiu no livro anterior.
Cabe
a Gino conectar as peças conseguidas pelos amigos. E acertar onde eles erraram
– os “investigadores” chegam até a palpitar o provável culpado a partir dos
nomes da agenda. Em paralelo, o cadeirante está disputando um campeonato de
xadrez.
A
narrativa da investigação é entrecortada com as divagações de Alfredo no cativeiro.
Seus sentidos dentro do quarto escuro, os sons que ouve no interior da casa, e
uma reavaliação de sua vida e carreira. Até que ele encontra um jeito de
escapar.
O
final, como disse, é surpreendente – mesmo com algumas “derrapadas” que Rey
cometeu durante a escrita. Diversas pistas falsas confundem até o leitor, e
mesmo a agenda verde não é o que se imagina a princípio. Os protagonistas
acabam descobrindo que o raptor estava perto deles o tempo inteiro. Por isso,
não cometam o mesmo erro que cometi uma vez: resistam à tentação de dar uma
espiada na última página do livro antes de lerem o romance inteiro.
Vocês
já frequentaram a biblioteca de sua cidade ou de sua escola hoje? Então, usem a
desculpa de procurarem O RAPTO DO GAROTO DE OURO nas prateleiras para fazerem
uma visita. Tanto a edição da Ática quanto a da Global.
Na
próxima postagem, dando prosseguimento à série, Um Cadáver Ouve Rádio, mais uma feliz parceria entre Rey e Leão.
PARA
ENCERRAR:
Mais
um cartum inédito, mais literário.
Usei
os personagens de Alice no País das Maravilhas para retratar um causo ocorrido
comigo: certa vez, recebi uma ligação de uma escola, e tenho certeza que o que
eles estavam oferecendo era um curso de pós-graduação à distância – mas, dias
depois, o que recebi foram duas caixas com livros didáticos e material de apoio
para professores. Em suma, creio que comprei gato por lebre. Porém, andei
refletindo sobre o sentido da expressão popular, e cheguei à conclusão: não
haveria perda de sentido se a expressão tivesse os termos invertidos.
Imagine
só: eu pretendia comprar um gato, e me empurram uma lebre. No sentido original,
pessoas levavam um gato achando que é lebre – o destino da bichinha era a
panela. E, para dar um sentido ao nonsense, quem melhor que botar para encenar
a situação os personagens de Lewis Carroll, cujo nonsense desafia a lógica com
a própria lógica? Assim, como se haveria de pensar, o erro na expressão não
está errado. Entenderam?
Deixa
pra lá.
Na
próxima postagem, então, UM CADÁVER OUVE RÁDIO.
Até mais!
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