terça-feira, 25 de março de 2014

Livro: UM CADÁVER OUVE RÁDIO

Olá.
Hoje, continuamos a nossa série sobre os livros da tetralogia de Léo e seus amigos, do paulistano Marcos Rey.
Já falamos dos dois primeiros volumes, O Mistério do Cinco Estrelas e O Rapto do Garoto de Ouro. Agora, vamos falar do terceiro volume, UM CADÁVER OUVE RÁDIO.

Publicado em 1983, imediatamente aos outros dois volumes, UM CADÁVER OUVE RÁDIO é o segundo melhor da tetralogia, atrás apenas de O Rapto do Garoto de Ouro, publicado no ano anterior. A edição da Editora Ática, dentro da histórica série Vaga-Lume, tem capa e ilustrações de Jayme Leão, falecido este ano, em março.
Como os outros livros infanto-juvenis de Marcos Rey, UM CADÁVER OUVE RÁDIO também ganhou edição, no início do século XXI, pela Global Editora, com capa e ilustrações de Dave Santana.
Mais um mistério, cheio de pistas que mais confundem que explicam, suspeitos inesperados e uma solução surpreendente marcam esta nova investigação de Leonardo Fantini, o Léo, o bellboy do Emperor Park Hotel, sua esperta quase-namorada Ângela e seu primo gênio e cadeirante Gino. E o amigo mais velho de Léo, Guima, volta a ter um papel importante na coleção, depois de praticamente “sumir” no livro anterior. Desta vez, eles penetram no universo dos imigrantes nordestinos na cidade de São Paulo (o destino mais comum dos retirantes e flagelados pelas secas); e o caso é de assassinato.
A história começa na delegacia de polícia, quando o nervoso e desempregado Muriçoca está sendo interrogado pelo delegado Arruda, por conta de um corpo encontrado em uma obra abandonada, com o rádio ligado, tocando um ritmo nordestino. Pouco depois, Léo é chamado, do hotel, para reconhecer o corpo, de um tal Alexandre da Silva. A princípio, Léo não parece saber de quem se trata: só depois de ver o corpo, reconhece: no bairro da Bela Vista, todos conheciam Alexandre como Boa-Vida, um nordestino simpático, ótimo sanfoneiro, que vivia de bicos, tinha um espírito livre – não parava em emprego algum por muito tempo – e sonhava ganhar o primeiro prêmio da loteria esportiva para viajar pelo mundo.
A notícia deixa todos os conhecidos do nordestino consternados – inclusive Tia Zula, mãe de Gino. É diante da tristeza de Tia Zula que Léo e Gino resolvem descobrir quem matou Boa-Vida. E, para ajudar, Léo chama Ângela, que também conhecia o nordestino.
Uma porção de evidências, que a princípio não possuem muita ligação entre si, aparece no caso. O primeiro de todos eles Léo nota ainda na cena do crime: a sanfona de estimação de Boa-Vida, com suas iniciais marcadas a canivete, fora roubada. A segunda, que vai se tornar importante na segunda parte da trama, é um bilhete de loteria não conferido. A arma do crime aparece pouco depois: um sabre chinês. Durante o enterro da vítima, aparece uma personagem que os pessoal nem conhecia: a ex-mulher de Boa-Vida, Elvira, dona de uma loja de pássaros no bairro da Liberdade. As revelações que ela faz sobre a vida pregressa de Boa-Vida, inclusive quando Léo e Ângela vão interroga-la na loja, deixam os investigadores com um ponto de interrogação.
Mas não demora, os investigadores já levantam um suspeito: João Valentão, ex-amigo e ex-sócio de Boa-Vida, com fama de encrenqueiro. Léo, Ângela, Gino e o amigo Guima decidem focar suas suspeitas em João, pois pode ter sido ele o autor do roubo da sanfona e quiçá do assassinato. Léo e Guima vão procura-lo inicialmente numa casa de forró, onde João colaborava como sanfoneiro. Depois, os dois vão a um bar-restaurante típico nordestino, onde João estava dormindo. Entretanto, no primeiro encontro entre Léo e João Valentão, o garoto se dá mal: entrando meio de intrometido no quarto do nordestino, Léo acha a sanfona, mas apanha do violento João Valentão – e a situação só não fica pior porque Guima salva o garoto.
Pouco depois, um novo personagem aparece para incrementar o caso: um primo distante de Boa-Vida, Sandoval de Souza, um elegante vendedor ambulante, e que supostamente guarda remorsos porque poderia ter salvado a vida de Alexandre. Sandoval chega a oferecer uma recompensa para quem der informações sobre o paradeiro do assassino de Boa-Vida.
A perseguição de Léo a João Valentão continua (o nordestino, visado pela polícia, passa a se esconder, e uma amante sua confunde a polícia dando pistas falsas de seu paradeiro). Um novo plano para localizar o paradeiro de João, traçado por Léo, tem a colaboração de Ângela, que se infiltra disfarçada de entrevistadora para descobrir, com a amante de João, seu paradeiro (um dos trechos de maior tensão); a perseguição chega a um circo onde o nordestino colabora como sanfoneiro, mas João consegue escapar novamente. Porém, Elvira e Muriçoca acabam envolvidos na teia de intrigas, ao receberem telefonemas ameaçadores. Muriçoca, com medo de morrer, chega a se abrigar na casa de Tia Zula, a oferecimento dela. As pistas obtidas até agora revelam ligações comprometedoras entre os personagens secundários, como supostos negócios “paralelos” de Elvira com um tal Sr. Slang, um contrabandista. E a tensão aumenta quando Elvira é assassinada.
No fim, o caso tem uma inesperada reviravolta: o assassino não é quem todos a princípio pensavam que fosse, mas o personagem menos suspeito, e o detalhe menos importante do caso acaba sendo a chave para a solução do mistério. Mais uma vez, é Gino quem acerta onde todos erram. Surpreendente é o mínimo que se pode dizer de UM CADÁVER OUVE RÁDIO.
E ainda serve como o retrato de uma época passada. Nos anos 80, a influência dos imigrantes nordestinos em São Paulo ainda não era muito forte, tornando esse universo meio exótico aos personagens e ao leitor. E é um dos melhores livros de detetive de Marcos Rey. Um dos melhores: na minha opinião, o melhor de todos os livros policiais de Marcos Rey é Enigma na Televisão, fora da série Léo e Seus Amigos. Deste falaremos em outra ocasião.
Na parte das ilustrações, Jayme Leão utiliza novamente o nanquim para compor as cenas. E ainda faz um teste de um novo penteado para Ângela.
Porém, Rey só escreveria uma nova aventura para Léo, Ângela e Gino quase nove anos depois. E é desse romance que falaremos na próxima postagem, Um Rosto no Computador.
Para encerrar, bem, sei que seria cedo para tal, mas vou colocar para vocês uma ilustração: minha interpretação pessoal do trio Léo, Gino e Ângela, baseado nos desenhos de Jayme Leão. Mesmo assim, sinto que errei em algo. Sinto, sim.
Na próxima postagem, já sabem: UM ROSTO NO COMPUTADOR.
Até mais!

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