quinta-feira, 27 de março de 2014

Livro: UM ROSTO NO COMPUTADOR

Olá.
Hoje, encerrando a série de postagens sobre a Série Léo e seus amigos, do paulistano Marcos Rey, pela série Vaga-Lume da Editora Ática, trazemos hoje o último livro, UM ROSTO NO COMPUTADOR.
Vamos relembrar: em 1981, Edmundo Donato, aliás Marcos Rey, lançou o primeiro livro da série, O Mistério do Cinco Estrelas, que se tornou seu best-seller – até hoje, foram mais de dois milhões de exemplares vendidos – e apresentou aos leitores o bellboy (mensageiro) do Emperor Park Hotel, Leonardo Fantini (Léo), que nas horas vagas resolvia mistérios, junto à esperta quase-namorada Ângela e ao primo gênio e cadeirante Gino. No primeiro livro, Léo precisa provar sua inocência e o envolvimento de um figurão, que contribuiu para sua desgraça, em um esquema criminoso. No segundo volume, O Rapto do Garoto de Ouro (1982), Léo, Ângela e Gino precisam descobrir a identidade do raptor de um amigo famoso deles. E no terceiro, Um Cadáver Ouve Rádio (1983), os três percorrem o universo dos imigrantes nordestinos da cidade de São Paulo – cenário de todas as histórias da série – para descobrir quem matou um amigo comum deles.

Bão. Essas histórias foram possíveis graças às cartas, telegramas e telefonemas de leitores (nos anos 80, ainda não se ouvia falar em e-mail) pedindo novas aventuras do trio. Porém, depois de Um Cadáver Ouve Rádio, os fãs do trio de detetives amadores teriam de esperar cerca de nove anos para vê-los em ação novamente. Enquanto isso, Rey entregava aos leitores uma porção de ideias novas na forma de romances, como Sozinha no Mundo, Dinheiro do Céu, Enigma na Televisão e Bem-Vindos ao Rio, quase todos com as mesmas características da até então trilogia de Léo e amigos: suspense, mistério a resolver, tensão do início ao fim.
Foi em 1992 que Rey anunciou uma história “capaz de figurar ao lado das três já publicadas”. E deu aos leitores UM ROSTO NO COMPUTADOR. E mais ainda: como os livros anteriores, este também tem ilustrações do saudoso ilustrador Jayme Leão, falecido em março deste ano.
Rey prometia uma aventura que pudesse superar as três anteriores. Mas, infelizmente, depois de nove anos, ele entrega a aventura mais fraquinha da tetralogia. A começar pelo título, que pouco tem a ver com o enredo: o computador do título é simplesmente um aparelho comprado por Gino no início da trama, e que ele apelida de Mr. Richard. Esse elemento tem pouca ligação com a trama principal.
A trama principal é o rapto de uma modelo novata. Mas o que torna esse livro diferenciado dos demais é que essa trama se inicia na segunda metade do livro. Já explico.
O livro começa quando a jovem Camélia, uma moça bela e ingênua de Salvador, Bahia, que sonha em ser modelo, embarca clandestinamente em um avião para São Paulo, para encontrar o agenciador Professor Bandeira. Esse homem, de passado obscuro, havia recebido uma foto da moça pelo correio, e, junto com sua assistente Mara, vê nela uma grande oportunidade de impulsionar sua agência de modelos, a Persona, e superar seu grande rival, Jorge Aragão. Camélia, que mora com tios em Salvador, vai a São Paulo sem avisar ninguém e sem passagem de avião, mas consegue embarcar misturada aos outros passageiros.
Léo, enquanto isso, está bem de vida depois dos mistérios que resolveu: foi nomeado chefe dos bellboys no Emperor Park Hotel, e por isso agora usa terno e gravata; assumiu, afinal, o namoro com Ângela; e é reconhecido nas ruas. Gino, por sua vez, está contente com a aquisição do computador – mas a máquina só tem um propósito dentro do livro: Gino tenta, até o fim da trama, ganhar uma partida de xadrez da inteligente máquina (lembremos: em 1992, computadores pessoais – PCs – ainda eram raros, caros e o sistema operacional Windows, da Microsoft, ainda não havia sido popularizado, assim como a internet, que mal chegara às universidades para depois irem para as casas. Logo, os computadores não tinham a enorme serventia que hoje tem, e a inteligência artificial ainda era motivo de fascínio e de medo). Mas ambos estão saudosos dos casos que resolveram.
Pouco depois é que conhecemos o vilão da trama, que nos é apresentado desde o início: um jovem ricaço e psicótico, com mania de colecionar fotografias de moças bonitas. Ele não tem seu nome revelado, e só depois de alguns capítulos é chamado de Jota, sua primeira inicial. Seus pais, cientes de seus males da mente, vão viajar para a Europa; enquanto isso, Jota resolve, para se descontrair, se hospedar no Emperor Park Hotel, sozinho.
O hotel está, naquele instante, em polvorosa: um badalado concurso de beleza, o Garota da Capa, vai ser realizado lá. Cinquenta mil dólares e um contrato internacional para a vencedora. Naturalmente que o Professor Bandeira inscreve Camélia, que consegue chegar a São Paulo sem problemas, no concurso. Mas antes, trata de fazer algumas mudanças na moça: falsifica documentos – Camélia é menor de dezoito anos – para possibilitar que elas concorra ao concurso, e muda-lhe o nome para Lia Magno. E treina-a exaustivamente para fazer bonito na passarela.
Léo, evidentemente, se envolve pesadamente nos preparativos do concurso. Chega até a posar ao lado das modelos que vão concorrer – e essa exposição, na tevê, chega a deixar Ângela com ciúmes, principalmente quando Léo aparece ao lado da estonteante Camélia / Lia Magno.
Mas as coisas começam a complicar: o tio de Camélia, o ranzinza Epaminondas, contrário à ideia da sobrinha se tornar modelo, vai à São Paulo de carona e causa um tumulto no hotel, disposto a tirar Camélia dali. O professor Bandeira precisa negociar com o homem para deixa-la participar do concurso. Enquanto isso, Camélia / Lia Magno começa a receber flores – camélias – de um admirador: Jota, que se hospedou na suíte 222 – a mesma onde antes morava o Barão Oto Barcelos, o vilão de O Mistério do Cinco Estrelas. Obsessivo por garotas bonitas, Jota chega a reservar uma mesa perto da passarela, e ouve, por acaso, Camélia, em um descuido, falar o verdadeiro nome.
No dia do concurso, naturalmente, Camélia / Lia Magno vence. Mas, no dia seguinte, durante um tumulto quando vai passear na cidade, acaba, sem saber, raptada por Jota. O desaparecimento da nova modelo cria uma comoção enorme – o Professor Bandeira arma um escândalo, e chega a cogitar que foi o rival Jorge Aragão quem raptou a moça. É aí que Léo, Gino e Ângela resolvem se envolver para resolver o caso.
O jovem psicótico aprisiona Camélia em um quarto de sua mansão. A moça, desesperada, é obrigada a assistir um filme com uma situação similar à sua, e percebe que está correndo perigo. Jota acaba tomando um susto quando, numa coletiva de imprensa, o Professor Bandeira, querendo acusar o rival, revela a primeira letra do provável raptor – e resolve eliminá-lo, atropelando-o de carro. Enquanto isso, Léo e Ângela buscam pistas que levem à identidade do raptor. E as únicas pistas possíveis são os buquês de Camélias – por isso, o casal percorre as floriculturas da cidade – e um cartão-postal vindo da França. Vão ser lances de pura emoção até que o trio de detetives consiga descobrir o endereço de Jota e tentar resgatar Camélia.
A trama, como eu disse, é a mais fraquinha dos quatro livros da série. Ela poderia passar sem a dispendiosa subtrama do computador de Gino, cenas feitas exclusivamente para encher linguiça. Fora isso, dividir a trama em duas partes e começar a parte emocionante na metade da trama pareceu um ótimo recurso. O leitor sabe a identidade do vilão desde o início – bem diferente de O Rapto do Garoto de Ouro e Um Cadáver Ouve Rádio, mas parecido com O Mistério do Cinco Estrelas.
Talvez, pelos defeitos, UM ROSTO NO COMPUTADOR foi o único dos livros juvenis de Marcos Rey que não ganhou reedição pela Global Editora. É sério, até o momento que escrevo, o livro não consta no catálogo on-line da editora (www.globaleditora.com.br/catalogo-geral/juvenil/?colecao=51). Assim, os leitores terão de procurar a edição da Ática mesmo, nas bibliotecas e sebos.
De todo modo, Marcos Rey e Jayme Leão deixaram-nos um precioso legado, que as novas gerações não podem perder. Essa série precisa estar em todas as bibliotecas brasileiras. Todos os quatro livros. Já é um bom motivo para vocês enfrentarem suas restrições à poeira e ao bolor e visitarem as bibliotecas de sua cidade.
Agora, resta aguardar a chegada da adaptação cinematográfica de O Mistério do Cinco Estrelas, pela produtora RT Filmes, que, segundo informações colhidas na internet, é pra estrear em meados de julho de 2014. Ah: o mesmo estúdio, segundo outras informações da internet, produziu, ao mesmo tempo, a adaptação de Um Cadáver Ouve Rádio. Veremos se isso tudo é verdade.
Em breve, comentaremos aqui no blog outros livros da Série Vaga-Lume e de Marcos Rey, é lógico.
Para encerrar: como não tive tempo de preparar um cartum ou ilustração especial, vou lançar mão, mesmo de uma sequência do meu personagem gauchesco, o Teixeirão. Esta é a primeira parte de um dos arcos mais recentes de tiras do meu gauchão, publicados no blog próprio dele (http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/), mas inédita aqui no Estúdio Rafelipe. Desde que eu parei de publicar as tiras do Teixeirão semanalmente, ele tem aparecido pouco aqui no blog.
Em breve, a segunda parte do arco será publicada aqui. Por hora, acompanhem o gauchão no blog próprio dele.
E não percam, em breve, uma programação especial em “comemoração” aos 50 anos do Golpe Militar de 1964. Não que seja motivo de “comemoração”, mas o Estúdio Rafelipe não vai deixar isso passar em brancas nuvens. Aguardem.

Até mais!

Nenhum comentário: