Olá.
Hoje,
vamos falar de livro. E de quadrinhos, também. De mais um livro teórico sobre
quadrinhos.
Aos
interessados sobre obras teóricas sobre histórias em quadrinhos e sua história,
mais uma obra teórica útil – digamos assim – chegou às bancas.
120 ANOS DE HISTÓRIA – ALMANAQUE DOS QUADRINHOS é o mais novo livro do incansável roteirista, cartunista, estudioso, editor, fundador de editoras e entusiasta do mundo das HQ, Franco de Rosa. Desde os anos 60, Franco de Rosa acumulou contribuições para as HQ brasileiras: roteirizou gibis e tiras de quadrinhos, como Capitão Caatinga, Praça Atrapalhado, Maciota e Chucrutz; apadrinhou artistas com os quais trabalhou muito, como Sebastião Seabra, Arthur Garcia, Rodolfo Zalla e Paulo Paiva; foi o co-fundador das editoras Press, Mythos, Opera Graphica e Kalaco; e colocou nas bancas álbuns e gibis, como Chico Xavier em Quadrinhos, Didi e Lili Geração Mangá... Enfim, o currículo do cara é extenso, entre contribuições importantes e controversas.
E agora,
está de volta com mais um livro teórico organizado por ele, tempos depois de As Taradinhas dos Quadrinhos e Hentai – A Sedução do Mangá, ambos
lançados pela Opera Graphica.
120
ANOS DE HISTÓRIA – ALMANAQUE DOS QUADRINHOS foi publicado pela Discovery
Publicações – a mesma de 300 Imagens –Mangá do Começo ao Fim, de Sérgio Peixoto. Reunindo textos de Franco de
Rosa e amigos sobre o mundo dos quadrinhos em geral, e com muitas ilustrações,
lógico.
Das
iniciativas de Franco de Rosa, podemos classificar esta entre as controversas.
O livro reúne muitas informações sobre o mundo das HQ, desde o final do século
XIX até hoje, mas de uma forma um tanto desorganizada. Bem, vamos por partes.
Os
“120 anos” se referem, provavelmente, ao surgimento da primeira história em
quadrinhos como conhecemos, o Yellow Kid
de Richard Outcault, que apareceu nos Estados Unidos em 1895. Portanto, as
Histórias em Quadrinhos completarão 120 anos em 2015. Embora muitas narrativas
sequenciais já tenham aparecido antes de 1895, como as do alemão Wilhelm Busch
(Max und Moritz) e do
ítalo-brasileiro Ângelo Agostini (Nhô
Quim e Zé Caipora), o Yellow Kid continua sendo o marco aceito
pelos especialistas para uma história das Histórias em Quadrinhos, pois são nas
narrativas criadas por Outcault que aparecem os elementos que caracterizam as
HQ como hoje conhecemos: a narrativa figurada e sequenciada, e a presença de
balões de fala; e também pelo fato de ser uma das primeiras a sair em veículos
de comunicação de grande circulação – no caso, os suplementos dominicais dos
jornais norte-americanos, não mais como meras ilustrações acompanhando o texto,
mas o próprio texto em forma de narrativa figurada, entendem?
Bem.
Antes de falar por que o novo livro de Franco de Rosa é controverso, daremos
uma olhada nos dez capítulos que compõem o livro.
Após
a introdução do próprio Franco, o primeiro capítulo, escrito por ele, é Panorama do Desenho e da História em
Quadrinhos no Brasil, um resumo “básico” não apenas da História dos
Quadrinhos no Brasil e das formas como estes vieram a ser publicados, mas
também das ilustrações de revistas e periódicos, de onde saíram alguns dos
nomes mais lembrados das HQ brasileiras, além das iniciativas antigas e
modernas para a HQ brasileira conseguir um lugar entre os comics e mangás.
O
segundo capítulo também é de Franco: Super-Times,
um pequeno apanhado sobre as mais conhecidas equipes de super-heróis das HQ: a Sociedade da Justiça, a Liga da Justiça, os Novos Titãs e a Legião dos
Super-Heróis pela DC Comics, os Vingadores
e os X-Men pela Marvel. Sabiam que,
assim como muitos estudiosos das HQ hoje subestimam os mangás japoneses, os
estudiosos brasileiros e europeus dos anos 60 e 70 subestimaram o hoje
milionário gênero super-heroístico por considera-lo “menor” em relação aos
outros gêneros de HQ?
O
terceiro capítulo, O Maior Criador de
Histórias em Quadrinhos do Mundo, é dedicado a fazer um resumo da carreira
de Maurício de Sousa, o criador da Mônica e de uma das maiores populações de
personagens do mundo – praticamente ultrapassa Walt Disney. Desde a criação do
Bidu até resolver transformar seus personagens em adolescentes. E com trechos
de afirmações do próprio Maurício em entrevistas.
No
quarto capítulo, O Universo Narrativo de
Maurício de Sousa, Franco de Rosa discute os referenciais quadrinhísticos
de sua obra, desde os quadrinhos favoritos dele, como Ferdinando e Brucutu,
como as principais referências presentes em seu desenho, como os quadrinhos da
Harvey Comics (Gasparzinho e Brasinha) e os desenhos da
Hanna-Brarbera.
O
quinto capítulo, O Século dos Quadrinhos
– Década a Década, foi escrito por Nobu. Esse autor relata, década a
década, a evolução da arte sequencial da década de 1890 até hoje. Desde as
primeiras narrativas sequenciais, passando pela “era de ouro” dos anos 30, a
ascensão das HQ de aventura, de super-heróis, a crise dos anos 50, a
recuperação nos anos 60, incluindo o surgimento das HQ underground, a ascensão
dos mangás a partir da década de 80, a forcinha dada pelo cinema nos anos 2000.
Citando inclusive fatos do Brasil.
O
sexto capítulo, Os Maiores Super-Heróis
do Mundo, de Edson Negromonte, é dedicado à “dupla de ouro” do gênero
super-heroístico, Superman e Batman, com um breve apanhado histórico
de cada um deles.
O
sétimo capítulo, Frank Miller – O Renovador
do Mundo dos Super-Heróis, de Franco de Rosa, é dedicado a analisar a obra
e as contribuições do roteirista e desenhista estadunidense, que balançou as
estruturas das HQ nos anos 80. Além de ter deixado obras memoráveis como Batman – O Cavaleiro das Trevas, Ronin, Sin
City, 300 e toda a sua fase no gibi do Demolidor,
sabiam que Miller foi o “padrinho” da entrada dos mangás japoneses na América?
Pois foi ele quem praticamente patrocinou, nos anos 80, a entrada de Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Gozeki Kojima,
nos Estados Unidos – foi daí que os mangás japoneses tomaram o Ocidente de
assalto!
O
oitavo capítulo, Afirmação do Quadrinho
de Terror Entre Nós, de Fábio Santoro, traz um apanhado histórico sobre o
quadrinho de terror, desde que ele foi proibido nos EUA até meados da década de
80, quando o gênero possibilitou, no Brasil, a montagem de uma indústria de HQ.
Poucas vezes o Brasil teve uma indústria decente de HQ – e, quando teve, o
gênero mais procurado foi o das HQ de terror. Uma influência do misticismo
presente na cultura popular brasileira? Em parte.
O
nono capítulo, Underground Comix, de
Franco de Rosa, discute o gênero que, avesso às imposições das grandes editoras
norte-americanas, deu uma mexida das boas na História dos Quadrinhos, com seus
autores e histórias movidos a sexo, drogas e vontade de jogar tudo o que a
sociedade “careta” acha correto pro ar. Desde o surgimento da Zap Comix, passando pela revista MAD e pela Help, ambas criadas por Harvey Kurtzmann.
E o
último capítulo também foi escrito por Franco: Conan, o Campeão dos Gibis para Adultos. Uma história resumida da
trajetória do célebre personagem de Robert E. Howard, levado aos quadrinhos
pela Marvel Comics nos anos 70, e que consagrou muitos artistas, inclusive das
Filipinas, que traduziram em traços o barbarismo da era hiboriana.
Agora,
por que este livro faz parte das obras controversas de Franco de Rosa? Talvez
pelo fato de os resumos históricos terem ficado muito básicos, com pouca
novidade em relação ao que a gente já sabe sobre as HQ e os temas apresentados
– para as novas gerações, dá pro gasto. Talvez por causa dos muitos deslizes na
ortografia e da edição de texto, demonstrando pouco cuidado da editora na hora
de revisar os textos – ou seria do próprio Franco, que cometeu erros parecidos
nas publicações da Opera Graphica e da Escala? Talvez pela escolha dos temas
abordados – certo, o mundo das HQ é vasto, mas qual foram os critérios de
Franco de Rosa e equipe na escolha dos temas abordados? Digo, por que um
capítulo inteiro sobre o Conan? Por que não teve um capítulo mais amplo sobre
as HQ argentinas, por exemplo? Por que não um capítulo dedicado ao inglês Alan
Moore, que também renovou as HQ nos anos 80? Ou então, um capítulo dedicado a
Will Eisner? Ou um dedicado a Ziraldo Alves Pinto? E cadê os trechos dedicados
ao Popeye e ao Calvin, conforme deixa transparecer na capa? Mônica, Batman e
Elektra até que foram bem citados (esta última, no capítulo sobre Frank
Miller). E por que menosprezar ainda mais os mangás japoneses? E os outros
artistas brasileiros, não tem relevância?
Ainda
assim, é um livro útil para pesquisas na área das HQ. Pode não ser o mais
completo (e, modestamente, nem se anuncia como um “guia definitivo”), mas as
intenções de Franco de Rosa e equipe são louváveis. Bem que o relatório podia
ser mais extenso um pouquinho – 96 páginas foi tão pouco?
Quem
quiser conferir, o livro está nas bancas a R$ 24,90. Não dá pra deixar passar
um negócio tão interessante...
Para
encerrar, como hoje, 15 de abril, é o Dia do Desenhista, resolvi deixar com
vocês inspirações para os futuros artistas: frases “motivacionais” de autores
de HQ, que eu colhi por aí e selecionei. E tendo os próprios personagens deles
– ou algo parecido – como porta-vozes.
Até
mais!
Um comentário:
pena que este almanaque destacou poucos os mangás
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