Olá.
Hoje,
iremos continuar a falar dos álbuns de Luluzinha lançados pela Pixel Media,
selo do grupo Ediouro. Em “celebração” ao encerramento da publicação dos gibis
regulares da personagem de Marjorie “Marge” H. Buell, ocorrido em abril de
2015.
O
álbum escolhido é o segundo da coleção: MENINOS X MENINAS. Também trazendo
histórias dos anos 1940 e 1950 – como a capa diz.
LULUZINHA
– MENINOS X MENINAS tem 128 páginas, impresso em papel couché colorido, lombada
quadrada, e traz, no bojo, histórias que saíram nos gibis de linha da editora
estadunidense Dell Comics a partir de 1945 – a Four Color, onde as histórias longas de Luluzinha saíram pela
primeira vez (lembramos que Luluzinha apareceu anteriormente na forma de
cartuns no jornal Saturday Evening Post, em
1935); a Little Lulu, o título
próprio da personagem; e a Tubby, o
título próprio do Bolinha, derivado destes dois primeiros. Todas as histórias
com roteiro e desenhos de John Stanley, com assistência de Irv Tripp.
Os
álbuns posteriores a Luluzinha –
Primeiras Histórias são praticamente temáticos – as histórias são
selecionadas por temas comuns. Neste caso, está explícito do título: o tema é a
rivalidade infantil entre sexos opostos. Nos anos do pós-Segunda Guerra Mundial
(1939 – 1945), começaram a proliferar, em cidades dos EUA, muitos “clubinhos”
formados por crianças. Você já deve ter visto esse tema em vários quadrinhos,
livros, filmes e desenhos animados: em um tempo em que os pais permitiam que
crianças brincassem com ferramentas, como martelos e serrotes, grupos de
meninos construíam, com tábuas de madeira de caixas ou restos de construções,
barracas toscas ou casinhas nas árvores, e montavam suas “associações”. Alguém
aí lembrou, por exemplo, do filme Os
Batutinhas? Se lembrou, sabem do que falo.
Bem.
Era um tempo em que meninos e meninas tinham suas brincadeiras definidas:
meninos jogavam bola, carrinho e praticavam esportes agressivos como beisebol e
futebol americano; meninas, brincavam de boneca, casinha... ou pelo menos,
tinham de brincar com isso, porque diziam que era disso que tinham de brincar.
Não ficava bem a uma menina bem-comportada jogar futebol com os meninos. Quando
o modelo de menina ideal ainda era a estrelinha de cinema Shirley Temple, de
vestido largo e cabelos cacheados, tipo “boneca viva”, era um escândalo meninas
usando calções, cabelo preso em rabo-de-cavalo e com uma bola debaixo do braço.
Muitos
negam, mas sim, Luluzinha é a precursora do feminismo nos quadrinhos, e Marge é
a matriarca das quadrinhistas mulheres. Isso porque as melhores histórias de
Luluzinha giram em torno do conflito entre meninos e meninas. Luluzinha é uma
representante da reação ao status-quo dos sexos na época: insistentemente, ela
tenta entrar no clubinho formado por Bolinha e seus amigos. Até hoje, a
expressão “clube do Bolinha” é sinônimo de associações exclusivamente
masculinas. Embora eles tenham estabelecido, por lei, que “menina não entra”,
ela insiste – e dá mostras de que é muito mais inteligente que os meninos
ocupados em duvidosos testes de masculinidade.
Bolinha,
por sua vez, é o símbolo do machismo de sua época: sempre subestimando a
inteligência de Lulu e suas amigas por serem... meninas, “sexo frágil”. Até ser
passado para trás por Lulu, muitas vezes por vingança – no geral, é Bolinha
quem começa passando Lulu para trás, até que a menina dá a volta por cima,
muitas vezes de forma até covarde.
Hoje,
todos esses conceitos caíram por terra – menina jogando bola se tornou
aceitável, e meninos brincando de boneca (alguns dirão: bonecas não, action figures) nem é mais uma prática
condenável. Em termos de sexualidade, avançamos bastante. Embora com
controvérsias.
LULUZINHA
– MENINOS X MENINAS oferece, além dos embates entre sexos, como se deu a
evolução do Clube do Bolinha e de seus membros. De casinhas na árvore até o
conhecido barracão de madeira, de cinco ou mais membros praticamente parecidos
entre si até os conhecidos quatro membros, Bolinha, Juca, Carequinha e Zeca. De
como Lulu agia sozinha para se associar ao clubinho até ela ser “assessorada”
pela sua amiguinha Aninha. E até mesmo com a participação especial da esnobe
Glorinha, a única menina capaz de amolecer o coração duro dos “machõezinhos”.
As
histórias, dispostas quase todas em ordem de publicação original – com quebra
de sequência a partir da segunda metade do álbum. Todas com data de publicação
original.
A
primeira a apresentar os conceitos do “Clube do Bolinha” foi O Clube da Lulu, da revista Four Color 115, agosto de 1946. Nessa
primeira história, o clube é numa casinha de árvore, os membros eram cerca de
seis e sua principal atividade é treino de paraquedas com guarda-chuvas. Depois
de uma breve confusão, quando, numa tentativa de entrar, Lulu rouba o calção de
Bolinha, a menina decide fundar sua própria associação. Ao chegar aos ouvidos
dos meninos tal notícia, estes resolvem mandar um espião a esse clube: Bolinha,
disfarçado de menina – e contra sua vontade! Depois de passar por alguma
humilhação imposta por Lulu – que obviamente sabe que é Bolinha disfarçado – o
gordinho vê que a associação feminina não é tão ruim assim. Como o número de
páginas certamente foi limitado pela editora, a história tem algumas falhas no
roteiro, mas lançou as bases das futuras aventuras. E o traço de John Stanley
ainda é de iniciante.
Da
revista Little Lulu 5,
setembro-outubro de 1948, sai A Corrida.
Aqui, o clube já é o barracão de madeira no chão, mas sem a inscrição “Menina
Não Entra”, ainda. Nesta história, os meninos roubam as rodas do carrinho de
bebê de Lulu para fazer um carrinho de lomba; e, para que Lulu não denuncie a
trapaça, faz uma “chantagem” aos meninos...
De Little Lulu 7, janeiro de 1949, sai A Guerra das Bolas de Neve, retrato de
uma das atividades favoritas de meninos no inverno estadunidense: amolar
meninas, jogando bolas de neve nelas. Claro que Lulu, depois de levar sua dose
de bolaços de flocos de água congelada, não vai deixar barato: reúne suas
amigas e daí por diante é guerra. E vocês já podem supor quem vence...
De Little Lulu 9, março de 1949, sai Uma Ideia Infeliz. Os membros do
clubinho são cinco, mas já com as características dos atuais membros, e a
inscrição “Menina Não Entra” já aparece. Na história, os meninos, ao verem que
o terreno de seu clubinho vai ser usado em uma obra, decidem muda-lo de lugar.
Escolhem o local da mudança: o quintal da Lulu. Claro que, para tanto, decidem torna-la
membro do clube – e com poderes de presidente. Mas, quando Lulu descobre o
logro – ela não foi avisada da mudança – a menina resolve revidar à altura...
vendendo a madeira do barracão ao seu pai!
De Little Lulu 11, maio de 1949, sai Precisa-se de Empregada. Os meninos
resolvem ser estranhamente benevolentes: decidem deixar Lulu entrar para o
clubinho, mas antes submetendo-a a uma série de testes de iniciação
humilhantes. O que fará ela ao descobrir as reais intenções dos meninos?
De Little Lulu 12, junho de 1949, Os Lobos do Mar é a história seguinte.
Os meninos resolvem fazer uma elaborada construção: um barco pirata. E o pior:
logram de novo Lulu, com a promessa de participar da brincadeira se trouxer a
comida para o piquenique. Sua vingança será uma verdadeira humilhação aos
“machõezinhos”.
Estranhamente,
de Little Lulu 5, setembro-outubro de
1948 (não deveria ter sido publicada mais atrás, junto de A Corrida?), sai Sonho
Galopante. Depois de ser menosprezada pelos meninos, Lulu decide
pregar-lhes uma peça em uma casa tida como assombrada. Mas aí, no auge da
brincadeira, Lulu bate a cabeça na parede e encontra um cavalinho-balanço
voador. E, com ele, sai em aventuras... sonho ou realidade?
De Little Lulu 8, fevereiro de 1949, sai A Bela Lulu. Após ouvir um comentário
maldoso dos meninos sobre sua suposta feiura, Lulu se entristece, e sua mãe
decide dar uma ajudinha: dá-lhes um visual diferente, que faz os meninos caírem
a seus pés. Uma rara oportunidade de ver Luluzinha com outro penteado além de
seu complicado penteado vitoriano (mas, qual seja a circunstância, que menina
hoje em dia usa os penteados mostrados na historinha?).
A Dona do Apito (Little Lulu 14, agosto de 1949) traz um
protótipo do conflito entre o Clube do Bolinha e a Turma da Zona Norte, os
bullyers da série. Após outra tentativa frustrada de entrar para o clube, Lulu
descobre, depois, que o barracão foi tomado por dois meninos mal-encarados –
que nem se incomodam em bater em menina. E, ao saber que nem os próprios
meninos puderam fazer algo a respeito, ela resolve agir... com o uso de um
apito e de coincidências que induzem os inimigos a acreditar que ela seja filha
de policial. Tudo isso... pra nada! Ao menos, do que ela realmente queria.
As
historinhas de Luluzinha já chegaram a insinuar uma atração amorosa entre Lulu
e Bolinha, apesar das rixas constantes – tal atração foi explorada no gibi Luluzinha Teen, a versão adolescente da
personagem lançada pela Pixel. Essa “atração” é explorada na história seguinte,
O Novo Amor da Lulu (Little Lulu 2, março-abril de 1949).
Bolinha fica enciumado ao ver que Lulu mandou uma cartinha para um admirador
secreto, sem lhe dar satisfações, e resolve também fazer ciúmes, com a
“ajudinha” de Glorinha. Mas é traído... e só depois acaba vendo que tudo pelo
que passou não passou de um engano.
O Concurso de Beleza (Little Lulu 16, outubro de 1949) já
havia saído anteriormente na coleção. A louca ideia tida por Lulu para impedir
que Glorinha vença um concurso de beleza promovido pelo clube dos meninos já
saiu no gibi Luluzinha #5, da Pixel –
aqui, é republicada com novas cores e legendas. E uma das duas únicas histórias
da coleção onde a ingênua Aninha aparece.
A Boneca de Neve (Little Lulu 18, dezembro de 1949) traz
meninos e meninas novamente em dias de inverno nos EUA, onde é mais propício
fazer bonecos de neve. A disputa entre meninos e meninas para montar um boneco
de neve e ganhar um concurso envolve trapaças e truques sujos, mas todos sabem
quem vencerá... Aqui, os quatro membros do clubinho – Bolinha, Juca, Carequinha
e Zeca – já estão mais ou menos definidos.
E,
finalmente, de Tubby 12, abril de
1955, sai a história O Clube de Saias.
Sem Lulu, e com os membros do clubinho finalmente definidos, mas em um traço
mais tosco – os desenhos nem parecem ser de Stanley e Tripp, mas de outro dos
artistas que trabalharam na série. Após rechaçarem Aninha de uma tentativa de
entrar para o clube, circunstâncias que fogem do controle dos meninos os fazem
rever regras pré-estabelecidas. Mas isso não vai beneficiar as meninas...
O
álbum também já se encontra esgotado, mas com sorte pode ser encontrado nas
lojas. Preço original de capa: R$ 16,90. Mesmo se você for menino, vai acabar
torcendo pelas meninas. Ou não.
Para
encerrar, como ainda não publiquei tiras de Letícia este mês, eis aqui a
continuação do arco atual da personagem, conforme publicado no blog dela.
Modéstia à parte, a turminha da minha Luluzinha está envolvida em uma de suas
aventuras mais sensíveis. E, em breve, Letícia voltará das férias pelas quais
está passando... nas tiras! As presentes tiras são as que saíram até a 700ª
tira, publicada recentemente.
Na
próxima postagem, mais um álbum de Luluzinha, homenageando sua “morte” nas
bancas brasileiras.
Até
mais!
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