domingo, 31 de maio de 2015

BOLINHA E OS HOMENZINHOS DE MARTE - Um planeta habitado por bonequinhos!

Olá.
Hoje, como prometido, e sem outra interrupção inesperada, continuo a série sobre os álbuns de Luluzinha pela Pixel Media, selo do grupo Ediouro, em “celebração” à memória dos gibis de linha que foram interrompidos em abril deste ano.
Quer dizer, haverá, sim, uma interrupção. É que, segundo a ordem de lançamento dos álbuns, o próximo da fila é o do Bolinha – e também com histórias clássicas. No caso, com alguns dos primeiros encontros do gordinho com os homenzinhos de Marte!


BOLINHA E OS HOMENZINHOS DE MARTE, o álbum, foi lançado em março de 2014. Como os outros álbuns, tem 128 páginas, lombada quadrada, capa cartonada, colorido e em papel couché. É o primeiro álbum solo do Bolinha – e o segundo melhor da série, depois de Luluzinha – A Turma do Barulho.
Bem. Se os leitores ficaram frustrados em não terem podido ler uma primeira aventura de Bolinha, que havia sido prometida para o álbum Luluzinha – Primeiras Histórias, em BOLINHA E OS HOMENZINHOS DE MARTE, eles tem um interessante documento histórico relacionado ao universo dos personagens criados por Marjorie “Marge” H. Buell e John Stanley. Neste álbum, não temos a presença de Luluzinha, apenas do Bolinha, já que seus encontros com os minúsculos homenzinhos do planeta Marte constituem um universo particular na mitologia Margeliana (terei eu criado este termo? Ou será melhor o termo Buelliana? Terei eu criado este termo também?).

BOLINHA, O GIBI
Well. Todo mundo que se inteira do universo de Luluzinha já sabe que Bolinha França, ou Tubby, ou ainda Thomas O’Malley ou Tomás França (sabiam que esse é o nome verdadeiro do Bolinha, uma exceção no mundo das HQ infantis onde personagens são chamados unicamente pelo apelido?), foi o único coadjuvante criado por Marge – todos os outros foram criados por Stanley. Mas ele só ganhou um gibi próprio a partir de 1954, seis anos depois que Luluzinha já havia ganho o seu. E também pela editora estadunidense Dell Comics. E, tal como Luluzinha, Bolinha teve suas primeiras histórias solo publicadas, em caráter experimental, no gibi Four Color, revista teste da Dell, em 1952. Fez sucesso, é claro, garantindo que Tubby, o gibi, saísse, com sua numeração iniciada pelo número 5 (os quatro primeiro números correspondem às edições da Four Color). E, no gibi próprio, Bolinha vive aventuras que beiram o fantástico, longas para gibis infantis, tomando quase todo o gibi. Outro tema que seria muito frequente nos gibis do Bolinha é o seu xodó por Glorinha e sua disputa com Plínio Raposo pelo coração da menina mais bonita do bairro. Em algumas oportunidades, Glória e Plínio se juntam para tentar ludibriar o gordinho, e em boa parte das vezes este dá a volta por cima. Em outras, Glorinha participa das aventuras ao lado de Bolinha. E mais um tema frequente no gibi de Bolinha é o clubinho, e as aventuras de Bolinha ao lado de Carequinha, Juca e Zeca – já definidos como os membros principais – seja em aventuras infantis, seja em conflitos contra a Turma da Zona Norte – ou contra Luluzinha e Aninha, ansiosas em fazer parte do clubinho. As primeiras histórias do gibi do Bolinha também eram produzidas pela “dupla de ouro”, John Stanley e Irving Tripp. Pouco depois, Stanley deixaria os desenhos a cargo do também assistente Lloyd White – e, bem, eis aqui outro nome que haverá de ser lembrado na mitologia de Luluzinha de agora em diante.

OS MARCIANOS ESTÃO CHEGANDO!
Bueno. Os homenzinhos de Marte constituem o elemento fantástico das histórias de Bolinha. Eles surgiram de carona na moda que esse planeta estava fazendo nos EUA na década de 1950. Naquele tempo, as notícias de avistamentos de objetos voadores não-identificados (OVNIS), supostas naves alienígenas, eram bem frequentes, e, de todos os planetas passíveis de abrigarem vida fora da Terra, Marte, por ser o planeta mais próximo de nós, era o preferido, e já circulavam as famosas histórias de que, se houvesse mesmo vida no Planeta Vermelho, seriam homenzinhos verdes com tecnologia mais avançada que a nossa. Hoje, os cientistas acabaram com nossas ilusões: várias sondas e robôs enviados a Marte depois, se sabe que a maior forma de vida que Marte comporta é uma bactéria – a menos que os tais marcianos tenham criado meios de se esconder muito bem dos olhares dos terráqueos, sejam barreiras invisíveis, seja em colônias subterrâneas (eu acho a hipótese mais plausível).
E ainda por cima são covardes: enquanto só para meados de 2030 o homem terráqueo conseguirá viajar para Marte, os marcianos há décadas visitam nosso planeta, em discos voadores. Apenas na ficção, mesmo, os terráqueos já conseguiram “amartissar” (o termo estará certo?), ou melhor, pousar na superfície do Planeta Vermelho. Um dos primeiros terráqueos a conseguir “visitar” Marte, no terreno da ficção, foi John Carter, criado por Edgar Rice Burroughs em três contos publicados em 1911 (no ano seguinte é que Burroughs criaria Tarzan).
E os marcianos já foram imaginados de várias formas, desde homens de pele verde, parecidos conosco em tamanho e aparência (e nos vem à cabeça J’onn Jonzz, o Caçador de Marte ou Ajax, membro da Liga da Justiça), até homenzinhos minúsculos (lembram, por exemplo, dos cupins destruidores que o Pica-Pau enfrentou em um de seus curtas animados?). E suas índoles também variam: de pacíficos (como o já citado Caçador de Marte) a belicosos (como o pouco competente Marvin, o Marciano, dos Looney Tunes). Vindo só estudar a Terra, fazer contatos pacíficos com os terráqueos, ou com a pretensão de conquistá-la. Seja como for, os marcianos ainda são pop.
Bem. Os homenzinhos de Marte, imaginados por John Stanley, são minúsculos, do tamanho dos antigos bonequinhos de corda (cerca de 15 cm de altura), e visitam a Terra numa nave minúscula – apesar disso, eles tem uma tecnologia avançadíssima, que inclui cintos voadores, que anulam os efeitos da lei da Gravidade de Newton, e comprimidos que alteram as proporções corporais dos indivíduos – fazem encolher ou crescer. Em vários de seus encontros com Bolinha – o único terráqueo em que os homenzinhos confiam, por ser o único capaz de guardar o segredo de sua existência – esses elementos são usados. As histórias praticamente envolvem o mesmo enredo: os marcianos estão com problemas, e Bolinha dá um jeito de ajuda-los. Isso quando não é Bolinha que está com problemas, e são os homenzinhos que o ajudam, de maneira miraculosa. Ah: no geral, Luluzinha nem participa dessas histórias, ficando o segredo apenas para Bolinha. O acesso a universos fantásticos, para a menina do vestido vermelho, limita-se mais às historinhas que ela conta para Alvinho, ou uma ou outra aventura que ela viva em sonhos, os quais ela acorda no fim da história. Sendo assim, é Glorinha a menina com mais participação neste setor.
Há mais a se dizer: foram necessárias algumas aparições dos homenzinhos para que seu comandante recebesse nome: Sammi, conhecido no Brasil como Mino. É ele que conduz os diálogos com Bolinha.

AS CRÔNICAS TERRÁQUEO-MARCIANAS
Mas, como o leitor pode ver em BOLINHA E OS HOMENZINHOS DE MARTE, os aventureiros espaciais como os conhecemos são frutos de uma grande evolução. Eles não nasceram prontos, e nem pacíficos, que só vem estudar os terráqueos e seus costumes: em sua estreia, ainda nas histórias experimentais da Four Color, eram um povo beligerante, e com narizes que lembram focinhos de porco, e sem boca – mas já vestiam os trajes inteiriços com antenas. Esses trajes, aliás, ganharam diversas cores, de vermelho a laranja, até chegarem ao consagrado azul. Só depois é que ganhariam a face humana consagrada.
E mesmo encontros anteriores entre Bolinha e os marcianos não são levados em conta na cronologia. Sendo histórias apenas experimentais, a continuidade das características, ou mesmo a mudança destas, dependeu tanto da decisão dos criadores das HQ como da resposta do público leitor.
Para explicar, é melhor resenhar as histórias do álbum, que publica os encontros de Bolinha com os homens de Marte, saídos das revistas Four Color e Tubby, em ordem cronológica, e com as respectivas datas de publicação. Ah: há um detalhe sórdido. Das 13 histórias deste álbum, dez já foram publicadas nos gibis de linha da Pixel, portanto, só três eram inéditas na coleção geral (que inclui gibis de linha, especiais, almanaques e álbuns). Ah: o texto introdutório, que conta a história do gibi Tubby e dos encontros com os marcianos é de Otacílio d’Assunção (Ota), especialista em HQs antigas e ex-editor recordista da MAD Brasil.
Começando com a narrativa épica A Arma Secreta (Four Color 461, abril de 1953, inédita na coleção). Na estreia, os homenzinhos eram verdes, com focinhos e roupas vermelhas, e beligerantes. Na história de 32 páginas, os marcianos caçam e raptam Bolinha. Motivo: o gordinho, em uma de suas aulas de violino, consegue danificar os equipamentos da nave com uma de suas músicas! Eles, então, acreditam que o menino é um cientista que cria uma arma mais poderosa do que eles próprios já desenvolveram! Durante a caçada, cheia de trapalhadas, Glorinha e um gato acabam entrando na confusão, e sendo abduzidos e levados para Marte. E, em solo marciano, Bolinha quase destrói o planeta. Primeiro, com o violino; e depois, dirigindo o planeta em direção à Terra! Só nos anos 50, mesmo, era possível fazer dois planetas, quase do mesmo tamanho, quase colidirem, e os terráqueos não perceberem isso...
Em O Maior Acrobata do Mundo (Tubby 8, abril de 1954, e publicada no Brasil em Bolinha # 9, Pixel), os homenzinhos detém características parecidas com as do “encontro” anterior, mas são apenas observadores pacíficos, que decidem ajudar Bolinha quando este se mete em encrencas ao tentar entrar de penetra em um circo. Nestas duas primeiras histórias, o traço de Stanley e Tripp ainda é desajeitado – note que até mesmo Glorinha tem uma aparência estranha, como se as histórias tivessem sido desenhadas às pressas. E segue assim em aventuras seguintes do álbum, cujas artes vão melhorando aos poucos. Afinal, eram três revistas para cuidar ao mesmo tempo, Little Lulu, Tubby e Four Color!
Em O Grande Mágico (Tubby 9, julho de 1954, inédita na coleção), aparece apenas um marciano, com a aparência dos anteriores. Ele se comunica com Bolinha por telepatia, e se abriga no bolso do casaco de Bolinha, junto com seus equipamentos milagrosos. E ele vai ajudar o gordinho em duas coisas: assistir a um espetáculo de mágica, o qual ele não conseguiu entrar por falta de dinheiro, e elucidar um assalto ao banco. Todos fatos interligados.
É em O Invasor da Nave (Tubby 10, outubro de 1954, publicada anteriormente em Bolinha # 10) que as características definitivas dos marcianos são definidas – bem como sua relação de amizade com Bolinha. O gordinho é levado, no meio da noite, para ajudar os homenzinhos a conter um inimigo terrível que invadiu sua nave espacial: um simples gambá!
Em O Homenzinho no Bolo (Tubby 12, abril de 1955, e Bolinha # 11, Pixel), o comandante da nave é chamado de Mino. E pede ajuda a Bolinha para uma missão de resgate: comprar um bolo de casamento, com dinheiro achado na rua, pois um dos subordinados de Mino foi usado como bonequinho no topo da guloseima! Mas o negócio se complica quando crianças devoram o bolo... e ainda levam o homenzinho!
Em A Rebinqueta (Tubby 13, julho de 1955, e Bolinha# 12, Pixel), os homenzinhos resolvem consertar a nave deles... no quarto de Bolinha! O barulho feito durante o conserto é o de menos... O problema é encontrar a peça de substituição requisitada!
Em A Canoa Voadora (Tubby 14, outubro de 1955, e Bolinha# 13, Pixel), os homenzinhos ajudam Bolinha a impedir que a Turma da Zona Norte descubra o paradeiro da canoa do clubinho... que os aventureiros estão usando de esconderijo enquanto visitam o zoológico!
Em O Bola Voador (Tubby 15, janeiro de 1956, e Bolinha# 14, Pixel), uma pequena aventura para tirar o disco voador do parque da cidade vai colocar à prova a confiança que Bolinha tem em seus amiguinhos marcianos.
Em O Amigo do Papagaio (Tubby 17, julho de 1956, e Bolinha # 15, Pixel), outra missão de resgate! Bolinha tem de ajudar os homenzinhos a resgatar Mino, preso numa gaiola de pássaro, e, como recompensa, pode ficar de bem com a professora, Dona Marocas.
Ajudantes do Papai Noel (Tubby 20, janeiro de 1957, e Bolinha # 32, Pixel), envolve o Bom Velhinho, logicamente. O menino e os homenzinhos ajudando-o a sair de uma encrenca causada pelo mau tempo dos EUA (lá é uma das regiões da Terra em que neve é problema, sabem?)
O Violino Atômico (Tubby 21, março de 1957, inédita na coleção), os homenzinhos desta vez ajudam Bolinha a vencer um concurso de aeromodelismo. E fazendo uso... do violino do gordinho! Com o mesmo método usado em A Canoa Voadora. Ah: eis mais um problema. As proporções dos homenzinhos de Marte podem variar de uma história a outra – ora parecem menores que 20 cm, noutras maiores. É como a indefinição da estatura do Pica-Pau – vocês repararam que, em alguns episódios do desenho animado, o Pica-Pau ora aparece bem pequeno, cabendo na palma de uma mão, ora grande, do tamanho de uma criança humana?
Voltando ao assunto, em O Feijão Saltitante Humano (Tubby 23, julho de 1957, e Bolinha # 18, Pixel), os homenzinhos de Marte, desta vez, ajudam Bolinha a humilhar um pouco o metido Plínio Raposo, numa sessão de cinema.
E, encerrando, Uma Noite Difícil (Tubby 24, setembro de 1957, e Bolinha # 21, Pixel), onde quem sofre com as estripulias de Bolinha e dos homenzinhos é o pai do gordinho – quando os homenzinhos resolvem passar a noite na casa da família França.
No aguardo estaremos de um improvável segundo álbum de aventuras do Bolinha, já que agora a Pixel está se dedicando apenas aos álbuns – se eles realmente cogitarem encerrar a publicação do gibi do Recruta Zero. BOLINHA E OS HOMENZINHOS DE MARTE pode ser encontrado com facilidade, ainda. Preço de capa: R$ 16,90.
E, quem puder, me esclareça uma dúvida: para se referir ao universo criado por Marge, o termo melhor seria “Margeliano”, “Margeriano”, ou “Buelliano”? Comentem e ajudem!

PARA ENCERRAR...
...o curso de HQ continua! Como prometido, eis aqui o segundo trecho de meu livrinho teórico de HQ, Quadrinhos, Conceito e Prática. Já contei a vocês a origem deste trabalho em quadrinhos envolvendo a Letícia, minha personagem: quando estava lecionando uma oficina de HQ para estudantes em Santa Maria, RS, elaborei este material de apoio em forma de HQ. Agora, pisando no terreno da linguagem da HQ propriamente dita, com todos seus elementos.
Na próxima postagem, se não aparecer nada para causar uma momentânea interrupção, como a chegada do gibi do Miracleman às bancas, traremos resenha de outro álbum de Luluzinha pela Pixel – e outro trecho de Quadrinhos, Conceito e Prática, dando continuidade ao curso de HQ.

Até mais!

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