Olá.
Hoje,
volto a falar de quadrinhos. Hoje, volto a falar de quadrinhos clássicos. Hoje,
volto a falar de quadrinhos clássicos editados pela editora Pixel Media, selo
do grupo Ediouro.
A
triste notícia se confirmou: a Pixel suspendeu mesmo os gibis de Bolinha e
Luluzinha, tanto os clássicos como a versão adolescente! Mas deixemos para
lamentar isso em outra postagem, em verdade porque vou falar de outro
personagem que esteve sendo editado pela casa.
Hoje
vou falar do primeiro álbum solo do Popeye pela Pixel: SUPER POPEYE.
O
marinheiro comedor de espinafre, até hoje presente na cultura pop, citado
regularmente de tempos em tempos, foi criado em 1929, por Elsie Chrisler Segar.
Ele estreou como coadjuvante de uma tira criada pelo autor em 1919, The Thimble Theather, distribuída pela
megacorporação King Features Syndicate. Nessa tira, de situações malucas
envolvendo a classe média norte-americana, já aparecia a personagem Olívia
Palito (Olive Oyl), personagem de maior proeminência junto com seu irmão, o
ambicioso Castor Oyl. No ano seguinte, 1920, Segar cria uma segunda tira, The Five-Fifteen, que, mais tarde, em
1926, muda seu nome para Sappo – é
protagonizada pelo pacato John Sappo e sua esposa Myrtle.
Bem.
Quando Segar introduziu Popeye no Thimble
Theather, ele chegou arrebentando: não apenas se tornou o protagonista da
série em pouco tempo como ainda se tornou o namorado de Olívia Palito,
tirando-a do ex-namorado, Ham Gravy. Aí, os outros personagens foram aparecendo:
o comilão e oportunista J. Wellington Wimpy, ou Dudu Pimpão; o cheio de manias
pai do marinheiro, Poopdeck Pappy, ou simplesmente Papai ou Vovô Popeye; o
filho adotivo de Popeye, Swee’pea (Gugu); o rival, Bluto ou Brutus; a vilã, Sea
Hag (Bruxa do Mar); o pequeno Eugene, o Jeep; Alice, a Goon; o atrapalhado e
depressivo Rei Blozo; e outros mais.
Algo
parecido aconteceu em The Five-Fifteen:
quando, em 1932, Segar introduziu o cientista maluco e superconvencido O. G.
Wotasnozzle (Prof. Quitromba, Narigão ou Caracol), que passou a roubar o
estrelato de Sappo, de quem se tornou inquilino. Sappo se tornou praticamente
apenas uma cobaia das experiências malucas de Caracol.
Elsie
Segar acabou morrendo precocemente, de leucemia, em 1938. Mas viveu o suficiente
para desfrutar da pequena fortuna que o marinheiro rendeu-lhes: primeiro, foi a
estátua de Popeye erguida no Texas por produtores de espinafre, que viram o
crescimento das vendas do produto graças à propaganda indireta (afinal, Popeye
ganha superforça ao comer espinafre, uma característica que foi reforçada mais
nos desenhos animados que nos quadrinhos); foi em 1933 que começou a ser
produzida a primeira série de desenhos animados de Popeye, produzida pelos
Estúdios Fleischer, com distribuição da Paramount Pictures. Depois, foram
várias outras séries: em 1957, veio a série de TV bancada pela King Features;
depois, a série produzida pela Hanna Barbera. Ainda tem o filme, de 1980,
dirigido por Robert Altman, com roteiro do também cartunista Jules Feiffer, e
protagonizado pelo saudoso Robin Williams. Por causa dos desenhos animados, a
maioria da população mundial até esquece que Popeye surgiu nos quadrinhos, e
esse é seu elemento original.
Enquanto
isso, nos quadrinhos, os especialistas afirmam que Popeye perdeu em qualidade
depois que outros artistas assumiram a tira – a melhor fase ainda é a de Segar.
Os primeiros sucessores das tiras de jornal foram Tom Sims (roteiros), Doc
Winner e Bela Zaboly (desenhos). Mas o que ficaria mais tempo na tira, e faria
o melhor trabalho com o personagem, seria Bud Sagendorf, ex-assistente e genro
de Segar, que começou fazendo as histórias dos gibis publicadas pela Dell
Comics, e só em 1959 assumiu as tiras e as páginas dominicais. E as fez até a
morte, em 1994 – quer dizer, Sagendorf se aposentou das tiras em 1986,
desenhando apenas as dominicais; as tiras diárias foram assumidas por Bobby
London, que se envolveu em polêmicas – como usar piadas indiretas envolvendo
tráfico de drogas e aborto – até ser demitido, em 1994. As dominicais, logo,
foram assumidas por Hy Eisman.
Até
2013, a Pixel Media publicava o gibi do Popeye, no mesmo formato almanaque de
tiras do gibi do Recruta Zero. E, hoje, pequenas histórias de Popeye e do
Professor Caracol ainda são publicadas no gibi do Recruta. Todo com material de
Bud Sagendorf. E, em agosto de 2014, eis que a editora volta a publicar
material solo do Popeye: um álbum com material de 2011, inédito no Brasil.
O QUE TEM DE ESPECIAL NISSO?
Sabemos
que Popeye, parafraseando suas palavras, é o que é, por isso é. Seguinte: em
2011, a editora IDW, atualmente uma das majors dos EUA, resolveu lançar uma
série inédita de Popeye. O que era para ser uma série de apenas 4 edições se
tornou uma série regular. Os escalados para produzir este novo Popeye foram:
nos roteiros, o neozelandês Roger Landridge, que também é desenhista; mas os
desenhos ficaram a cargo de Bruce Ozella, Ken Wheaton, Tom Neely e Vince
Musacchia, que se esmeraram para psicografar o traço de Segar. Essa série fez
sucesso, ainda mais porque artistas famosos do meio quadrinhístico, como Jules
Feiffer, John Byrne, Tony Millionaire e Dean Yeagle, fizeram as capas
alternativas. A capa acima é de Bruce Ozella, homenageando a célebre capa da
revista Action Comics #1, a da
primeira aparição – na mídia – do Superman.
Landridge
consegue produzir um Popeye bem ao estilo que Segar produzia nos anos 30:
bem-humorado, envolvido em situações, digamos assim, excêntricas, e resgatando
personagens esquecidos, como Castor Palito e os pais dele e de Olívia, e usando
outros mais conhecidos. Ele ressalta a paixão de Popeye pela antimodelo de
beleza Olívia Palito, a gulodice e a personalidade sanguessuga de Dudu, as
manias de Papai, a excentricidade e a falta de modéstia do Professor Caracol...
enfim. Um Popeye de jeito retrô, com um toque moderno. A Pixel Media, em seu
álbum de 128 páginas (sem contar capa), publica histórias dos cinco primeiros
números da nova série, sempre uma ou duas de cada, de Popeye e do Professor
Caracol. A introdução é de Otacílio D’Assunção, o Ota, que inclusive se dá ao
trabalho de explicar um dos grandes furos da série: o porquê de Brutus ser
chamado, nesta edição, de Bluto. Isso porque é algo que vem dos Estados Unidos,
onde o rival de Popeye ora é chamado de Bluto, ora de Brutus.
A
escolha do título, SUPER POPEYE, não foi gratuita: afinal, o marinheiro caolho
é considerado, por muitos especialistas, o primeiro super-herói com poderes,
antes mesmo da existência do Superman. Mas especialistas em HQ já encontraram
exemplos anteriores mesmo ao Popeye, como o também estadunidense Hugo Hércules, de 1902, e o brasileiro Oscar, de 1905. Mas talvez Popeye ainda
ganhe por ter sido o mais popular herói com poderes antes do Superman. Ainda
que tais poderes, claro, venham de uma fonte fetichista (com uso de amuletos ou
recursos mágicos) – no caso, o espinafre em lata.
Na
parte dos desenhistas, cada qual tem um estilo fácil de notar. O melhor, na
opinião deste que vos escreve, é Tom Neely, com um traço de linhas finas e
cheio de movimento, bem de desenho animado. Bruxe Ozella, por sua vez, tem um
traço meio monótono, com seus personagens com poucas variações de expressão. A
menos que houvesse defeito de impressão, o traço de Ken Wheaton parece o mais
desleixado. E, finalmente, Vince Musacchia praticamente produz um Popeye mais
palatável a tiras de jornal que para um gibi, com seu traço de linhas grossas e
personagens mais estáticos (com poucas variações de movimento). Mas todos
entregam um Popeye que condiz com as ideias de Landridge, e valorizados pelas
cores de Luke McDonnel e Tom Neely.
AS HISTÓRIAS
Do
gibi Popeye #1 (abril de 2012, capa
oficial de Bruce Ozella e alternativa de Jules Feiffer), sai a primeira
história longa do álbum, Na Terra dos
Jeeps!, com desenhos de Ozella. Atraído por uma notícia de jornal, o
ganancioso Castor Palito decide solicitar os serviços de Popeye – e levando
Olívia a tiracolo – para tentar encontrar um companheiro para Eugene, o Jeep.
Mas essa viagem não vai se fazer sem grandes percalços. Primeiro, Dudu que
decide embarcar de última hora; depois, Bluto que cruza seus caminhos – mas Popeye
supera esse obstáculo sem ajuda de espinafre; por incompetência e interesses
que não os da tripulação no momento do perigo, Dudu acaba sendo jogado ao mar;
e, chegando à ilha, eles ainda topam com uma misteriosa mulher, que, ao tentar
enfeitiçar Popeye e Castor, leva uma surra de Olívia – tudo para depois descobrirem que tudo não
passa de armação da Bruxa do Mar, que ficou esquisita no traço de Ozella. E ela
tem ajuda de uma criatura monstruosa... História cujo mérito maior é resgatar o
clima das antigas e tresloucadas aventuras marítimas de Popeye.
Do
gibi Popeye # 2 (junho de 2012, capa
oficial de Roger Landridge e alternativa de Tom Millionaire), saem as duas
histórias seguintes: em A Volta do Verme,
com desenhos de Ken Wheaton, Popeye vai se encontrar com Olívia, mas precisa
enfrentar um concorrente: o sr. Wormhood, um tipo que lembra um vilão do início
do século XX, que conquista Olívia por seu suposto jeito intelectual. Dudu
decide ajudar o marinheiro a reconquistar a garota de um jeito atrapalhado, mas
não demora para que ambos descubram um sórdido segredo envolvendo o Sr.
Wormwood, mas vai ter confusão até que Olívia consiga abrir os olhos. Um
pequeno clássico dos desencontros amorosos do marinheiro. A segunda história,
com desenhos de Tom Neely, é com o Professor Caracol: o cientista quer terminar
em paz sua experiência para concorrer em uma convenção de cientistas, mas é
importunado a todo instante por Sappo e Myrtle: ele quer sossego para ler o
jornal, ela quer ser ouvida. E, a cada vez, a situação foge do controle...
Do
gibi Popeye #3 (julho de 2012, capa
oficial de Tom Neely e alternativa de Dean Yeagle), vem a pequena aventura O Vingador Mascarado. Um senhor, Jacó
Geezil, cansado de ver Dudu filando seus hambúrgueres, que consegue na base da
conversa fiada, decide radicalizar: desafia o gordinho para lutar contra um
misterioso lutador mascarado. Dudu, que não é chegado a lutar, aceita Popeye
como treinador – e o treinamento se dá com muitas trapalhadas – até Bluto faz
uma participação especial. Mas, no dia da luta, obviamente não tem como Dudu
superar o tal Vingador, mas Popeye decide entrar na briga quando descobre algo
a respeito do tal lutador que não está certo... e o final acaba com uma
reviravolta inesperada. Ou talvez não.
Do
gibi Popeye #4 (agosto de 2012, capa
oficial de Ozella e alternativa de Seymour Chwast), duas histórias. Na
primeira, Já Vai Tarde, Blozo!
(desenhos de Vince Musacchia), Popeye é convocado pelo rei da falida nação de
Spinachovia para enfrentar um problemão: há um espião infiltrado no palácio,
vendendo informações sobre Blozo para o rei de Palookia, uma nação de
brutamontes de dentes afiados. Levando a tiracolo Olívia, Castor e Dudu, Popeye
de início resolve apenas encontrar o espião, mas quando Palookia resolve
invadir Spinachovia, as coisas começam a sair do controle. Principalmente
porque Dudu descobre quem é o espião, mas resolve interceptar as mensagens
dele, mandadas através de galinhas. É claro que o leitor saberá antes dos
personagens quem é o espião, mas este escapará impune, infelizmente... porque
Popeye já terá resolvido a encrenca com o próprio rei de Palookia. De longe, a
história mais excêntrica da coletânea. A segunda história, O Herói da Praia, é protagonizada por Sappo, Myrtle e Caracol. O
almejado dia tranquilo na praia de Sappo e Myrtle é importunado pela invenção
genial do Prof. Caracol, um dispositivo para facilitar seu dia na praia. Cada
um tem seu jeito de curtir o dia, Sappo e Caracol... até que a invenção deste
começa a dar pane.
Do
gibi Popeye #5 (setembro de 2012,
capa oficial de Ozella e alternativa de John Byrne), temos duas histórias,
ambas desenhadas por Ozella, mostrando Popeye em seu duvidoso lado papai ao
lado de Gugu, que se porta como um bebê comum, sem o dom da palavra visto nas
histórias de Sagendorf, sequer o lado semifilósofo. Em No Mau Caminho, Popeye vai cuidar de Gugu durante as férias da
babá, Alice the Goon. Tudo vai bem – nos termos do próprio Popeye – até ele e
Gugu se desentenderem por questões, digamos, intelectuais, o que faz Gugu fugir
de casa, em direção ao bairro mais barra-pesada da cidade. E Popeye, claro, vai
tentar resgatar o filho adotivo. E, na segunda história, As Aventuras de Pete e Patsy, Popeye, no intuito de entreter Gugu,
cria uma história em quadrinhos, protagonizada por dois garotos aventureiros.
Logo, Olívia, Dudu, o cozinheiro Dureza e Castor, em companhia de um amigo,
acrescentam elementos – em seus termos – à história... enquanto Gugu está
pensando em outra coisa.
O
álbum é completo com ilustrações – as capas oficiais e alternativas de cada
gibi – e biografias dos autores, Segar e Landridge. Tudo impresso em papel
couché. Preço? R$ 19,90. Preço do ano passado, para quem quiser procurar agora!
Para
encerrar, não tendo muito o que postar aqui, vamos de sequência de tiras dos
Bitifrendis, mesmo. Estas aqui saíram anteriormente no blog deles, e dão início
à mais recente temporada de tiras de meus personagens praianos – a quinta
temporada, para ser mais exato. E ela prossegue!
E,
creio que por hoje é isso. Em breve, continuaremos nos lamuriando pelo
encerramento da publicação dos gibis de Luluzinha, fazer o quê...
Até
mais!
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