Esta semana, nas bancas de revista do Brasil, chegou uma revista muito interessante. O problema é que a revista foi lançada há cerca de três meses atrás, mas só agora o Brasil tem a oportunidade de conhecê-la.
Trata-se da AÇÃO MAGAZINE.
Esta revista tem por finalidade implantar no Brasil o sistema japonês de publicação de quadrinhos. Quer dizer, trata-se de um almanaque, com séries de quadrinhos produzidas aqui no Brasil, em estilo mangá, e complementada com matérias sobre assuntos gerais. Mais ou menos como nas revistas japonesas, onde as séries mais conhecidas são publicadas semanalmente.
Quer dizer, não é a primeira vez que o Brasil vem com uma iniciativa assim. Já tivemos tentativas anteriores de se fazer um mangá brasileiro. E revistas tipo almanaque, também já tivemos - em 1995, por exemplo, na mesma base, a editora Escala lançou três números da revista Master Comics, com quadrinhos e matérias sobre entretenimento. Essa iniciativa teve vida curta, e, infelizmente, é pouco lembrada.
A AÇÃO MAGAZINE, entretanto, chega em um momento de otimismo para os quadrinistas brasileiros. Esta revista tem tudo para dar certo no mercado - basta apenas que o público brasileiro apoie a iniciativa.
Bem. A AÇÃO MAGAZINE foi lançada pela editora Lancaster, e editada por Alexandre Lancaster (que também coordena o blog Maximum Cosmo - www.interney.net/blogs/maximumcosmo/) e Fábio Sakuda. O formato americano é generoso - 164 páginas - tem páginas coloridas que dividem espaço com as páginas em preto e branco. O editorial é longo, e o índice está no final da revista.
Já no slogan, a revista tem por pretensão chamar o leitor para o novo - seja qual for a definição de "novo". Mas eu acredito que o "novo" seja o modelo que, embora calcado no japonês, é inédito no Brasil.
Bem. o número 0 foi lançado em agosto de 2011. E o número 1, em setembro de 2011 - mas a publicação só alcançava o eixo Rio-São Paulo. Porém, só agora a revista chega às bancas de todo o Brasil, devido a alguns problemas na distribuição. E, recentemente, em final de novembro, saiu a edição número 2.
No bojo, matérias sobre o mundo pop e quadrinhos em estilo mangá. Para a revista, foram então planejadas cinco séries - na número 1, por enquanto saem três, e asoutras duas já aparecem na próxima edição.
Bem. As três amostras iniciais vem em generosas 45 páginas cada uma. As séries estreantes são as seguintes:
Madenka, de Will Walbr (como ele assina) - a história da capa vem com as páginas iniciais coloridas. Em um mundo de humanos e animais antropormóficos, onde o destino de um jovem é ser herói, anti-herói ou vilão, o personagem-título, um garoto humilde e meio desbocado, é treinado pelo Sr. Batala, um velho javali, para ser um herói. No entanto, o garoto não parece interessado no negócio, por não vislumbrar um futuro promissor nessa carreira. Mas suas perspectivas mudam quando chega à cidade Siena, uma raposa cega, com uma missão perigosíssima que só terá êxito com a ajuda do garoto. A história tem um ar absurdo, como nos mangás de Akira Toriyama - o traço de Walbr até lembra-o - e muitas referências ao folclore brasileiro, como a aparição de sacis, o que pode atrair os leitores. Porém, o roteiro meio confuso e as ideias mal concatenadas podem não ajudar no sucesso desta HQ.
Jairo, de Michelle Lys e Renato Csar (roteiro) e Altair Messias (arte) - drama sobre boxe. O personagem título é um garoto de 12 anos, criado pelos tios e marcado por uma tragédia pessoal. Deslocado no local para onde se mudou, ele sofre bullying de um colega de escola, e, não aguentando a pressão, acaba surrando-o. Para tentar o auto-controle, Jairo então integra uma equipe de boxe, e isso pode representar uma mudançana sua vida. O roteiro da história, não-linear (possui cortes e flashbacks) e calcado nos mais conhecidos mangás de boxe, tipo Hajime no Ippo, é bem-construído, e os personagens cativam. E a arte de Messias é detalhada, cheia de rugas, mas que pode não agradar a todos.
E, finalmente, Tunado, de Maurilio DNA e Victor Strang (que dividem texto e arte) - trata do mundo dos rachas, as corridas de rua - por isso, é a mais perigosa da edição. Trata das aventuras de Daniel Kawasaki, um garoto que sonha em ser piloto, e que para iniciar a realização desse sonho, ganha do tio paraplégico um carro. Porém, sem dinheiro para comprar as peças para incrementá-lo, ele aceita se empregar em uma loja de peças. E, em uma aposta com um rapaz metido, Daniel tem a chance de mostrar seu talento nas pistas. O roteiro também é bem-construído, apesar do tema polêmico - a história já começa com advertência aos leitores. A arte é mais convencional, com uma melhor aplicação de retículas. Tem tudo para agradar - até mesmo a eventual aparição de garotas bonitas.
E, completando a revista, matérias: de Leonardo Solidade, sobre a evolução no mundo dos games; de Fábio Sakuda, sobre os mais novos modelos de celulares do mercado; de Ana Carolina Silveira, sobre os livros de fantasia escritos no Brasil; e de Diogo Prado, sobre o mundo dos hackers - tanto os "do bem" quanto os "do mal".
E a revista está aberta à publicidade, só avisando.
Para a próxima edição, ficaram duas séries novas, Expresso!, de Alexandre Lancaster, e Rapsódia, de Fábio Sakuda e Carlos Sneak. É esperar pra ver.
O preço, para uma revista desta magnitude, é até justo: R$ 9,90. Já é uma iniciativa louvável dentro do mercado brasileiro de HQ. O Estúdio Rafelipe faz votos para que essa iniciativa prospere, pois tem tudo para agradar ao leitor fã de mangás, e que certamente já se cansou da enxurrada de títulos japoneses de qualidade duvidosa que atulham nossas bancas.
Ah: a revista também tem um website - www.acaomagazine.com/ - onde o leitor pode deixar sua opinião, e ajudar na melhoria da revista. Faria bem, entretanto, uma atualizadinha no site, certo?
Já nas bancas.
Para encerrar, uma ilustração até então inédita, feita há algum tempo atrás, mostrando a luta de duas criaturas. Bem, eu não vou dizer quem são essas criaturas, para não estragar a surpresa ligada a elas... e que deve ser realizada em breve. Mas curtam aí.
Até mais!
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