Olá.
Para
voltar, aos poucos, à programação “família” do blog, passada a euforia do
carnaval – agora, sim, o ano começou, e este ano não teremos grandes eventos
para paralisar o Brasil! – vou falar de livro. Lançamento recente. Da editora
Discovery Publicações, que costuma largar nas bancas diversos livros com cerca
de 96 páginas, cheios de ilustrações, sobre temas de assunto geral.
Com
relação a quadrinhos e cultura pop, já falei de vários lançamentos, e todos
iniciados com números: 400 Imagens –Mangá do Começo ao Fim, de Sérgio Peixoto; 300 Mangás, de Heitor Pitombo (que ganhou “remake” pela editora
Geek); 100 Super-Heróis, de Guilherme
Kroll (também com “remake” pela Geek); e 120 Anos de História – Almanaque dos Quadrinhos, organizado por Franco de Rosa.
A exceção dos livros da Discovery resenhados aqui foi Maciota – Fome de Bola, coletânea dos cartuns do personagem de
Paulo Paiva.
Bão,
o lançamento da vez não é especificamente sobre quadrinhos, é mais cultura pop,
e também começa com número. O livro de hoje se chama 200 AMERICAN ANIME.
Na realidade, o livro deveria se chamar 200 IMAGENS – AMERICAN ANIME. Saiu agora, em fevereiro de 2015. 96 páginas sem contar capa. É, pelo que pude apurar, uma coletânea de matérias publicadas na revista informativa Neo Tokyo, da editora Escala. Não aparece, nos créditos, o nome do organizador, e nem de todos os autores dos textos. Como quase todo livro da editora, é ilustrado com fotos de divulgação coloridas. E fala sobre os chamados American Animes, ou os desenhos animados produzidos na Europa e nos Estados Unidos que possuem o visual e a animação influenciados fortemente pelos animes japoneses.
Desde
os anos 80 do século XX, quando foram descobertos pelo ocidente, os animes e
mangás japoneses atraíram o interesse de muita gente, que viu nas produções
nipônicas algo mais que os olhos grandes. A entrada das produções japonesas no
imaginário ocidental foi possibilitada graças a dois poderosos padrinhos: o
americano Frank Miller, que, além de ter apadrinhado a entrada do mangá Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Gozeki
Kojima, nos Estados Unidos, produziu a impactante e célebre graphic novel Ronin, com toda influência dos mangás; e
o japonês Katsuhiro Otomo, que, além de desenhar o mangá, dirigiu o anime de Akira, que tomou de assalto o mundo no
final dos anos 80. A partir daí, os mangás e animes saíram do gueto dos
apreciadores – descendentes de japoneses e simpatizantes – para conquistar
maiores públicos.
Não
se trata, segundo o livro, de algo gratuito. O próprio Osamu Tezuka, o pai do
moderno mangá, usou influências dos desenhos animados ocidentais, como as
produções dos estúdios Disney e Fleischer, para compor as características de
seu trabalho, a partir dos anos 50. Então, foi uma questão de reciprocidade:
depois do grande sucesso das animações japonesas no ocidente, não apenas os
quadrinhistas como também as produtoras de desenhos animados começaram a
produzir material fortemente calcado nos animes japoneses: no visual com os
“olhões” e “boquinhas”, na narrativa dinâmica e cinematográfica, no uso das
expressões cômicas comuns nas produções nipônicas, na densidade das narrativas.
E dessa influência nasceram grandes sucessos das animações modernas, como Ben 10, Avatar – A Lenda de Aang, Jovens
Titãs, Três Espiãs Demais e muitos outros.
Com
textos de fã para fã, portanto imparciais e passíveis de as opiniões
apresentadas representarem as ideias do autor e não do público geral, e
voltados mais aos já iniciados no universo dos american animes, 200 AMERICAN
ANIME conta, com detalhes, informações sobre algumas das produções mais
conhecidas da tendência, desde produções puramente ocidentais até as versões
japonesas de personagens ocidentais. Ocidente e Oriente já não podem mais ser
separados um do outro. Outro problema é que os artigos já se encontram
desatualizados, com informações já datadas e levando pouco em consideração
informações recentes e últimos acontecimentos ligados às séries.
O
capítulo inicial, não creditado, A Nova
Cara da Animação Mundial, conta um pouco da origem dos American Animes, a
partir do aporte dos mangás, desde os anos 80, até a atualidade, versando
também sobre os quadrinhos que, posteriormente, influenciariam os desenhos
animados, como os trabalhos de Adam Warren, Joe Madureira e Jill Thompson.
Melhor do que o Original, de
Helena Stumpf Morelli, fala praticamente tudo sobre as séries Ben 10 Força Alienígena e Ben 10 Supremacia Alienígena, passando
por alto a primeira série e citando rapidamente a mais recente, Ben 10 Omniverse. Tanta gente acha que
estes Ben 10 são os melhores, já que
apresentam a versão amadurecida dos personagens. Mas, atualmente, não
conseguimos pensar em American Animes sem pensar em Ben 10.
No World for Tomorrow, sem
crédito, trata da versão mais recente da animação dos Thundercats, de 2011. Não tenho como dizer se essa versão é mesmo
melhor que a dos anos 80: só assisti um episódio da série de 2011, e ainda
tenho no coração a série dos anos 80. Não tenho nada contra o Snarf falante da
série original, aliás. Vocês sabiam, inclusive, que parte da série clássica foi
animada no Japão?
O
capítulo seguinte, Avatar, de Renato
Hack, fala sobre a franquia do dominador do ar da Nickelodeon. Muito do que já
se sabe (incluindo muito do que já falei aqui no blog), e informações
adicionais das três séries, além de falar um pouco da série mais recente, A Lenda de Korra. A matéria, entretanto,
foi escrita antes da estreia da primeira temporada de Korra. Ah: e sequer cita o filme de M. Night Shyamalan, que aliás
foi mesmo uma bomba.
I am Iron Man, sem
crédito, fala sobre a primeira parceria entre a Marvel Comics e o estúdio
japonês Madhouse, o anime do Homem de Ferro. Depois do fracasso da linha de
quadrinhos Mangaverse (1998), com personagens da Marvel Comics em traço mangá,
a parceria entre a editora de Stan Lee e os japoneses se deu no terreno dos
desenhos animados. A parceria com o célebre estúdio Madhouse, a partir de 2009,
rendeu três animes japoneses com personagens ocidentais, Homem de Ferro, Wolverine e X-Men.
Bão, este artigo fala do primeiro anime da parceria – o livro ainda fala do
segundo e do terceiro.
Mutante Rex – Vamos Começar a Revolução,
também
de Helena Stumpf Morelli, fala sobre o segundo american anime dos criadores de Ben 10. Praticamente todas as
informações sobre a série do adolescente que pode criar máquinas de seu próprio
corpo devido a uma mutação gerada por nanorrobôs. Talvez o melhor artigo do
livro, mais preocupado com o fã desavisado.
Meninas Super Poderosas Geração Z, sem
crédito, conta a história da série clássica do Cartoon Network (que eu também
amava), e de como ganhou versão japonesa, que praticamente mudou tudo em
relação à série original, porém sem perder a ternura.
Sushis e Brioches – A Animação Francesa
e os Animes, sem crédito, é o capítulo sobre as animações
do estúdio francês Marathon Media, o responsável pelas séries Três Espiãs Demais, o spin-off Os Incríveis Espiões, Martin Mystère (a
herética versão em American Anime da HQ da Bonelli Comics), Team Galaxy e Gormiti. As influências dos animes japoneses são mais visíveis
nesses desenhos que nas outras produções citadas.
Santa Animação, Batman!, sem
crédito, trata da série de curtas animados do Batman, O Cavaleiro de Gotham, de 2008 – que fazem a transição entre o
primeiro e o segundo filmes da recente trilogia do morcegão. A matéria começa
falando sobre o primeiro e mais bem-sucedido exemplo de parceria entre estúdios
de cinema americanos e estúdios de animação japoneses, Animatrix, as histórias em anime que complementam o universo de Matrix, para só depois falar do anime do
Batman, que aproveitou a mesma ideia tida pelos irmãos Wachowski – usar animes
japoneses para expandir os conceitos do universo cinematográfico.
Wolverine e os X-Men é a
matéria sobre a segunda parceria entre Marvel e Madhouse. Uma série solo do
Wolverine e outra dos X-Men.
Tu Se Torna Eternamente Responsável
Daquilo que Cativas trata do exemplo possivelmente pioneiro na
tendência dos American Animes: o desenho animado do Pequeno Príncipe, baseado no livro de Antoine de Saint-Exupéry, e
exibido no Brasil nos anos 80. A produção também é francesa, mas o visual
remete, evidentemente, aos animes japoneses da época. Saudades dos anos 80. A
matéria, entretanto, parece ter sido interrompida na metade.
Finalmente,
para terminar, Team Titans, sem
crédito, trata do desenho dos Jovens
Titãs, que reformula e renova o público fã do famoso grupo formado
inicialmente pelos ajudantes dos super-heróis da DC Comics. A matéria não cita
a série mais recente, Jovens Titãs em
Ação, atualmente em exibição, se detém na primeira série.
E o
livro ainda cita algumas séries que poderiam ter sido aprofundadas, como Stitch, o anime do alienígena do
universo de Lilo e Stitch, da Disney,
e Hi Hi Puffy AmiYumi, o “anime”
cômico sobre as duas cantoras japonesas (que, aliás, interpretam a música-tema
de Jovens Titãs). Mas ficou de fora Samurai Jack, um dos melhores American
Animes do Cartoon Network – apesar de não aparentar – e Winx Club.
O
maior defeito do livro foi a carência de revisão, que poderia ter evitado as
informações datadas e as desatualizações – é melhor para o público que já detém
conhecimento inicial sobre as séries citadas, não para os que desconhecem as
séries. Também se percebe algum desequilíbrio na diagramação das ilustrações, e
o efeito não ficou legal em boa parte das páginas. Os editores da Discovery
Publicações deveriam ficar mais atentos na hora de formular os livros! 200
AMERICAN ANIMES passa bem longe da qualidade observada em 300 Imagens – Mangá do Começo ao Fim. A coletânea das matérias de
Sérgio Peixoto teve mais capricho.
Ainda
assim, 200 AMERICAN ANIMES é bom para quem quiser se inteirar dos desenhos de
“olhões e boquinhas” que falam inglês sem serem dublados.
Quem
quiser conferir, 200 AMERICAN ANIMES está nas bancas, a R$ 24,90. Podiam ter
feito um desconto para tal qualidade!
Para
encerrar, já que falamos de Avatar, e
como faz muito tempo que não falo de Avatar – já que ainda nem me dei ao
trabalho de assistir A Lenda de Korra, não
por falta de vontade – a ilustração de hoje promove um “encontro” entre Aang, o
herói da série clássica, e Korra, sua sucessora como o “ponto de equilíbrio”
entre os quatro elementos de seu mundo. Parece que o fracasso do filme
contribuiu para que Korra não tenha
feito o mesmo sucesso de Aang, já que
não é muito comentada no fandom que frequento.
É
isso aí, por enquanto. No decorrer dos dias, tratamos de outros assuntos.
Até
mais!
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