Olá.
Dando
continuidade a uma nova série sobre mídias eróticas japonesas, hoje vou falar
de um mangá erótico lançado em tempos recentes. A autora (também é um mangá
escrito e desenhado por uma mulher!), já apresentei anteriormente.
O mangá
de hoje se chama NIGHTMARE MAKER.
NIGHTMARE MAKER foi publicado no Japão entre 2009 e 2012, na revista Young Champion RETSU, da editora Akita Shoten. No Brasil, os seis volumes tankoubon foram lançados pela editora Nova Sampa a partir 2013 – o primeiro volume chegou em setembro, mas os outros cinco só chegaram a partir de janeiro de 2014. É o terceiro mangá publicado no Brasil pela autora que assina como Cuvie (os outros foram Dorothea, publicado pela Panini, e Hakoiri, pela Nova Sampa). Aliás, NIGHTMARE MAKER teve seu primeiro volume lançado junto com Hakoiri.
E,
ao que parece, tal como outras obras de Cuvie, NIGHTMARE MAKER não ganhou
adaptações para outras mídias. Já que seria difícil adaptar uma ero-comedy sem
que esta acabe sendo classificada como hentai, embora não seja.
Como
as capas e as contracapas tem ilustrações diferentes, ambos os lados das capas
serão mostrados nesta postagem. Mas NIGHTMARE MAKER tem apenas seis edições,
prestem atenção.
É um
mangá erótico, sim, mas com foco maior no drama, com toques de comédia e
suspense. E versa sobre o mundo dos sonhos. O mundo onde a pessoa pode ser o
que quiser, pode viver a vida que quiser, desde que consiga manter o controle
do mesmo. Já são muitos os quadrinhos que versam sobre o mundo dos sonhos, numa
lista que vai desde o Dream of a Rarebit
Fiend (1903) e o Little Nemo in
Slumberland (1905), de Winsor
McCay, até o cultuado Sandman, de
Neil Gaiman, passando por obras como o brasileiro Fikom, de Fernando Ikoma, e Little
Ego, do italiano Vittorio Giardino. O mundo dos sonhos é vasto, já foi a
inspiração do movimento artístico do surrealismo, é amplamente estudado por
psicólogos, etc., etc., etc..
A
premissa de NIGHTMARE MAKER (o título em inglês pode ser traduzido livremente
como “Fábrica de Pesadelos”) é o limite entre sonho e a realidade: se fosse
possível controlar os sonhos para poder sonhar o que quiser, o quanto isso
poderia distanciá-lo da realidade?
O
herói da história se chama Uchida, um estudante gênio. Ele tem um problema:
quando dorme, não consegue ter bons sonhos. Ele é apaixonado pela amiga e
colega de classe, Akari Fukami, mas, toda vez que se declara para ela, leva um
fora. Sonhar que está fazendo amor com ela, então, é quase impossível. Mas,
mesmo assim, os dois vivem conversando, embora Akari deixe claro que ambos são
apenas amigos, nada mais.
Foi
para resolver tal problema que Uchida, que, apesar do jeito “loser” é um rapaz bondoso
e cheio de ética, criou um aparelho capaz de controlar a mente e, assim, ter
sonhos bons.
Bão,
interrompendo um instante, pode parecer loucura, mas, há algum tempo atrás,
cientistas japoneses estavam realmente tentando criar um aparelho que
permitisse ao usuário ter o sonho que quiser. Parece que não foram bem
sucedidos. Li numa edição da Veja, há pouco mais de dez anos. Será que Cuvie se
inspirou nessa notícia para desenvolver o argumento de NIGHTMARE MAKER?
Voltando
à história. O aparelho parece, a princípio, não funcionar direito – a cobaia
era o próprio Uchida. Nesse ínterim, ele resolve testar o aparelho em outras
pessoas – e elege gente da sua escola para o experimento.
A
primeira cobaia do experimento é a enfermeira Chino, uma mulher sensual e aparentemente
bondosa. E ela acaba sonhando e deixando aflorar um desejo secreto: transar com
alunos da escola, em grupo. Mais tarde, Chino acaba viciando na experiência.
A
segunda usuária da máquina é Waki Matarai, uma estudante de saúde frágil e muito
inteligente, mas que sempre fica atrás de Uchida. Mais que inveja, ela sente
uma paixão secreta pelo garoto – tanto que, em seu primeiro sonho com a
máquina, “emprestada” da enfermeira Chino, está transando com ele. Matarai
acaba, pouco depois, se transformando meio que na vilã do mangá. Já digo por
quê.
O
terceiro teste é com o colega de sala de aula Takaya, que no momento se
encontra deprimido por ter levado um fora da garota de quem gostava, Kana.
Takaya, sob influência da máquina, sonha que Kana está em seus braços – e
também acaba viciando no aparelho.
Pouco
tempo depois, a fama da “máquina dos sonhos” se espalha pelo colégio, e vários
estudantes começam a pedir o aparelho para Uchida. Claro que o garoto montou
vários desses aparelhos, e quer usar os dados obtidos com as experiências para
aperfeiçoar o invento, que infelizmente sempre se volta para si mesmo. A maior
parte dos sonhos das cobaias são desejos pervertidos, rapazes e moças que
sonham estar fazendo sexo com pessoas que gostam, em locais proibidos ou nos
quartos das casas. O que já justifica as cenas de nudez e sexo semiexplícito
presentes no mangá. O problema é que, com o uso contínuo, os usuários começam a
viciar no mundo dos sonhos, e consequentemente se alijar da realidade. Vários
usuários começam a faltar às aulas, para ficar em casa dormindo e sonhando,
perdendo o senso de realidade – já que esta é, na maior parte das vezes,
estúpida e cruel para com as pessoas boas.
A
mais preocupada com a fama de Uchida é Akari. A personagem, depois de Uchida, é
a mais cativante do mangá. Com uma personalidade realista e o semblante quase
sempre triste, e um jeito de estar perdida no meio da confusão. Afinal, ela já
tem uma vida difícil: o pai é um escritor alcoólatra, e a mãe é viciada em
compras, portanto sua vida familiar está um inferno. Mas, apesar de Uchida
estar fazendo tudo por ela, a moça insiste em recusar seus pedidos de namoro. E
ela ainda usa a desculpa de “ir ao mercado aproveitar uma promoção” para se
afastar dele. Os leitores certamente acabarão torcendo para que os dois fiquem
juntos no fim.
Akari
se preocupa com o fato de a máquina estar causando o alijamento da realidade
dos estudantes – e Uchida sente que a máquina, na verdade, é prejudicial. Para
agradar Akari, Uchida se propõe a quebrar os aparelhos que montou, na frente da
garota. Porém, acaba descobrindo, ao ver os pedaços da máquina, que o aparelho
foi copiado, pois há componentes que ele não usou.
A
responsável pela clonagem e por “aperfeiçoamentos” no aparelho é Watarai. Com o
uso do aparelho, a antes frágil mocinha se transforma em uma pessoa
maquiavélica e até cruel, com intenções nada legais. Apaixonada por Uchida, ela
tem entre seus planos envenenar as relações entre o garoto e Akari, e
naturalmente tirar o moça de seu caminho. Usa, para isso, a visão distorcida
das relações entre ambos.
Em
uma conversa com Uchida, na qual tenta seduzir o rapaz, acaba revelando uma
modificação feita no aparelho: conectado à televisão, permite televisionar os
sonhos das pessoas. E já começa a usar o recurso para envenenar a relação entre
Uchida e Akari, revelando supostos desejos “secretos” da moça – que, aliás, nem
é usuária do aparelho, ou melhor, só usa o aparelho uma vez, e contra sua
vontade, e não gosta nem um pouco da experiência. E ainda espalha fotos de
Akari em situações comprometedoras pela escola, tiradas diretamente dos sonhos
de um dos estudantes que também é apaixonado por ela. Felizmente, Uchida
consegue fazer com que todos acreditem que as fotos são falsas.
Os
planos de Watarai são ainda maiores: usar o aparelho dos sonhos para mudar a
sociedade. Primeiro o colégio, depois o mundo. As pessoas que não prestarem à
nova sociedade ficarão presas no mundo dos sonhos, enquanto as que prestarem
permanecerão acordadas. Claro que a visão de mundo distorcida de Watarai
esconde intenções ruins. Porém, Uchida concorda em continuar construindo
aparelhos, e se torna “sócio” de Watarai no grande plano – mas tendo ideias
próprias, por isso finge concordar com os ideais de Watarai.
A
partir de então, os sonhos dos usuários da máquina são monitorados por
computador. E o número de usuários se torna crescente. E crescem também os
casos de gente viciada no mundo dos sonhos, e que acabam tendo uma visão
distorcida da realidade por conta disso. É o caso de Tateyama, colega de classe
de Uchida, que também é apaixonado por Akari. De personalidade tímida, vive
sendo espezinhado por um grupo de delinquentes. E não consegue lidar nem com o
sonho, nem com a realidade. Por isso, Watarai o usa em seus planos para
envenenar a relação amistosa entre Uchida e Akari.
O
uso da máquina dos sonhos faz as coisas ficarem fora de controle: Chino já não
se contenta mais em transar com alunos nos sonhos, e leva a sua tara para a
realidade: começa a transar com alunos, aos grupos, na enfermaria da escola. Um
desses estudantes é Sawada, rapaz apaixonado pela enfermeira. Uma estudante,
apaixonada por um professor, acaba sendo estuprada por rapazes enquanto está
usando a máquina – e não sabe se o que lhe aconteceu foi sonho ou realidade. Já
o tal professor, que sente atração pelas alunas, até usa o aparelho, mas
consegue resistir à experiência – e, íntegro e preocupado, é um dos principais
defensores da destruição das máquinas.
Enquanto
isso, Akari está sendo ameaçada. Um grupo de delinquentes, os mesmos que
atormentam Tateyama, chegam a ameaçar a moça. E ela é quase estuprada por
Tateyama, mas é salva pelo pai.
Nessa
situação, as reviravoltas começam a acontecer: o pai de Akari, depois de usar a
máquina, começa a parar de beber, após ter um pesadelo – com isso, a moça
começa a vislumbrar esperanças na sua vida. Tateyama mostra sua força e engana
Watarai, atraindo-a para uma armadilha, fazendo-a ser estuprada pelos
delinquentes. Sawada, preocupado com Chino, começa a defende-la do risco de ser
demitida, caso suas taras venham à tona. E Uchida começa, aos poucos, a
reverter os estragos que fez. Tudo, naturalmente, por Akari. Mas, se afinal, a
máquina funcionar nele, saberia ele lidar com o limite entre sonho e realidade?
Cada
personagem apresentado tem um drama pessoal, e como os fatos apresentados
afetarão suas vidas, seus relacionamentos. Temas fortes, como o estupro, não
são mostrados de forma excessivamente amenizada, tampouco sugerem que as
vítimas sentem prazer com isso. E, repito: é muito difícil não torcer para que
Uchida de Akari se entendam no final.
A
arte de Cuvie é refinada e sensual, embora seus personagens sejam um pouco
desajeitados. Em se tratando de ero-comedy, claro que todas as personagens femininas são bonitas e tem corpo perfeito - isso se você desconsiderar Akari, que tem seios pequenos. As cenas de sexo são no melhor estilo das ero-comedies, os
genitais dos personagens nunca são mostrados, ficando apenas a sugestão. O
único recurso para se saber se uma determinada cena se passa no plano dos
sonhos ou da realidade é o contorno dos quadrinhos: na realidade, os contornos
são pretos e lisos, no sonho, são duplos e com um espaço em branco entre as
linhas pretas. Mas, em alguns momentos, os próprios leitores terão dificuldade
de distinguir quando uma determinada cena é sonho ou realidade. Cuvie, na minha
opinião, ganharia mais pontos se mostrasse o mundo dos sonhos mais onírico,
mais surreal, com cenários distorcidos, objetos voadores... ao que parece, os
japoneses não possuem a mesma percepção ocidental do mundo dos sonhos, ou Cuvie
não estudou sobre o movimento surrealista na escola.
O
roteiro é bem estruturado nas edições iniciais, mas nota-se uma perda de
controle no enredo nos volumes seguintes, com diálogos que soam repetitivos e
uma letargia para resolver as tramas. E nem ao menos se preocupa em detalhar o
dia-a-dia de Uchida, cuja inteligência parece que só foi voltada à criação do
aparelho e a reverter as situações de perigo. Ele bem que poderia ter criado
outras máquinas, acentuando assim seu papel de estudante gênio. Cuvie nem se
preocupa em tentar explicar como a máquina funcionaria, dando um pouco mais de
verossimilhança ao mangá. Nem explicações sobre o funcionamento da mente.
Afinal, colocar explicações científicas em um mangá erótico o deixaria mesmo
muito chato. E muita gente vai achar o final da série decepcionante – a gente
espera tanto para saber como vai terminar e vê que saiu algo muito diferente.
Mas fazer o quê.
O
volume 1 ainda inclui duas historinhas curtas, one-shot, de Cuvie, O Mundo é
Todo Seu, uma história sobre o conflito entre dois meios-irmãos, e Equilíbrio, sobre a paixão descontrolada
entre dois colegas de classe.
Cada
volume, separado, tem como preço de capa R$ 12,90, se quiserem procurar um por
um; também há a opção de procurar o box com as seis edições a R$ 77,40. Ah: a
Nova Sampa também já disponibilizou um box contendo Hakoiri e Tarareba.
Bão,
é isso.
Para
encerrar, tem mais Pequenos Relatos, minha seriezinha de erotismo softcore.
Nesta historinha aqui, eu quis homenagear NIGHTMARE MAKER, criando um pequeno
enredo que evoca a temática do mangá de Cuvie. Até que gostei, e vocês? Penso
nestes personagens como versões pessoais e levemente alteradas do casal Uchida e Akari – afinal, a
torcida para que Akari finalmente aceite namorar Uchida é o que motiva a
leitura de NIGHTMARE MAKER até o fim.
Na
próxima postagem, para encerrar o ciclo, um último anime hentai.
Até
mais!
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