Olá.
Hoje,
outra vez vou falar de quadrinhos – nestes dias, entre fim de janeiro e início
de fevereiro, o mercado está compensando o tempo em que esteve “desregulado”
por conta das festas de fim de ano, por isso que foram os dias de compras.
Entre essas compras, uma que a gente certamente não esperava.
Quem
acessa as redes sociais pode encontrar, inesperadamente, tiras de quadrinhos
interessantes. Uma das grandes revelações do Facebook, em tempos recentes, é a
tira Armandinho, de Luciano Beck,
que, com o sucesso que fez, já ganhou quatro compilações impressas.
Mas
vou falar hoje de outra grande revelação do Facebook, que ganhou sua compilação
de tiras neste início de 2015. Hoje vou falar de EDIBAR.
Criação do paranaense Lúcio Fabiano de Oliveira, EDIBAR é um dos grandes sucessos das tiras brasileiras divulgadas pelo Facebook (www.facebook.com/edibardasilva). Diariamente, as tiras do personagem ganham várias curtidas e compartilhamentos, e além de fãs no Brasil, EDIBAR também tem fãs em Angola, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. E, agora, EDIBAR ganha sua primeira compilação impressa de tiras. Pela editora HQM, que atualmente tem como carro-chefe de sua linha editorial a série The Walking Dead, do estadunidense Robert Kirkman.
Natural
de Apucarana, Paraná, Lúcio Oliveira atualmente reside em Natal, capital do Rio
Grande do Norte, mas também já residiu e trabalhou na Inglaterra. Desenhista
desde criança, com passagens como metalúrgico e professor de desenho técnico no
Sesi e no Senac de Apucarana de 1992 a 1997, ele se inspirou em um fato
acontecido em uma igreja da cidade natal para compor EDIBAR, seu personagem
mais divulgado: um bêbado descabelado e maltrapilho que entrou por uma porta
lateral do templo, acendeu o cigarro numa vela do altar, discursou para os
atônitos ouvintes no microfone, sem o padre se dar conta, e saiu pela mesma
porta. Foi, segundo o autor, o “tilt” para compor o personagem, que ganharia o
nome pouco depois. O sucesso na internet e a ampla divulgação em jornais e
revistas do Brasil, chamou a atenção dos editores da HQM, que propuseram a
publicação de uma coletânea.
EDIBAR,
o álbum, compila as tiras publicadas de 2012 a 2014, em 96 páginas – sem contar
capa – e com prefácio do jornalista Marcelo Alencar.
E
fazia tempo que a HQM não publicava mais quadrinhos brasileiros, hein! Há
tempos atrás, a editora publicou, entre outras coisas nacionais, os gibis de Senninha e Xaxado, um álbum do Necronauta
de Danilo Beyruth e os álbuns Zoo, Carcereiros
e Natureza Humana, de Nestablo
Ramos Neto. A editora atravessou um período de instabilidade editorial, e
consequentemente muitos de seus títulos sofrem atraso nas bancas. Em tese, os
gibis de The Walking Dead deveriam
ser quinzenais, mas os dois números mensais chegam às bancas quase que
bimestralmente. Já os álbuns da mesma série ainda são lançados de tempos em
tempos, à média de três ou quatro álbuns por ano. Os títulos de HQs da Valiant
Comics, outra publicação a que está se dedicando, também chegam com muito
atraso.
Bão,
vamos falar do EDIBAR agora.
O
personagem principal da série, e que lhe dá nome, é um boêmio na melhor
tradição dos quadrinhos. Edibar da Silva, seu nome completo, se junta aos
clássicos Pafúncio, de George McManus,
Zé Fumaça, de Billy de Beck, Zé do Boné, de Reg Smythe, Radicci, de Carlos Henrique Iotti e Rê Bordosa, de Angeli, só para ficar nos
exemplos mais conhecidos dos quadrinhos etílicos.
Bêbados
sempre rendem piadas, já que o álcool pode, em excesso, mudar a percepção de
qualquer pessoa. Com EDIBAR não é diferente. O homem, feio, estrábico,
barrigudo e com um dente para fora da boca, passa boa parte do tempo ou tomando
cerveja em casa, ou nos bares – principalmente no bar do Bigode – bebendo com
amigos, entre eles o fiel parceiro Zé Manguaça.
E
motivos para beber e ficar com a latinha de cerveja na mão ele tem. Afinal, o
cara é casado com a feiosa Edimunda, que, quando não está batendo no marido
sem-vergonha, está tentando seduzí-lo, sem sucesso. E ainda recebe constantes
visitas da sogra, Ana Conda, jararaca na melhor tradição das sogras. E seu
emprego fixo – em tese – é de motorista de caminhão limpa-fossa. E, nas tiras,
ainda temos, além de Edimunda, Ana Conda, Bigode e Zé Manguaça, a presença do
cachorro de Edibar, Gole, que sofre porque o dono é frequentemente mandado,
pela esposa, dormir na sua casinha; de um sobrinho, que vive recebendo lições
erradas do tio, do vizinho Gilson, do qual Edibar vive “chupando” o sinal de
internet wi-fi, dos pais do manguaceiro, os velhos Edipai e Edimãe, e até de um
primo do interior, o Edi Roça.
E
EDIBAR não está nem aí para o politicamente correto: vive fazendo comentários
indesejáveis para a mulher, a sogra e os amigos, é metido a machão, vive
traindo a esposa ou com as vizinhas, ou com as empregadas, ou com prostitutas,
insiste em dirigir bêbado, distorce as recomendações médicas, está sempre
encontrando um pretexto para beber... é uma espécie de reação a um mundo que,
de tanto pregar a correção política, anda “careta” demais (felizmente, o livro
não tem piadas racistas ou ironizando a política). Mesmo assim, o cara é
carismático, divertido e atinge os mais variados tipos de público-alvo. Não é
muito diferente daquele nosso tio manguaceiro, ou do nosso pai beberrão... Sempre
podemos encontrar um tipo como EDIBAR nos caminhos desta vida, mesmo que nunca
frequentemos um bar.
O
desenho caricatural e detalhado é o melhor das tiras, pois, na parte das
piadas, o que Lúcio Oliveira mais faz é dar nova roupagem a conhecidas anedotas
muitas vezes contadas e recontadas. A vida boêmia do Edibar é quase toda feita
de piadas de bêbado; sua relação com Edimunda é feita de piadas de marido e
esposa, quase sempre terminando com Edibar tendo de dividir a casinha de
cachorro com Gole, ou machucado e levado ao hospital por ter feito um
comentário inoportuno às perguntas da esposa; Edimunda, aliás, reconta piadas
de mulher feia; já o conflito entre Edibar e Ana Conda “requenta” as piadas de
sogra, afinal, que homem casado não desenvolve, em algum momento, um certo ódio
pela intromissão da sogra? Os pais do Edibar garantem nova roupagem às piadas
de velhos caquéticos; e o leitor ainda vai reconhecer piadas de travesti, de
vizinhos, de gênios da lâmpada, de crianças feias, de fofoqueiras, de pescaria,
de médicos, de caipiras... Tudo no modelo da gag rápida, a situação terminada
em até quatro quadros, sem calhas (espaços entre quadrinhos), aliás. Por isso,
as tiras dão a sensação de serem comprimidas em um espaço menor que o normal,
menos largas e mais altas. Em algumas páginas, há piadas em estilo cartum, de
apenas um quadro. Mas o traço de Lúcio Oliveira garante que, mesmo apoiadas em
velhas anedotas, as tiras sejam engraçadas, e o riso como remédio nesses tempos
de aumento de impostos, governos que enganam seus eleitores e atentados
terroristas. E com as “participações especiais” de Batman e Grazi Massafera.
O
álbum custa R$ 24,90, e está à venda em bancas de revistas, livrarias ou pelo
site da HQM (www.hqmeditora.com.br).
Aprecie sem moderação. Mas se for dirigir não beba, e vice-versa.
Para
encerrar, já que falamos de livro de tiras, vou deixar aqui as tiras do meu
personagem gaúcho, Teixeirão. Estas dão continuidade ao mais recente arco do
personagem, “A irmandade do chimarrão” publicadas até por volta destes dias. E
estou na corrida para produzir mais antes que o estoque se esgote.
Confiram
estas e outras tiras do meu gauchão em http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/.
Ah: também são divulgadas no meu Facebook, assim como as tiras de Letícia e
Bitifrendis. Deem uma curtida pra me ajudar, por favor.
É
isso aí por enquanto.
Até
mais!
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