domingo, 1 de fevereiro de 2015

MIRACLEMAN - Parte 2: o maior desafio agora será ficar

Olá.
Na última postagem, contei a vocês a história de Marvelman / Miracleman, o super-herói inglês que foi criado em 1954 por Mick Anglo, baseado no Capitão Marvel da editora norte-americana Fawcett. O personagem acabou ficando no limbo por muitos anos, várias vezes, até que, em 2009, após uma série de ações judiciais, a Marvel Comics compra os direitos do personagem. E, em 2014, já começou a relançar o personagem.

Os gibis de Miracleman estrearam nos EUA em janeiro de 2014, e começaram a chegar ao Brasil em dezembro do mesmo ano. Naturalmente, pela Panini Comics, que atualmente detém, no Brasil, várias franquias de sucesso das HQ: os catálogos da Marvel e da DC (incluindo os selos Marvel Max e Vertigo), a Turma da Mônica e vários mangás célebres (incluindo os da revista Shonen Jump).
E os gibis de Miracleman ainda chegam com muito mais do que a gente esperava. Além da saga clássica de Alan Moore e Gary Leach, publicada em capítulos na revista Warrior em 1982, também traz aventuras adicionais publicadas no gibi próprio do personagem nos anos 80 pelas editoras Pacific e Eclipse, e também aventuras clássicas do personagem, escritas e desenhadas por Mick Anglo, o criador do personagem. E ainda há páginas com os bastidores da série, como entrevistas, matérias, esboços dos desenhistas e muito mais.
Ah: como Moore só concordou com essa republicação se o seu nome fosse retirado dos créditos, nestes aparece como roteirista “O Escritor Original”, mas sabemos que é ele, conhecido encrenqueiro, que, de tanto tomar partido pela garantia dos direitos autorais dos quadrinhistas, está criando problemas para a indústria e as grandes editoras. Ele não faz como seu parceiro de revoluções, Frank Miller, que capitulou ao “sistema”.
Até o momento em que escrevo, já saíram duas edições, com distribuição setorizada (inicialmente nas bancas das capitais dos Estados e gibiterias, nas outras cidades cerca de um mês depois). E permitam as entidades superiores que a série seja republicada até o fim!

MIRACLEMAN #1
Novembro de 2014.
A primeira edição tem 68 páginas, e chegou com três opções de capa: a normal, uma variante (ambas a R$ 8,20) e uma especial, metalizada (R$ 13,90). (as ilustrações das capas variantes, abaixo, tiveram de ser extraídas da internet, já que nem todos os pontos de venda receberam as três variações).
Ela começa com um prólogo, publicado em Miracleman 1 (1985), 1956 – Os Invasores do Futuro, de Mick Anglo (argumento) e Don Lawrence (desenhos). Em uma trama muito ingênua, a Família Miracleman – Miracleman, Jovem Miracleman e Kid Miracleman – em 1956, precisam conter uma horda de ditadores vindos dos anos 80, em máquinas do tempo, para tentar dominar o passado. O leitor pode constatar desde já que, para resolver as tramas, que começam com bons argumentos, Anglo, o criador do personagem, fazia uso de soluções forçadas e pouco criativas. Entretanto, a página final deste capítulo já se tornou clássica: uma sequência de oito quadros em que a “câmera” da HQ se aproxima lentamente do olho de um Miracleman sorridente, enquanto nas legendas passa um texto do filósofo Friedrich Nietzsche. Após, o gibi traz os dois primeiros capítulos da saga Sonho de Voar, da revista Warrior (#s 1 e 2), por “Escritor Original” e Gary Leach, mostrando Micky Moran, no primeiro capítulo, numa vida nada invejável, sofrendo com dores de cabeça, até que, durante um assalto em uma usina nuclear, ele recorda da palavra mágica que o transforma em Miracleman; e, no segundo capítulo, o herói, já recordando de seu passado, coloca a esposa a par de tudo o que aconteceu com ele até 1963, quando perdeu a memória. O texto da aventura é desnecessariamente verborrágico e prolixo, com grande quantidade de texto nos balões e caixas de texto, mas a arte sombria e realista de Leach é o melhor da narrativa, conseguindo “espremer” os fatos escritos pelo “Escritor Original” nas exíguas de oito a seis páginas de cada episódio. A seguir: página de bastidores, com os esboços de Gary Leach; um breve relato sobre a origem do Marvelman, que depois seria chamado de Miracleman; e uma entrevista com Mick Anglo, conduzida por Joe Quesada – então editor chefe da Marvel Comics – em 2010, um ano antes do falecimento do criador do Marvelman / Miracleman. E, para encerrar, três aventuras clássicas de Marvelman, em preto e branco, todas com roteiro e desenhos de Mick Anglo: Marvelman e o Bombardeiro Atômico e Marvelman e o Radioisótopo Roubado, ambas da primeira edição do personagem na Inglaterra (Marvelman # 25 – continuando a numeração do antigo gibi do Capitão Marvel), e Marvelman e os Reflexos Roubados (Marvelman # 32). Todas estas aventuras, apesar de ingênuas e terem soluções forçadas, afirmam as ligações entre Marvelman e a ciência. Para começar, está ótimo.

MIRACLEMAN #2
Janeiro de 2015
O gibi, de 52 páginas e preço reduzido (R$ 7,50) começa com mais dois capítulos da saga de “Escritor Original” e Gary Leach, da revista Warrior. Em Quando Johnny à Casa Torna... (Warrior #3), Micky Moran e a esposa, Liz, recebem o convite para visitar a empresa comandada por Jonathan Bates, o ex-Kid Miracleman, que viu pela TV o ressurgimento do Miracleman. Constatando alguma coisa errada, Micky decide testar Bates – e descobre que ele não perdeu os poderes. E, em Dragões (Warrior #5), inicia-se a violenta batalha entre Jonathan Bates, que se transformou em um assassino sádico e superpoderoso, e o Miracleman, depois que aquele ameaça Liz e o herói. A violência já começa a ser a marca da nova vida do Miracleman. Como uma espécie de interlúdio, em seguida temos O Ardil do Passado (Warrior #4), roteiro do “Escritor Original” e arte de Steve Dillon, Alan Davis e Paul Neary. Nela, Miracleman e outro herói da revista, o Ferreiro Cósmico, fazem uma viagem ao passado para o herói lutar contra ele mesmo no passado – em diversos momentos da história – e acumular energia suficiente para poder enfrentar Jonathan Bates. Até aqui, a edição é a mais pessimista, mas deixando os leitores na expectativa pelo que vem a seguir. Depois da página de bastidores, com mais esboços de Leach e pin-ups de outros artistas, mais duas aventuras clássicas do Marvelman: em O Nascimento de Marvelman, (Marvelman #65), roteiro e desenhos de Mick Anglo, é contada a origem do super-herói, desde que o cientista Guntag Barghelt descobre a palavra-chave do universo até decidir repassá-la para o jovem Micky Moran; e Apresentando Kid Miracleman (Marvelman #102), roteiro de Anglo e desenhos de Don Lawrence, é a primeira aventura do Kid Miracleman, Jonathan Bates, então um garoto de sete anos e ainda do lado dos mocinhos. Pueril é a palavra certa para definir esta segunda narrativa.

O Brasil estava esperando esse momento: a oportunidade de finalmente ler na íntegra (se as entidades superiores permitirem) a saga completa do Miracleman de Alan Moore. E aqui, no Estúdio Rafelipe, eis aqui uma nova resenha mensal. Esperamos que tudo dê certo, e eu possa resenhar este gibi novo todos os meses!
Para encerrar, a minha interpretação da Família Marvelman. Esperamos que, na próxima edição, falem algo a respeito do Jovem Miracleman. E, tudo bem, podem falar que minha ilustração ficou uma droga. Vamos, podem falar.
Aguardem novidades para 2015! Fiquem com a gente!

Até mais!

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