Olá.
Continuando
minha série de postagens sobre mídias eróticas japonesas, hoje vou falar de
mangá erótico. E este é “das antigas”, publicado na primeira década do século
XXI. Mais ainda: sua autora é uma mulher!
Hoje,
vou falar de INU NEKO.
INU NEKO (numa tradução livre, cão e gato), de Kyo Hatsuki, foi publicado no Japão em 2004, em volume único, pela editora Kadokawa Shoten. No Brasil, foi publicado em três volumes meio tankoubon pela editora JBC, em 2007. Ou melhor, um terço de tankoubon. E, como é “das antigas”, INU NEKO foi impresso em papel jornal e tamanho pequeno (12,5 x 17,5 cm), diferente dos atuais mangás da JBC, em papel ofício e medidas maiores (em média 13,5 x 20 cm).
Kyo
Hatsuki, nascida a 6 de dezembro de ano que ela mantém em segredo, é uma autora
aclamada no Japão e bastante conhecida no Brasil. Sua obra-prima, a série Love Junkies, foi publicada entre 2000 e
2008, e rendeu 26 volumes. No Brasil, Love
Junkies foi publicado, a partir de 2003, pela mesma editora JBC, em 52
volumes meio tankoubon. Mas a obra de
Hatsuki, erótica mas sem banalizar o sexo, e com um belo desenho, é mais vasta.
Inclui ainda títulos como Sex Crime e
Quo Vadis, e mais obras assinadas sob
o pseudônimo de Naizo Kudara. Hatsuki é a líder do Atelier Ça Va, um estúdio de
criação de mangás eróticos formado apenas por mulheres. Em 2012, a editora Nova
Sampa publicou o volume único de outra obra de Hatsuki, Tarareba, entretanto este mangá não contém o erotismo típico de
suas outras histórias. De Love Junkies e
Tarareba, falo em outra ocasião.
O
segredo do sucesso das ero-comedies (comédias
eróticas) de Hatsuki reside muito no fato de Hatsuki ser uma mangaká
(desenhista de mangás) feminina. Logo, ela não banaliza o sexo (com os
indispensáveis “borrões” nas partes pudendas dos personagens durante o ato
sexual, comuns nos mangás adultos de respeito), amarra as suas tramas com boas
doses de humor e drama, em tramas envolventes e com personagens carismáticos e
psicologicamente definidos. E tudo balizado com um belo e detalhado desenho.
INU NEKO é um bom resumo de tudo isso.
Claro
que, devido ao teor de suas obras, dificilmente os mangás de Kyo Hatsuki saltam
para outras mídias. INU NEKO, porém, ganhou uma adaptação para cinema, em
live-action (com atores) em 2009, dirigido por Satoshi Kaneda.
Bem.
INU NEKO conta a história de um inusitado triângulo amoroso, entre três pessoas
de personalidades diametralmente opostas. Tais personalidades também se
refletem nos bichos de estimação de cada um. E, um dia, essas personalidades se
cruzam de um modo insólito.
Toraichi
Kanda, um estudante do ensino médio, é uma pessoa séria, porém um pouco pervertida
como todo adolescente na puberdade. Seu dia-a-dia é agitado: o pai é dono de
uma academia de artes marciais, e a mãe é atendente de uma boate – por isso,
sua aparência é doentia e seu decote é generoso. Ainda por cima, o rapaz precisa
suportar as investidas da prima, Makino Aoi, uma menina espevitada, rebelde e
louca pelo rapaz.
Entretanto,
o coração de Toraichi já “pertence” a outra pessoa: a professora de ciências,
Sachi Hoshikawa. A mulher de 25 anos, apesar de possuir um belo corpo, é uma
pessoa muito tímida, recatada e evita contatos com homens. Que diferença de
Makino, que, por saber da tara do primo pela professora, a odeia e faz de tudo
para atrapalhar sua aula. Não admite que o primo fique encantado com uma
“coroa”.
As
personalidades de cada uma se refletem nos bichos de estimação, como eu disse:
Sachi, recatada, fortemente submissa aos pais autoritários e que fica vermelha
só de ouvir falar em sexo, cria um cachorro, chamado Trump, e por isso é fiel e
dedicada como um cão. Makino, que cria um gato, Kukoupon, tem a personalidade
forte e independente de um gato: mora sozinha em um apartamentinho desde a
morte dos pais (mas passa boa parte do dia na casa de Toraichi), histriônica, fala
o que pensa na lata e está sempre mostrando a calcinha por baixo da saia.
Toraichi é meio que um simples espectador de tudo isso: ele vê Makino como uma
irmã (por isso, a menina vive chamando o primo de “maninho”, a tradução
aproximada do termo “onee-chan”), não está nem um pouco interessado nas
investidas dela (que vive gritando o seu amor por Toraichi a plenos pulmões),
só se interessa por mulheres de seios grandes – como Sachi – mas sabe ser educado
e confiável. Ah: ele cria um par de hamsters. Mas os bichos dele não tem a
menor importância para a história.
Um
dia, Toraichi e Makino acabam tendo uma “séria” discussão em sala de aula, e na
frente da professora – por isso, os três acabam na diretoria. Mais tarde,
Sachi, preocupada com as atitudes dos adolescentes, e como boa educadora, faz
uma visita para a família Kanda, conversar com os pais do rapaz. Mas, além que
a professora fica incomodada com o decote e a personalidade forte da Sra.
Kanda, ainda precisa ouvir o próprio Toraichi se declarar para ela. Ele não se
contém, ao ouvir a conversa das mulheres, e sob nova investida de Makino. E
isso só serve para deixar a pobre professora ainda mais perturbada, e Makino
ainda mais furiosa com o “maninho”.
Sabedora
de que as chances de ficar com o “maninho” são muito reduzidas pelo fato de ter
seios pequenos, um dia Makino resolve aceitar o conselho da colega de sala,
Sato, e arranjar um emprego para juntar dinheiro e colocar silicone nos seios.
E vai trabalhar na mesma “empresa” onde a amiga trabalha. O problema é que o
emprego de Sato é em... um prostíbulo. Uma casa de acompanhantes, para aliviar,
no bairro comercial de Kita Shinchi, uma espécie de “zona” de Tóquio. É claro
que tal coisa deixa a menina, ainda virgem, encabulada, apesar das garantias
que ela não chegará a transar.
O
problema maior: na ocasião em que começa a “trabalhar”, Makino é seguida pela
professora Sachi. Ao ver a menina entrando no prostíbulo, fica paralisada só de
perceber o lugar – e, em estado catatônico, é empurrada para dentro e posta
para “trabalhar” em um maiô de “racing queen” (as mulheres que embelezam as
corridas de automóveis). Toraichi também se encontra no bairro, e, ao perceber
a presença das mulheres, segue-as ao prostíbulo. E é posto no quarto onde está
Sachi.
No
momento, Makino está “atendendo” um rapaz gordo pervertido, que está prestes a
estupra-la, mas é “salva” por Sachi e Toraichi, que ouvem seus gritos e,
acidentalmente, derrubam a divisória do quarto. Os três fogem para o terraço do
prédio, mas, numa série de confusões, Makino quase cai do prédio e vê sua vida
passando diante de seus olhos, mas é salva por Sachi. Mas, ainda assim, as dias
caem do prédio, felizmente em cima de uma caminhonete de jornais, e não se ferem.
É aí
que a coisa começa a ficar divertida: as duas mulheres desmaiadas são levadas para
a casa de Toraichi, e, quando acordam... descobrem que, de alguma forma, ambas
trocaram de corpo. Isso aí: a personalidade de Makino passa a ocupar o corpo de
Sachi e vice-versa. Então, agora a garota passa a ter a personalidade tímida e
recatada e uma expressão facial fechada, enquanto a mulher passa a ter a
personalidade histriônica e atirada, e um jeito debochado – até abandona os
óculos. Sachi/Makino não gosta nem um pouco da história; Makino/Sachi, sim.
Viver
a vida uma da outra vai ser difícil. Principalmente porque as reações diante
dos bichos de estimação uma da outra mudam muito: enquanto Sachi é alérgica a
gatos, Makino tem trauma com cães. Agora, Makino/Sachi tem de se acostumar a
passear com o cachorro, enquanto Sachi/Makino mal pode tocar o gato sem ter uma
reação alérgica.
E,
com a troca de corpos, é claro que Makino/Sachi vai se aproveitar, agora que
tem seios grandes, para seduzir o “maninho” Toraichi. Resolve revolucionar:
coloca uma roupa mais “escandalosa” e resolve faltar à aula para se divertir
nas boates. Mas, na primeira noite, quase se dá mal: flerta com um homem que
tenta fazer sexo com ela à força – o pior é que esse homem é ligado ao passado de
Sachi, e o grande responsável pelo seu trauma com homens.
Sachi/Makino,
no papel de uma estudante, continua em sua vida de recato e timidez, e se
horroriza com a ideia de ver Makino/Sachi usar seu corpo para “coisas ruins”,
mas, desta vez, conta com a ajuda de Toraichi para tentar superar seu medo de
ser tocada. O rapaz se mostra uma pessoa na qual a professora pode confiar. Mas,
bem nesse momento, Makino/Sachi chega de sua experiência ruim. Entretanto,
apesar de alguns desentendimentos iniciais, as duas começam a se entender.
Bem,
é preciso que se diga que Makino também foi vítima de uma experiência ruim no
passado – ela perdeu os pais em um acidente de avião, e se culpa por isso
porque fora ela que juntou dinheiro para dar as passagens de avião de presente
para eles. Como a única pessoa com que contou naquele momento difícil para se
consolar foi Toraichi, foi daí que nasceu a paixão pelo primo – e a decisão de ficar
com ele a todo custo.
É aí
que Sachi/Makino faz uma proposta a Makino/Sachi: se esta conseguir encarnar
perfeitamente uma professora, como ela era, terá o direito de namorar Toraichi.
E, desse modo, Makino/Sachi resolve se esforçar para se parecer com a
professora, enquanto Sachi/Makino parece bem à vontade como estudante que, de
repente, virou gênio.
Mas
tudo fica ainda mais “quente”, porque Sachi/Makino se apaixona por Toraichi, à
medida em que conhece melhor o rapaz. E este revela, sem querer, que os
sentimentos pela professora são, na verdade, muito além dos seios grandes, como
Makino insinuava: é apaixonado pela personalidade da professora.
Bem,
e aí, como termina? Será que ambas encontrarão um jeito de destrocar os corpos?
Ou vão se acostumar às suas novas vidas? Bem, só lendo para saber. Mas talvez o
mais grave defeito de INU NEKO é ser muito curto – algo que a própria Hatsuki
lamenta. Se tivesse mais volumes, possivelmente ela teria explorado mais tramas
paralelas, mais possibilidades. Mas, com o pouco que teve, ela conseguiu fazer
um mangá leve, sensual, engraçado, agradável de ler apesar das cenas de nudez e
sexo. Quer dizer, as cenas de sexo são mais raras, mas as de nudez são mais
frequentes. O público ocidental ainda não está totalmente preparado para
entender a cabeça dos japoneses, por mais mangás que leiamos e animes que
assistamos.
Oh:
não percam ainda, no final do terceiro volume, as tirinhas de Hatsuki e suas
assistentes Ton e Nekozeinu (pseudônimos), contando de forma cômica pequenos detalhes
da produção do mangá, como a do cachorro que inspirou o Trump!
Bem,
atualmente, para ler INU NEKO, só procurando nos sebos e nas gibiterias, porque
está esgotado. A menos que a JBC resolva republicar este mangá em edição
especial, agora que seus mangás estão sendo publicados em papel novo e medidas
maiores. Mas, pelo menos para mim, foi um bom investimento. Vocês não vão se
arrepender. Ah, lembrando sempre: em se tratando de um mangá erótico, não é recomendável para menores de 18 anos.
Para
encerrar, vamos de mais Pequenos Relatos, minha série erótico-escandalosa. A
cada vez que produzo estas historinhas, vou ficando cada vez mais ousado,
apesar de me traço não se prestar a mídias eróticas – ainda mais pelo fato de
eu fazer tudo às pressas. Como esta historinha, baseada em um cartum publicado
na saudosa revista Chiclete com Banana – não
lembro o autor. Não é cópia, é baseado – a original tem apenas nove quadrinhos,
por exemplo.
Na
próxima postagem, mais mídias eróticas japonesas para quem quer passar longe da
euforia do carnaval.
Até
mais!
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